A mudança de ciclo político e o início de funções de um novo governo, sobretudo depois de um governo tão incompetente e imobilista como foi o último governo socialista, encerra em si uma esperança renovada de que a nova visão ao leme do futuro do país, neste caso o governo do PSD, consiga inverter o declínio que o país estava a trilhar.

A saúde foi, sem sombra de dúvidas, uma das áreas onde a incompetência socialista mais se fez notar. O encerramento avulso de urgências obstétricas que levou grávidas a fazerem dezenas de quilómetros para terem o seu bebé é talvez o exemplo final de uma completa desorientação e incapacidade de prever diferentes cenários, assim como planear e executar um plano que fosse eficaz, actualizado e simples de seguir. Luís Montenegro tomou posse como primeiro-ministro no dia 2 de Abril, e se é verdade que o tempo para mostrar serviço é escasso, não é menos verdade que os primeiros sinais não são animadores, para dizer o mínimo.

Ana Paula Martins, a nova ministra da Saúde, demitiu-se da administração do Hospital de Santa Maria por discordar abertamente do novo modelo de Unidade Local de Saúde implementado pelo governo socialista. Mas a verdade é que Ana Paula Martins ainda não deu sinais do que quer fazer em relação às ULS. São para extinguir? Para alterar o funcionamento? Em quê e como? Ana Paula Martins demitiu-se por não concordar com o modelo, conseguirá agora governar com ele?

Há poucos dias o governo anunciou a atribuição de cheque-psicólogo e cheque-nutricionista. À primeira vista seria uma ideia positiva, mas o problema está nos detalhes, afinal os cheques são apenas para alunos do ensino superior, e isso é um erro tremendo.

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O cheque-dentista, em que acredito o governo se inspirou, existe desde 2005 e tem características bem diferentes destes agora criados, em primeiro lugar chegam àqueles que realmente precisam deles, são beneficiários as grávidas seguidas no SNS, beneficiários do complemento solidário, crianças e jovens até aos 18 anos, utentes portadores de infecção VIH/SIDA e utentes com lesão suspeita de cancro oral. Os cheques podem ser passados nos centros de saúde ou pelas escolas, o que apesar de não ser perfeito (e quem não tem médico de família?) é útil a muitas pessoas.

Os novos cheques agora anunciados, pasme-se, são apenas para estudantes universitários, o que levanta várias questões. Em primeiro lugar, qual a razão para esta medida abranger apenas os estudantes universitários? Será justo que os jovens que trabalham paguem com os seus impostos medidas que abrangem apenas aqueles que estudam?

Em segundo lugar, os problemas que estes cheques pretendem ajudar a resolver manifestam-se muito mais cedo na vida; de acordo com o estudo COSI (Childhood Obesity Surveillance Iniciative) da Organização Mundial de Saúde em 2022,  31,9% das crianças portuguesas apresentavam excesso de peso e 13,5% tinham mesmo obesidade. Os dados são avassaladores, uma em cada três crianças tem excesso de peso. Por outro lado, as questões de saúde mental também devem ser abordadas muito mais cedo, no entanto em 2023, o rácio de um psicólogo escolar para cada 1000 alunos na rede pública revelou-se insuficiente, ficando aquém das recomendações da National Association of School Psychologists (NASP), que recomenda um profissional para cada 500 a 700 alunos.

Resumindo, este anúncio em cima de eleições sendo reservado para um grupo tão restrito tem apenas um objectivo, ganhar votos, mas não ajuda a resolver nem o problema da saúde mental nem da obesidade, é caso para dizer, nem socialistas sabem ser.