Namoro de curta duração, mais concretamente de três meses, foi o que Pedro Nuno Santos propôs a Montenegro para ficar bem na fotografia perante os profissionais da Administração Pública. Este tacticismo é desconcertante, é isto que engorda o populismo e descredibiliza a política, que devia ser uma atividade nobre. PNS pode dizer que o PS é “meio feliz”, porque deu a mão ao PSD para ajudar a repor algumas injustiças. Mas o povo pensa: “se em três meses é possível, por que não o fizeram ao longo dos muitos anos de governação socialista?”. O PS teve uma maioria absoluta, e todos os instrumentos para resolver alguns destes problemas dos médicos, dos professores e das forças de segurança. O que PNS parece querer dizer é que António Costa não foi capaz, que com ele tudo se resolve, mesmo estando na oposição. Com a folga orçamental a direita quer provar que é a alternativa. E quando houver eleições, e não faltará muito, os eleitores só se lembrarão de Montenegro que lhes pôs mais dinheiro na carteira. É isto que a proposta de namoro de curto prazo quer evitar. Mas os recados da proposta de namoro chegam, também, a outros protagonistas, principalmente, aos titulares dos Ministérios das Finanças, Saúde, Educação e Administração Interna que integraram os governos do atual Secretário-Geral do Partido Socialista. É bom lembrar que Alexandra Leitão foi quem mais incendiou a relação com os professores e as famílias. Apesar deste passado, foi escolhida como líder parlamentar do Partido Socialista – um erro de casting. O que PNS pretende é dizer que o PS agora tem outra liderança, e que no passado, também foi vítima. Não há pior maneira de justificar uma derrota eleitoral. Quando se perde o centro político em Portugal, perde-se, muitas vezes, por “pouquechinho”. Foi isso que aconteceu. A campanha do PS parecia a do Bloco, apenas com mais gente nos comícios.
Este namoro de três meses traz-me à memória o programa televisivo de Alexandra Lencastre, “Na cama com…”, que teve vida curta. Uma carta de amor, com divórcio anunciado, é paradoxal. Tudo isto faz-me lembrar os meninos irrequietos que querem ganhar a simpatia de alguém e prometem que, durante algum tempo, vão mudar o comportamento. Hoje sabemos que os meninos irrequietos não escolhem este tipo de comportamento, a impulsividade não é uma escolha sua, mas apenas uma consequência de outros males; normalmente esquecem o que prometem e até aceitam perder a recompensa.
Seja qual for a resposta de Montenegro à carta, sabemos que para além de julho tudo é possível, até o chumbo do orçamento. É, por isso, que PNS quer separar as águas, não quer ficar refém de um Orçamento de Estado que inscreva a despesa pública das ordens profissionais. O que PNS está a evitar é um PS à francesa ou à grega. O PS perdeu votos e deputados, e os estudos mostram que foi a extrema-direita que beneficiou com essa transferência. Muitos desses cidadãos estavam zangados, desapontados e dificilmente votarão no PS em futuros atos eleitorais. As eleições europeias poderão ser uma sondagem ao governo, mas, também, a PNS. Tudo servirá para avaliar a liderança, inclusive o armistício até ao verão.
Em entrevista a um canal de televisão, PNS não se coibiu: “O que fizemos hoje foi enviar uma carta que concretiza uma intervenção pública que eu já tinha tido. É uma matéria de largo consenso durante a campanha eleitoral. Há posições próximas e queremos fazer parte delas. Há um governo que quer governar e estamos na oposição disponíveis para resolver problemas”.
A pergunta que os portugueses gostariam de fazer a PNS: Por que não resolveram os problemas quando estavam no governo com maioria absoluta?
Não o fizeram e, por isso, perderam as eleições. A afirmação do PS enquanto oposição responsável, não faz esquecer o que o PS fez pela oposição enquanto foi governo: deu-lhe o poder.