AS: Este artigo foi escrito terça-feira à noite, com o pressuposto de que o Presidente não vai dissolver o parlamento. Se entretanto Marcelo dissolver o parlamento, não vale a pena ler o artigo. 

Começou a guerra entre Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa, e o PM ganhou, pelo menos aparentemente, o primeiro combate. Costa percebeu que se não afirmasse agora o seu poder, seria um PM muito fraco, por duas razões. Em primeiro lugar, o PM seria um chefe de governo que demite os seus ministros quando o Presidente quer. É óbvio que um PM não pode permitir que isso aconteça. Marcelo tem falado muito em demissões, em dissolução da Assembleia, o que obviamente tem irritado António Costa. O PM também não se esquece do email do anterior secretário de Estado, Hugo Mendes, a dizer que o governo depende do apoio do Presidente. Costa quis provar que não é verdade, resolveu enfrentar Marcelo e mostrar o seu poder.

Mas nas declarações que fez depois do encontro em Belém, Costa também enviou mensagens claras a Pedro Nuno Santos. Costa nunca perderia tanto tempo a falar de um adjunto de um ministro se não estivesse convencido que o candidato a líder do PS ajudou a provocar esta crise. O antigo adjunto de Galamba era um homem de confiança de PNS. Quando o PM perdeu tanto tempo a falar de um assessor, estava a atacar PNS.

Pedro Nuno Santos quer mostrar que não era o problema do governo, e que os “casos e casinhos” resultam da incompetência de Costa. Só isso o pode reabilitar rapidamente para prosseguir as suas ambições políticas. A demissão de Galamba seria uma vitória para PNS e uma derrota para Costa. Por isso, o PM não o poderia permitir. O PS só pode ter um líder.

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Com a recusa da demissão de Galamba (obviamente, encenada), Costa reafirmou a sua autoridade política em relação a Belém, e mostrou quem manda no PS.

Esta vitória não significa que a vida será fácil para Costa. Galamba cometeu erros enormes e irreversíveis, e não é confiável. Será um enorme peso para Costa e um elo fraco do governo (mais um). Provavelmente, só ficará mais uns meses no governo e sairá quando Costa decidir fazer uma verdadeira remodelação, mas no seu tempo, e não quando os outros querem.

Marcelo irá fazer a vida ainda mais difícil para Costa. Não vai esquecer a humilhação e vai fazer tudo para se vingar de Costa. Aliás, começa já a vingar-se, não dissolvendo o parlamento. Como disse, é uma humilhação para Marcelo, sobretudo perante o país. Mas também é uma pequena vitória. Costa queria a dissolução e ir a eleições agora. Mas Marcelo não lhe vai dar esse presente. Será o novo normal em Portugal: se Costa quer, Marcelo não faz.

No fundo, está tudo normal nas relações entre os dois. O PM mostrou que é ele quem manda no governo e quem faz as remodelações. O Presidente mostrou que é Belém que decide quando dissolve o parlamento. Não é o PM.

E as patifarias que vão fazer um ao outro também serão normais, toda a vida fizeram maldades. Para o país, é tudo muito mau. Mas foram os portugueses que elegeram Marcelo e Costa, e mais do que uma vez. Não se podem queixar e têm que viver com as consequências dos seus votos. Também é normal em democracia.