Revolta no PS: “nódoa” e boicote à campanha.
Presidente das Mulheres Socialistas demite-se.
Rui Paulo Figueiredo demite-se de líder parlamentar PS na Assembleia Municipal de Lisboa.
Lista de deputados do PS do Porto chumbada.
Golpada e humilhação do PS em Coimbra.
JS de Leiria recusa participar na campanha eleitoral.
Estas foram apenas algumas das muitas manifestações de insatisfação e revolta que vieram a público no decurso do conturbado processo de constituição das listas do PS. Até certo ponto, são ocorrências normais em qualquer processo deste género num grande partido, mas não pode deixar de causar alguma perplexidade que a agitação e mal-estar tenham sido bem mais notórios no PS do que na coligação PSD-CDS. De facto, na coligação Portugal à Frente as dificuldades inerentes a listas negociadas entre dois partidos e as sondagens que apontam para uma redução de mandatos fariam esperar um processo comparativamente mais tempestuoso, o que manifestamente não sucedeu. Vale a pena por isso reflectir um pouco sobre as duas listas.
Relativamente à coligação, as constatações mais salientes são o apagamento do CDS – que troca protagonismo pela manutenção de lugares – e o peso dos aparelhos. Este segundo factor está relacionado de perto com a indisponibilidade para a Assembleia da República de várias das figuras mais competentes e credíveis da área do PSD e do CDS. Numa perspectiva liberal, é especialmente de lamentar a ausência, ainda que por opção própria, de Adolfo Mesquita Nunes, mas o actual secretário de Estado do Turismo não foi caso único.
A este cenário geral acrescem algumas escolhas caricatas a nível local, mas que não deverão ter implicações nacionais. A título de exemplo, é de destacar a reincidência como cabeça de lista da coligação por Viana do Castelo do “independente” Carlos Abreu Amorim. A meio do mandato para que foi eleito, o deputado candidatou-se à Câmara de Gaia. Depois de derrotado nas urnas – passou de um resultado anterior (de Menezes) superior a 60% (92.486 votos) para menos de 20% (27.813 votos) – não assumiu o lugar de Vereador e regressa agora a Viana para as legislativas. O mínimo que se pode dizer é que é uma opção que não mostra grande respeito pelo eleitorado de Viana, ainda que revele prudência ao evitar apresentar Amorim novamente aos eleitores do distrito do Porto.
Relativamente às listas do PS é de destacar pela positiva a inclusão de economistas de créditos firmados, como Mário Centeno ou Manuel Caldeira Cabral, ainda que o respectivo efeito credibilizador seja parcialmente anulado por uma forte presença de syrizistas nessas mesmas listas. A presença de Alexandre Quintanilha como cabeça de lista pelo Porto é sintomática da atractividade do partido num momento que muitos percepcionam como de mudança de ciclo, mesmo que seja difícil vislumbrar o reputado investigador a aguentar muito tempo na Assembleia (o que talvez seja menos abonatório da actual Assembleia do que de Quintanilha).
Pela negativa, destaca-se a incapacidade de António Costa para renovar face ao socratismo. Essa incapacidade é mais flagrante em Lisboa mas está presente na generalidade dos distritos e encontra-se bem patenteada na elevada proporção de actuais deputados que aparecem novamente nas listas em lugares elegíveis. Uma opção que aliás ignora a repartição de votos nas últimas eleições internas no PS, o que se pode revelar arriscado. De facto, uma política de terra queimada face aos seguristas e a ultrapassagem em muitos casos das estruturas internas e locais do PS não augura nada de bom para a união do partido.
Globalmente, no entanto, talvez a chave para entender a turbulência interna associada à constituição das listas do PS seja a evolução decepcionante do partido nas sondagens. Serão cada vez menos os que acreditam que a troca de Seguro por Costa valerá a prometida maioria absoluta e a decepção e o desânimo são crescentes. A entrega da direcção da campanha ao experiente e ponderado Ascenso Simões revela que a liderança do PS está bem consciente dos problemas que enfrenta, mas o processo de constituição das listas sugere que poderá não ser capaz de os resolver satisfatoriamente em tempo útil.
Professor do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa