(Deixo um disclaimer simples – não votei PSD nem Chega nas últimas eleições e tão pouco decidi em quem vou votar nas próximas)

Começaria por recordar em duas linhas que em 2015 Pedro Passos Coelho ganha as eleições legislativas após 4 anos de governação, sob a alçada da Troika, chamada e negociada pelo PS de José Sócrates.

Experimentou-se então nessa época algo de inédito em Portugal – e em minha opinião, pela cabeça do Jerónimo Sousa, quando disse “a direita só governa em Portugal se o PS quiser” – que se consubstanciou no facto do 2º partido mais votado, se tornar Governo.

Em 2018 Rui Rio assume a presidência do PSD e ao longo dos seus 4 anos de liderança, Rui Rio é muito criticado – por dentro e por fora – por não fazer qualquer oposição ao PS.

Em Maio de 2022, com um Rui Rio super desgastado e um país com um Governo maioritário preenchido de escândalos políticos como nunca se viu – e ainda mal sabíamos todos os mais que estavam para vir – Luis Montenegro é eleito o novo Presidente do PSD.

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Com ele esperava-se – por contraposição ao seu antecessor – uma liderança forte, uma oposição séria, ideias reformistas e sobretudo, uma vontade indiscutível de liderar um próximo governo que pudesse libertar Portugal do caminho de pobreza que segue há demasiados anos, dum país onde não se faz uma reforma séria e profunda no aparelho de estado, num país onde a carga fiscal atinge patamares máximos para serviços abaixo dos mínimos, para um país que claramente se distancia da Europa – e já nem preciso de acrescentar “ocidental”.

Sem esquecer que os partidos fogem das reformas porque elas custam votos e por isso mesmo tendem a governar numa perspectiva temporal máxima de 4 anos e não de 50 – como faz o Xi Jinping e por isso o mundo será dele e não desta Europa que não vê para além do umbigo de cada um (e não, não estou a defender o Xi, estou apenas a dizer que os políticos deviam ter uma visão e actuação estratégica de médio e longo prazo e não de 4 anos), esta “conversa” das contas certas e dos excedentes orçamentais, mais não é que areia para os olhos duma população cuja literacia se percebe ser, tal como o país, pobre.

Não há contas certas nem excedentes orçamentais sem a arrecadação de impostos dum lado, e o não investimento público, do outro. As contas certas e os excedentes orçamentais que o PS não se cansa de anunciar, estão na ruptura total do SNS e no descontentamento dos professores e policias. E, acredito, em muitos funcionários públicos que vêm as suas condições de trabalho deteriorarem-se de dia para dia.

A manutenção do PS no poder será obviamente a continuação deste caminho. Quando dizem que vão mandar as pessoas com pulseira verde para os centros de saúde, saberão que os centros de saúde já não dão resposta aos seus pacientes “regulares”? Eu, que sou uma privilegiada e tenho médico de família, marquei uma consulta em Setembro, que me parece algo urgente, e ficou marcada para o final de Março!

Mas então qual a alternativa? Votar à direita, claramente.

Eis senão quando surge um problema novo – e chama-se Chega.

O Chega chegou, tem vencido e crescido. Ninguém o pode ignorar, até porque quanto mais é ignorado, mais cresce.

Surpreendentemente, em Abril do ano passado, o nosso Presidente da Républica – na sequência de mais um mal estar politico do governo de António Costa, desta vez o caso TAP – dizia que “do lado da oposição, há o grande desafio de juntar os números, que tudo somado dá 50% [nas sondagens] e transformá-los numa alternativa política. Que ainda não existe”, deixando para muitos subentender q receava que o PSD se unisse ao Chega. O Chega é um partido legitimamente constituído e votado pelos portugueses, tal como qualquer outro. Tem presença na AR e aspirações como qualquer outro. O Presidente da República não pode ter receios deste género e permitir a perpetuação dum governo que, já em Abril, tinha ultrapassado todos os limites da não vergonha.

Mas eis senão quando, as trapalhadas do PS avolumam-se a tal ponto, que o António Costa se vê mesmo obrigado a demitir-se e o Marcelo a dissolver a Assembleia.

O PS tem, não obstante, a vantagem de se manter no governo o tempo suficiente para aprovar o seu orçamento – onde aproveitou para alterar medidas polémicas e assim dar início à sua campanha eleitoral – e, naturalmente, manter-se em gestão até às eleições de 10 de Março.  Durante este período vai “distribuir” dinheiro e promessas sobre tudo o que nos últimos 8 anos não fez. O objectivo é claro – ganhar as eleições. Tendo noção de que poderão não ter maioria absoluta, Pedro Nuno Santos mostra-se à vontade para uma nova geringonça.

À direita, temos o quê? Um Luis Montenegro que diz, rediz e volta a dizer que só será primeiro ministro se ganhar as eleições e nunca se unirá ao Chega. A comunicação social e o PS – será quase redundante dizer comunicação social e PS mas ok – cavalgam em cima deste tema e Luis Montenegro não percebe o erro, quanto a mim, brutal e suicidário, que comete.

Se a sua ideia – só pode ser – é querer concentrar votos no PSD e ter maioria absoluta, parece-me algo muitíssimo arriscado e pouco provável de acontecer. Não se pode esquecer que os que dependem do estado, subsídios distribuídos e as promessas do PS conquistam sempre muitos votos e, ao mesmo tempo, que muitos dos descontentes, não votam.

E por isso ao afirmar sistematicamente esta sua posição, está a dizer ao país que:

  1. se ganhar as eleições, e não se juntando ao Chega, pode não ter condições para governar – e passa o governo a ser mais uma vez PS, que, sem qualquer pudor, formará nova geringonça;
  2. se perder as eleições e não estando disponível para formar uma geringonça de direita, entrega o governo ao PS que, mais uma vez, sem qualquer dúvida, o fará à esquerda.

Enquanto Luís Montenegro não se centrar no que é importante para o país e deixar para depois das eleições a resposta ao “como pretende governar se não tiver maioria absoluta”, não sai do mesmo.

Parece-me portanto, que assistimos ao suicídio da direita que o mesmo é dizer, ao suicídio do país. Um país que mais parece um circo. Um país em que as urgências dos hospitais passaram a estar fechadas. Um país onde os hospitais demoram 15 horas para ver um doente em estado considerado urgente. Um país onde se morre à espera para se ser visto num hospital. Um país onde centenas de crianças não têm professores para todas as disciplinas.  Um país onde a rede pública de transportes não existe ou não funciona. Um país que pensa num TGV para onde já existe um Alfa mas não consegue servir as populações vizinhas às grandes cidades. Um país onde já ninguém quer enveredar pela carreira de professor.  Um país onde os pais incentivam os filhos a emigrar. Um país onde (e de acordo com o Expresso) 30% dos jovens nascidos em Portugal e agora com idades entre os 15 e os 39 anos vivem fora de Portugal, ou seja, 1/3 das mulheres em idade fértil está fora de Portugal. Um país velho. Um país pobre. Um país sem esperança.