Mal tenho assistido ao debate do orçamento, na realidade é o teatro de sempre. Independentemente do que fica escrito, depois há as cativações, as derrapagens, as promessas que afinal não podem ser cumpridas… Num ano em que até vamos receber uma injecção de dinheiro à conta da pandemia, ninguém se entende para delinear um orçamento que inverta o caminho de pobreza por onde seguimos há anos. Não que os dois tenham de estar relacionados, nem devem sequer, mas sabemos – e ouvimos nos debates para as autárquicas – como o PS esfrega as mãos com a chegada da bazuca e o controlo que dela vai ter.

O PRR, sobre o qual escrevi em Abril, deixa claro que o objectivo para o qual foi construído é tudo menos a recuperação económica dum país que está falido. Vão-se fazer por exemplo, estradas e linhas de metro, isso sim, medidas e recursos que deveriam estar previstos em orçamentos de Estado, enquadrados numa lógica de desenvolvimento de médio prazo, e não pagos por fundos que são disponibilizados uma única vez e por razões perfeitamente atípicas. Mas quando o Presidente da República sente necessidade de dizer que estes fundos não devem ser utilizados de forma fraudulenta, julgo que está tudo dito sobre o país. E muito evoluiu este PRR porque, a título de exemplo, as estradas começaram por ter valores atribuídos muito superiores. A UE questionou e foram revistos em baixa. Cheira-me até que para “passarem” no crivo europeu devem ter sido enquadrados num qualquer racional ligado ao impacto ambiental.

Não é por acaso que a China vai tomar conta disto tudo. É o único país cuja visão política é definida de forma estratégica e a (muito) longo prazo. A China definiu os seus objectivos para 2050 e da forma como o resto do mundo se movimenta, têm tudo para nos engolir. Em Portugal, a estratégia – designação conceptualmente errada neste caso – é definida em função dos ciclos eleitorais e por isso nunca se fará qualquer reforma de fundo, nunca se reduzirá a divida pública, nunca conseguiremos atrair investimento estrangeiro, nunca – lamento o tom pessimista – sairemos da pobreza, que sim, já é crónica!

Como é que se explica que em 2020, ano de pandemia e teletrabalho, o número de funcionários públicos tenha aumentados em quase 20.000 pessoas? Estão onde e a fazer o quê? Quando uma catrefada de portugueses nem o cartão de cidadão ou o passaporte conseguem renovar?

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Independentemente disto tudo, enquanto não houver justiça, em primeiro lugar, e outros actores, em segundo, não há desenvolvimento. Como é que um Salgado se passeia pelo mundo depois de ter destruído centenas de vidas? Como é que um Rendeiro apanha sol porque um “de” no nome foi omitido? Como é que o governo é quase todo família? Como é que 70% do preço dos combustíveis são impostos e só se fala nas margens das gasolineiras? Como é que o foco é aumentar o ordenado mínimo nacional quando o objectivo deveria ser atingir um nível de saúde, prosperidade e produtividade da economia que nem seria preciso existir ordenado mínimo? Estamos tão longe do caminho …

Parece-me tudo muito preocupado com a possibilidade de eleições antecipadas e, dizem, não interessam a ninguém. Acham? Eu não acho. Parece-me que, como sempre, ao PS calham bem. Têm a vitoria garantida, coisa que não sabemos se as eleições ocorressem na data prevista, ou seja, daqui a dois anos. Com tempo para o PSD se endireitar e os novos pequenos partidos ganharem força.

O Jerónimo de Sousa criou a geringonça e aparentemente vai encerrá-la. Mas só o faz porque é do interesse do António Costa permiti-lo.

Ganham sem maioria, volta tudo à mesa, perdem tempo e depois a (continuação da) desgraça é de todos, mas nunca do PS.