A estagnação económica não chegou repentinamente. Instalou-se lenta e de forma imperceptível quando António Guterres formou o seu primeiro governo. Já lá vão 27 anos. Quase três décadas de vagaroso declínio acompanhado por um subtil conformismo da população que se sente presa por algo que não define porque não vê. A par do acumular dos défices nas contas públicas, e que originou uma dívida incomportável, o país mergulhou noutro défice, o da balança de bens, que de 8 mil milhões de euros em 1996 atingiu os 18 mil milhões euros em 2000. Bastaram 4 anos.
A partir daqui o país ficou preso numa espiral despesista de fuga para a frente. Ansioso por retomar as taxas de crescimento anteriores, o PS gastou o que não havia e endividou o país. Endividou o Estado, através dos défices públicos e endividou a comunidade através de incentivos ao consumo para que, de alguma forma, a economia crescesse. O fim do caminho é conhecido e tem dois nomes: Sócrates e troika.
Evitada a bancarrota, o PS compreendeu que a sua sobrevivência política passava pelas contas certas. Vai daí subiu impostos, inventou taxas, cativou despesa e arranjou vários subterfúgios para cortar rendimentos sem que lhe fossem pedidas responsabilidades políticas. Despesa, não cortou nenhuma. Para ajudar, os socialistas distribuiram alguns subsídios e contrataram mais funcionários públicos: pessoas que, de outra forma, estariam sem emprego ou seriam forçados a emigrar e que passaram a ter um rendimento garantido; baixo, mas seguro.
Esta estratégia tem um custo que o país começa a pagar: a deterioração da democracia e das instituições. São cada vez mais os portugueses que dependem do Estado (do poder político) para viver. Portugueses que não se atrevem a votar nos que prometem as reformas necessárias e que exigem uma redução do peso do Estado. A par deste eleitorado (que o PS considera garantido) os socialistas contam ainda com a fuga dos que, sem trabalho no funcionalismo público, saem do país. São Portugueses cujo voto perde peso na medida em que os deputados elegíveis fora de Portugal são apenas 4 num total de 230. Por cada Português que sai do país à procura de trabalho e de melhores salários é um voto que o PS ganha cá dentro. Com a vantagem de António Costa ainda poder dizer que a taxa de desemprego é historicamente baixa. As taxas de juros zero do BCE criaram condições únicas para reduzir o endividamento, cortar na despesa e baixar impostos, mas o PS usou-as para um crescimento à base de mais dívida que mina a economia e que é atirada para os mais novos que não votam ou os que ainda nem nasceram.
É desta forma que os socialistas conseguem estar no poder desde 1995. As breves interrupções entre 2001 e 2005 e entre 2011 e 2015 não passam disso mesmo: de interrupções que serviram para que outros corrigissem os erros e que lhes fossem assacadas as culpas. Das duas vezes o PS regressou mais forte e ainda mais determinado no seu projecto de poder absoluto.
A estagnação política de um só partido a governar o país não é caso novo entre nós. Alguns ainda o recordam de outros tempos. Actualmente vivemos numa democracia, é certo, mas numa democracia desvirtuada, defraudada, uma democracia em que os fundos públicos, o dinheiro dos contribuintes, foram utilizados como arma de tomada e manutenção do poder. A perpetuação no governo de um pequeno grupo de amigos, camaradas e companheiros que confraterniza entre si desde a juventude conduz aos casos e abusos que temos assistido. Mas por muito grave que seja o pior nem é isso. O mais grave é que o PS desvirtuou a democracia ao tornar boa parte do eleitorado dependente das políticas públicas tomadas pelos socialistas.
Além de uma economia estagnada a democracia ficou paralisada. Apesar da crise é possível que o PS vença as próximas eleições. Mesmo que as perca é certo que vai encarar o vencedor como um intruso que deve ser expulso o quanto antes. Os socialistas encurralaram o país, primeiro na economia e depois num beco sem aparente saída política.
Feito o diagnóstico pergunta-se: como sair desta situação? Como ultrapassar este desafio que é um dos mais graves da nossa história? Como sucede nestas situações a solução passa pela atitude que os cidadãos tomarem. Foi assim em 1974, em 1975, como também em 1979 e 1980. O que surgiu nessa altura, e não pode falhar agora, foram políticos capazes de mobilizar a população incomformada e uni-la politicamente num propósito: na década de 70, que Portugal podia ser mais do que aquilo em que o estavam a transformar; actualmente, que Portugal consiga ser mais do que aquilo em que o querem tornar. E que possa, finalmente, converter-se numa democracia liberal e europeia com uma economia aberta, de livre mercado por forma a que os portugueses vivam bem. É uma ambição antiga mas que, por alguma razão, nas últimas décadas ficou esquecida.