Caro leitor, é provável que já se encontre familiarizado com o conceito de “bullying” devido aos casos que, não poucas vezes, são trazidos a público pela comunicação social.

A palavra “bullying” tem origem inglesa e a sua tradução mais fidedigna remete para uma situação de intimidação e/ou humilhação perpetradas no tempo. Este fenómeno é muito frequente sobretudo na infância e adolescência em ambiente escolar embora, em casos mais raros, também possa registar-se em idade adulta.

O agressor ou (“bully”) é, por norma, um indivíduo com baixa tolerância à frustração e problemas familiares que recorre à intimidação e/ou agressão da vítima (“bullied”), porque a humilhação daí extraída funciona como um veículo de afirmação pessoal imediato e demonstração de poder perante o grupo de pares que costuma ser conivente com as práticas. No outro extremo encontra-se a vítima que se costuma caracterizar por manifestar baixa ou muito baixa autoestima e possui uma ou mais características que a tornam suscetível à humilhação:

  • Estrutura física caracterizada por magreza ou gordura excessiva;
  • Não preenche os padrões médios de altura: demasiado alto ou baixo;
  • Utiliza um visual (roupas e acessórios) muito peculiar e diferente dos demais;
  • Gagueja quando se exprime verbalmente ou demonstra pouca confiança para comunicar em público;
  • Revela dificuldades em se envolver/integrar em atividades de grupo, o que conduz ao isolamento e à “marginalização” dos pares;
  • Questões raciais/étnicas;
  • Releva dificuldade no estabelecimento de relações amorosa, que podem implicar a repressão emocional por receio de sofrer uma rejeição direta.

Um estudo levado a cabo pelo investigador Ricardo Zacarias da Fundação Champalimaud conclui que a mosca da fruta, com estruturas e reações no sistema nervoso muito semelhantes ao Homem, tem uma de três reações perante uma ameaça: fuga, confronto ou bloqueio, tal como se verifica nos humanos. O psicólogo clínico e investigador da Fundação Champalimaud Jaime Grácio garantiu à Rádio Observador que as conclusões da investigação apontam para que crianças ou adolescentes expostos ao fenómeno de “bullying” têm tendência a demonstrar problemas gastrointestinais e manifestações de ansiedade. “O futuro adulto irá ter muito maior propensão para perturbações psicossomáticas provocadas pela exacerbação da ansiedade derivada à humilhação, bem como maior dificuldade nas relações sociais”, afirma Grácio.

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O Observatório Nacional de “Bullying” (ObNB) registou oitenta e duas denúncias deste fenómeno no ano 2021 (57 realizadas por mulheres e 25 por homens), divulgou a Associação Plano i, no mês de janeiro de 2022. As vítimas referiam sentimentos como tristeza (61%), ansiedade e/ou nervosismo (58,5%) e vergonha (57,3%), como consequências das experiências traumáticas sofridas. 11% correram risco de vida, 45,1% recorreram a apoio psicológico e 22% necessitaram de tratamento médico.

Todos os factos supracitados demonstram estarmos perante um fenómeno cada vez mais estudado a nível científico, cujo sofrimento e angústia provocados pela humilhação podem deixar sequelas na estrutura mental do futuro adulto.

É impossível aceitar que este tipo de episódios continue a ser subvalorizado e considerado apenas um inocente conflito entre pares. O “bullying” não é uma brincadeira, mas antes o puro prazer de humilhar o próximo de uma forma fácil, gratuita e cobarde.