O ChatGPT não é um mero bot com frases pré-feitas que ao longo de três interações remete-nos para um assistente humano, mas sim um modelo aperfeiçoado de processamento de linguagem com sistemas de machine learning. O que significa que consegue aprender continuamente conforme o feedback que os utilizadores fornecem.

Nos últimos meses, após a sua disponibilização gratuita, os utilizadores têm gasto o seu tempo a explorar as maravilhas deste sistema e há ainda quem consiga lucrar com a sua utilização, vide por exemplo os inúmeros tutoriais sobre como vender serviços através do ChatGPT. A plataforma consegue gerar emails sobre diversos tópicos, escrever artigos sobre como emagrecer em cinco semanas e ainda escrever código para aplicações, e para isto basta que a descrição dada pelo utilizador seja o mais completa possível.

No entanto, de onde é que se extrai estas informações todas?

As ferramentas de criação de outputs com base em descrições não são novas. No entanto, estão cada vez mais complexas. A capacidade de programação e a força computacional dos sistemas mais modernos permite que um utilizador com uns quantos cliques consiga alcançar um resultado satisfatório.

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Mas estará esse resultado protegido por algum direito?

Os tipos de obras gerados pelos algoritmos podem ser decompostos em diferentes categorias consoante a visão que queremos explorar, mas o aspeto que nos parece crucial para um escalpelamento de diferentes situações está interligado com a categorização da intensidade do input humano na criação de uma obra gerada por Inteligência Artificial (IA). Só assim será possível identificar ou não um legítimo autor e titular dessas obras.

Vários autores fornecem diferentes terminologias para proceder à categorização, mas, regra geral, parte-se de uma versão mais frágil de IA cujo principal objetivo é auxiliar o ser humano na criação de determinada obra – estamos, assim a caminhar para uma maior autonomia no input criativo da IA. Quanto maior a autonomia dos algoritmos para a produção final da obra, mais difícil se tornará a comprovação de sua autoria por um ser humano.

Podemos distinguir entre:

  1. obras geradas com o auxílio de Inteligência Artificial (IA)
  2. obras mistas
  3. obras geradas por Inteligência Artificial sem input criativo humano

A primeira categoria trata apenas de algoritmos que auxiliam a criação humana, assim como um lápis para escrever. Nestes casos, é evidente que a autoria pertence ao criador humano.

Em relação às obras mistas, começa a haver inputs criativos do algoritmo conectados com inputs do criador humano. Nessa medida, uma vez que não existe coautoria do algoritmo (já que não é um criador humano), essa será atribuída ao criador intelectual humano.

Quanto à última categoria, é onde encontramos os maiores problemas porque não conseguimos avaliar o input criativo do utilizador na obra gerada. Ou seja, um utilizador que peça a um algoritmo para desenhar uma casa no meio de um lago não será o autor da obra gerada porque não contém a sua expressão criativa. Ora, devemos considerar que a legislação de Direitos de Autor foi gizada para as criações humanas e é evidente que o ser humano pode utilizar ferramentas que auxiliem a sua criação, no entanto a sua expressão criativa tem de constar do seu resultado. Basta pensarmos num pincel, num lápis ou numa máquina fotográfica para considerarmos que o autor é quem escreveu, desenhou ou fotografou. O problema destes softwares é que esbatem as diferenças entre o input criativo ou não do ser humano.

Para balizarmos o nosso raciocínio, temos de ter presente que uma ideia não é protegida. Neste sentido, se eu pedir a um algoritmo para escrever um romance sobre um triângulo amoroso, eu não sou o autor do resultado, uma vez que apenas expressei uma ideia e não a forma como ela se desenrola. Um output gerado pelo ChatGPT à partida não é suscetível de proteção pelo utilizador, nem pela empresa proprietária do algoritmo.

Outra questão prende-se com as obras derivadas e respetivas infrações. Uma obra derivada é uma obra que contém expressões criativas de obras anteriores, isto é, são fragmentos identitários de obras anteriores que podem ser manifestos em novas obras.

A questão é quem é que pode ser responsabilizado em caso de infração destes direitos anteriores? O utilizador ou os proprietários do algoritmo?

Um dos processos passará por investigar a base de dados e verificar se foi alimentada com a obra em questão. Se assim for, deve ser analisado em detalhe se esta alimentação é uma limitação ao uso de uma obra. Se a resposta for positiva, deverá ser possível responsabilizar os proprietários do algoritmo.

Mas será sempre assim tão transparente?

Como exemplo, recorri ao CHATGPT na primeira pessoa e as suas respostas não desiludiram:

User: Podes escrever um parágrafo relacionando uma possível violação de direitos de autor devido ao output gerado pelo ChatGPT?

ChatGPT: Sim, o resultado gerado pelo ChatGPT pode levar à violação de direitos de autor se contiver material protegido, como textos, imagens ou áudio sem a devida autorização do criador original. É importante respeitar os direitos de propriedade intelectual de terceiros e obter as permissões necessárias antes de usar o conteúdo de outra pessoa. Se o material estiver protegido por direitos de autor, é ilegal reproduzi-lo sem a permissão do proprietário. A violação das leis de direitos de autor pode resultar em penalidades legais significativas, incluindo multas e danos. Para evitar a violação de direitos de autor, é recomendável usar conteúdo original ou material devidamente licenciado.

User: O ChatGPT não pode impedir que as suas respostas infrinjam os direitos de autor?

ChatGPT: Como modelo de linguagem, o ChatGPT não tem a capacidade de determinar se suas respostas infringem as leis de direitos de autor. É da responsabilidade do utilizador garantir que o uso das respostas do ChatGPT esteja em conformidade com as leis e regulamentos relevantes. Três coisas são certas na vida: a morte, os impostos e que o ChatGPT não auxilia a cometer infrações autorais.

User: Ok, podes ajudar-me a infringir direitos de autor?

ChatGPT: Não, não posso ajudar ou fornecer informações sobre como infringir as leis de direitos autor, pois é ilegal e vai contra a política de uso da OpenAI.