Dois livros, um que li há quase 20 anos outro que leio por estes dias, o primeiro, ‘The Coming Collapse of China’, de Gordon G. Chang, advogado e comentador norte-americano de origem chinesa, o segundo, “História Económica Contemporânea – Portugal entre 1808 e 2000”, uma compilação de ensaios organizada por António Costa Pinto e Nuno Gonçalo Monteiro. Em comum ambos expõem erros cometidos e as suas consequências a longo prazo enquanto referem a inevitabilidade de crises que derivam da rigidez dos sistemas.

No ensaio relativo ao período entre 1834 e 1890, Jorge M. Pedreira esclarece que a construção da ferrovia teve um impacto limitado na industrialização e na agricultura de Portugal, ao contrário do que sucedeu noutros estados europeus. As razões são várias, desde o comboio se ter centrado no litoral, duplicado vias de comunicação existentes e não ter tido “em conta as necessidades da indústria” (pág. 111).

Falhas que terão sucedido por os promotores dessas infraestruturas não terem capitais próprios nem meios financeiros adequados. Com uma população pobre e sem poder de compra, Portugal era afectado pela sua pequena dimensão e por se encontrar geograficamente afastado do centro da Europa, onde a revolução industrial se difundia. Sem capital para investir, porque a economia também não se sustentava, os promotores das infraestruturas com que se ambicionava desenvolver o país apresentavam-se através de sociedades fantasmas ou ficavam-se pela construção da ferrovia e esqueciam por completo a sua exploração. Como quem investia tinha outros interesses que não a exploração da ferrovia, não havia ligação entre o investimento e a sua rentabilidade. O resultado foi o estado ter acabado por vir em socorro desses investimentos para que estes não ficassem pelo caminho. No entretanto, perdeu-se muito dinheiro, o que foi compensado com as remessas dos emigrantes no Brasil. Quando essa remessa diminuiu, devido à instabilidade no Brasil na década de 70, o dinheiro faltou, suspenderam-se pagamentos e o governo teve de agir, não para salvar investimentos, mas para salvar bancos.

Sem que o investimento nas infraestruturas tivesse um impacto significativo no desenvolvimento do país, a acumulação dos défices e o aumento continuado da dívida pública culminou na crise financeira de 1891. Se tivermos em conta que D. Carlos subiu ao trono no Outono de 1889 e o Ultimato britânico aconteceu no Inverno de 1890 é fácil compreender como, a partir de então, a monarquia portuguesa teve os dias contados.

Recordei-me do livro de Gordon G. Chang quando li na The Economist da semana passada que o governo chinês teme que a estagnação económica faça cair o regime, num momento em que ultrapassaram a longevidade do soviético. Assustados com um crescimento anémico e uma deflação crónica, Pequim apostou num programa de estímulos económicos para fazer subir os preços e, com isso, empurrar a actividade económica. Mas o problema chinês é mais fundo e antigo. Inúmeros investimentos de retorno duvidoso que se acumularam com o decorrer dos anos e que acabarão por ser corrigidos de alguma maneira. Não vai ser fácil a nível interno e, tendo em conta a dimensão da economia chinesa, os efeitos vão ser nefastos para o mundo inteiro.

Os dois livros tratam de dois destinos, um que se viu e outro que se adivinha, inevitáveis quando a rigidez (seja imposta pela realidade ou escolhida pelos actores políticos) conduz a mudanças abruptas em detrimento de uma evolução continuada e pacífica.

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