António Costa habituou-se a não dizer aos portugueses o que vai fazer, faz o que escondeu e promete o que não pode cumprir. São estes comportamentos que degradam a qualidade da democracia e minam a confiança dos eleitores nos políticos.

O programa do PS acaba de fazer promessas que exigem explicações. Em primeiro lugar, Costa promete o ordenado mínimo de 900 euros para o fim da legislatura, em 2026. O aumento do ordenado mínimo é desejável, mas tem que ser acompanhado por outras medidas. Os ordenados mínimos são pagos pelo sector privado. Ou seja, a decisão do governo terá que ser paga por outros. Como é óbvio, as pequenas e médias empresas ou os comerciantes precisam de capacidade financeira para pagar ordenados mais elevados. Se não tiverem, a prazo, despedem ou vão à falência. Por isso, irá um governo socialista baixar os impostos às empresas e aos comerciantes para poder aumentar os ordenados mínimos? A questão dos impostos deve ser um tema central da campanha eleitoral. Os partidos à direita do PS devem insistir nesse ponto durante a campanha.

A promessa dos quatro dias de trabalho semanal é de um enorme populismo e demagogia. Quando Portugal precisa urgentemente de aumentar a produtividade, o líder do PS promete diminuir o trabalho semanal. Mais um exemplo do facilitismo socialista e de promessas que não serão cumpridas. Para o PS, tudo vale para tentar ganhar as eleições.

O programa do PS também se compromete com o crescimento da economia “0,5% acima da média da União Europeia e 1% acima da média da zona Euro” durante a próxima legislatura. Ou seja, não é crescer “acima da média” europeia durante um ano, mas durante quatro anos. Isso nunca aconteceu com o PS no governo. O que vai um governo socialista fazer de diferente do que fez até hoje para que isso aconteça? De que modo é que o PS vai mudar as suas políticas económicas? Quais são as reformas que um governo socialista vai aceitar fazer, e que nunca aceitou até hoje? E se não tiver maioria absoluta, a quem vai pedir apoio para essas reformas?

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Passemos agora às questões políticas. Tudo indica que não haverá uma maioria absoluta do PS ou do PSD. Isso significa que haverá coligações, parlamentares ou de governo, ou executivos minoritários. Vamos olhar para os diferentes cenários e para as escolhas do PS.

Comecemos pelo cenário de ‘2019’, uma vitória do PS sem maioria absoluta. Costa já disse que a geringonça morreu e que não fará coligações com o PSD. O que fará então com uma vitória minoritária? Sai e deixa um novo líder do PS para formar governo? Há uma pequena variante: Costa fica e sai passados uns meses. Irá Costa procurar o apoio da extrema esquerda para aprovar o programa de governo e o orçamento para este ano e depois abandonar Portugal em Junho se conseguir o lugar de Presidente do Conselho Europeu? Para ser nomeado para o cargo em Bruxelas, convém a Costa estar à frente do governo, mas depois pode sair. Costa compromete-se a ficar à frente do governo mesmo que tenha hipóteses de sair para Bruxelas?

A seguir devemos considerar o cenário de ‘2015’, o PSD ganha as eleições, mas há uma maioria de esquerda no Parlamento. António Costa já disse que nesse caso demite-se. Mas tem que dizer mais. Neste momento, Costa vincula o PS. Costa precisa de dizer o que faz se se demitir: aprova o programa de um governo do PSD, e pode fazê-lo como líder demissionário, antes da escolha de um novo líder do PS? Ou não o faz deixando o país à espera que o PS escolha um novo líder?

Vamos ainda considerar um terceiro cenário. Há uma maioria de direita com o Chega. O que fará o PS nesse cenário, aprova um governo do PSD (ou dos sociais democratas com a IL e o CDS) ou não aprova, obrigando o PSD a negociar com o Chega? Os socialistas dizem que o Chega é um partido de extrema direita e uma ameaça à democracia. Se acreditam mesmo no que dizem, então devem pensar na democracia portuguesa e evitar que o PSD faça um acordo com o Chega. Ou irá o PS pensar apenas em continuar no poder fazendo campanha contra um governo do PSD apoiado pelo Chega?

Se o PS nada fizer para evitar negociações entre o PSD e o Chega cai a máscara e serão os socialistas a legitimar o Chega como partido de governo. António Costa pode ficar na história política portuguesa como o líder que levou o PCP, o Bloco e o Chega para o chamado arco da governação.

Costa tudo fará para não responder a estas questões. Nesse caso, Rio e os outros líderes de direita devem dizer, repetir e voltar a repetir que Costa nega a verdade aos portugueses, o que significa falta de respeito pela democracia e pelos eleitores.