Os resultados das recentes eleições na Turíngia e na Saxónia – dois estados do Leste da Alemanha – vieram confirmar a tendência já verificada nas eleições europeias de forte crescimento de partidos populistas – em especial à direita (Portugal foi, neste aspecto, uma excepção). A AfD venceu as eleições na Turíngia e ficou em segundo lugar na Saxónia, sendo de salientar também a derrota arrasadora sofrida pelo SPD e o forte crescimento – à esquerda – do BSW, uma força populista que em alguns temas apresenta posições não muito distantes da própria AfD.

O resultado das eleições na Turíngia e na Saxónia é ainda mais significativo se considerarmos que a AfD se posiciona no quadrante mais extremo das novas forças populistas de direita, tendo inclusivamente por esse motivo ficado de fora (até ver…) do grupo europeu “Patriotas pela Europa”, dinamizado por Viktor Orban e que reúne partidos como o Vox ou o Chega.

Logo depois das eleições, sem surpresa, foram iniciadas movimentações para tentar excluir a AfD de qualquer possibilidade de fazer parte de uma solução governativa nesses dois Estados. Movimentações que, como alerta Ellen Fantini, ignoram as razões do descontentamento de muitos eleitores com os partidos do centro, e passam a mensagem de que esse mesmo centro está disposto a tudo para continuar agarrado ao poder.

Independentemente das soluções governativas que se estabeleçam, uma coisa é certa, como bem resume Katja Hoyer em artigo que merece leitura integral e atenta no insuspeito Guardian: “There’s only one way to keep Germany’s far-right AfD at bay. Address the concerns it exploits”.

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Apesar de muitos insistirem na velha e gasta cassete da denúncia da “extrema-direita” (vislumbrando perigosos fascistas debaixo de cada pedra) e na proclamação vazia da suposta superioridade moral do “centro”, há, mesmo ao centro, quem se comece a aperceber da verdadeira extensão do problema. Tony Blair, por exemplo, realçou recentemente que para sobreviver o centro precisa de ser o local onde os eleitores encontram soluções para os problemas reais que enfrentam nas suas vidas. Por isso, alertou também Blair, não basta ir gerindo o status quo ao mesmo tempo que se denuncia o extremismo deste e daquele grupo. A única forma de o centro conter e contrariar o crescimento de alternativas populistas é através de soluções efectivas para os problemas reais sentidos pelas pessoas nas suas vidas. Negar esses problemas, insultar directa ou indirectamente os eleitores e denunciar de forma ou mais ou menos histérica quem não está alinhado ao centro como sendo uma perigosa ameaça de “extrema-direita” não só não resolve nada como agrava o problema.

Na mesma linha, entre nós Bernardo Ivo Cruz salientou: “Na França e na Alemanha a direita radical está a crescer e no Parlamento Europeu os populistas só não têm mais capacidade de influência nos destinos do União porque não são capazes de se sentar à mesma mesa. O que leva as pessoas a optarem por soluções populistas? Em parte, porque os partidos do centro não têm sido capazes de encontrar as respostas sensatas e moderadas para os problemas complexos e difíceis que enfrentamos. (…) E o que fazem os partidos moderados e sensatos perante a constatação crescente de que as soluções do costume não estão a dar as respostas que as pessoas precisam e esperam? Até agora temos sido brindados com manifestações de preocupação e alertas mais ou menos aflitos sobre os riscos do populismo, mas pouco mais do que isso. A história recente das eleições nos países da Europa e na União Europeia deveria ser suficiente para percebermos que temos de ir além das palavras.”

Não será certamente através de proclamações vazias das virtudes do centro político e de denúncias de papões de “extrema-direita” que o crescimento das novas forças populistas poderá ser travado. Especialmente quando essas denúncias têm frequentemente origem em figuras decrépitas e desacreditadas do regime que se agarram aos seus privilégios (frequentemente obtidos de forma ilegítima) ao mesmo tempo que pregam as virtudes da moderação, da sobriedade e da austeridade (para os outros). Voltando a Katja Hoyer, quem deseja realmente e seriamente travar a AfD e outras forças políticas similares só tem um caminho: oferecer melhores respostas para os problemas reais que motivam o seu crescimento.