Despeço-me hoje dos meus leitores do Observador.
Foi um gosto ter escrito neste jornal durante 4 anos e meio, desde o artigo do 1º dia – o meu primeiro no primeiro dia do jornal, a 21 de Maio de 2014 –, até este curto texto de despedida.
Conheci a ambição, alegrei-me com o crescimento, rejubilei com o sucesso. E escrevi, em total liberdade, sobre os mais variados assuntos.
Assisti com perplexidade à controvérsia sobre a suposta radicalidade do Observador, que seria uma espécie de centro de comando da direita radical. Em relação a isso, o artigo do João Marques de Almeida resume, com algumas diferenças, aquilo que sobre o assunto penso – nunca fui incomodado por ninguém, em 4 anos e meio, por causa dos meus escritos, alguns dificilmente compatíveis com essa visão conspirativa e disparatada. Há e houve sempre aqui opiniões de toda a natureza, das mais à direita às de esquerda, do conservadorismo clássico ao liberalismo de direita e até ao de esquerda, sócio-cultural.
Quantos artigos escrevi? Não os contei, mas seguramente mais de 230, sobre os mais variados temas. É-me difícil identificar os mais relevantes, isso deve caber aos leitores.
Dos temas, insisti obviamente na Europa e no seu processo de integração, uma das causas da minha vida, em tópicos internacionais, como o terrorismo e os populismos, nas questões do “on-line”, ficando por tratar a discussão já tão pública da proposta europeia de directiva sobre os direitos de autor na Internet ou o desfecho do Brexit.
Dos artigos, refiro alguns, que muito gostei de escrever: Portugal populista, sobre o que significa essa palavra tão usada e abusada – “populismo”; Traição à pátria, relativa a um dos grandes flagelos das sociedades ocidentais (ou das humanas), a corrupção; A morte do bom senso, em que defendo as opções baseadas no discernimento e no bom senso, o que talvez faça de mim um chato, e se assim for que seja; Azar, a propósito da braseira de horror do verão de 2017; a Peste grisalha e os Invisíveis, temas sociais que estiveram menos presentes nas minhas crónicas do que gostaria, e que são centrais – são a vida, somos nós, as nossas irremediáveis fraquezas e a esperança que as consola (ou não).
Enfim, centenas de outros artigos que tornam inútil a escolha dos que acima referi: desisto.
Permitam-me agradecer. Em primeiro lugar, grato ao David Dinis e ao Diogo Queiroz de Andrade, que me convidaram, ao José Manuel Fernandes, que me publicou, ao Miguel Pinheiro, que me aceitou. Grato à Marta Leite Ferreira e à Filomena Martins, que aturaram dezenas de envios tardios e asseguraram sempre a publicação atempada e eficiente.
Saúdo os meus colegas colunistas, com especial destaque, pela simpatia e amizade, pelo Alexandre Homem Cristo, o André Azevedo Alves, a Helena Garrido, o João Carlos Espada, o João Marques de Almeida, o José Milhazes, o Luís Conraria, o Manuel Villaverde Cabral, a Maria de Fátima Bonifácio, o Paulo Trigo Pereira. Sem esquecer os outros, que não tenho o gosto de conhecer senão pela escrita, e é quase sempre notável. Uma saudação especial ao José Manuel Fernandes, com quem há mais de 30 anos me cruzo e recruzo e que admiro pela inteligência e pela escrita límpida e certeira; e ao Rui Ramos, companheiro de outras lides, um grande historiador, que pensa bem e escreve melhor.
Finalmente, aos leitores, a todos, mesmo àqueles com quem troquei palavras menos simpáticas no diálogo que tentei manter, sempre que pude, na caixa de comentários ou por e-mail: muito obrigado. Foram a razão de ser deste esforço semanal de colocar em palavras ideias que, por vezes recebidas com desconfiança ou rejeição, nunca foram guiadas por agendas ou propósitos inconfessáveis. Tentei ser honesto intelectualmente, objectivo e fiel à verdade.
Se decidi terminar aqui esta relação, por agora (pois nunca digo nunca a nada, isso a vida me ensinou), foi com a sensação do dever cumprido e de ter podido estabelecer com todos os leitores uma conversa aberta e franca.
Bem hajam por isso. A melhor das sortes ao Observador, que a merece.