Em plena pré-campanha eleitoral para as autárquicas a tónica que prevalece prende-se, maioritariamente, com a peleja entre aqueles que ainda são poder autárquico e querem continuar a sê-lo, mesmo que com outros intervenientes, e aqueles que os querem, pela via democrática, substituir.

A luta está patente nos gigantes outdoors, nos flyers que nos invadem as caixas de correio postal, na comunicação social e muito especialmente nas redes sociais que, fruto dos novos tempos pandémicos, são plataforma privilegiada para quase tudo.

Apresentados que estão os candidatos, por força de cumprimento de prazos para o efeito, aguarda-se a apresentação detalhada dos respectivos programas eleitorais e das consequentes intenções que a eles estão associadas. Posteriormente a isso, teremos como certo que irão ser agendadas diversas interlocuções, debates argumentativos bem como um longo e obrigatório périplo pelos mais recônditos locais pertencentes ás diversas freguesias, dos diversos concelhos deste pais.

O propósito primordial é só um: angariar votos e ganhar as eleições.

O propósito é o acto último de governar.

Mas poderá o acto de governar traduzir-se em governança?

Governança é um vocábulo com ampla utilização no âmbito da ciência política e está associado a uma forma de governação mais transparente, em que nada é deixado por explicar e onde existe um equilíbrio entre o Estado, a sociedade civil e a economia, seja ela local, nacional ou internacional.

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O exercício da governança determina, sem sombra para qualquer dúvida, a importância dada a um determinado território e isto é tão mais verdade quando falamos em territórios do interior do país, onde essa premissa do esquecimento parece ser deles quase que indissociável, carecendo por isso de uma inovadora forma de governar. As novas e boas práticas de governança constituem-se como força motriz para a implementação de políticas promotoras do desenvolvimento e coesão territoriais, desde que sejam circunstanciadas numa abordagem que possa valorizar e enaltecer o carácter endógeno dos recursos existentes no território, bem como os protagonistas locais, procurando a sua envolvência e mobilização, chamando-os à participação e à consequente integração de cariz colaborativo.

Esta emergente governança encara pois o território não como um mero espaço administrativo mas, ao invés, como um sistema dinâmico e complexo, onde, com a ajuda de agentes motivados e recursos territoriais apropriados, se pretende levar a efeito uma actuação capaz e concertada, onde a planificação possa vir a traduzir-se, efectivamente, na operacionalização de estratégias e na execução de medidas de suma importância e necessidade. Assim sendo, tudo conjugado, poderemos aduzir que as novas práticas de governança assentam na potenciação do alargamento da participação a agentes que sejam alheios ao chamado arco do poder. O propósito desse pressuposto será pois disseminar nas comunidades a quantidade de conhecimentos e informação necessária que lhes possa permitir o amplo conhecimento dos territórios que habitam, potenciando assim a apropriação do mesmo e podendo assim virem a ter uma palavra a dizer no processo inerente ao seu desenvolvimento.

Apesar das mais valias evidentes inerentes ao adequado exercício da governança, assente nos pressupostos ora elencados, difícil e infelizmente poderá esta vir a ser replicada e amplamente  executada na administração local.

A explicação para esta impossibilidade assenta, desde logo, nas incontornáveis amarras político-partidárias existentes e essencialmente na forma como se operacionalizam as escolhas do capital humano daqueles que se apresentam no palco político de cada município como protagonistas e que, depois de eleitos, serão os futuros decisores dos territórios.