A demagogia política é uma banalidade. O eleitoralismo um clássico. E até as fake news agora tão debatidas como uma novidade dos tempos actuais estão em qualquer livro de história sobre as grandes guerras mundiais. Grave mesmo é quando a soberba se apodera de quem está em cargos que aconselham humildade. Quando alguém se julga superior e menoriza os restantes. Quando nos apercebemos de cada vez mais tiques totalitários. E infelizmente as últimas semanas somaram exemplos consecutivos desse tipo de génios da oportunidade. E não, não foi no Brasil, nem nos EUA. Foi mesmo por cá.
Começo por Mário Centeno. Porque o nosso ministro acha que é melhor que qualquer outro a fazer contas. Despreza quem quer que seja que o contrarie. Até se dá ao luxo de, para consumo interno, dar lições a Bruxelas e ignorar os puxões de orelhas da Europa. Afinal é ele o Ronaldo das nossas Finanças e também o sr. Eurogrupo. Que autoridade têm a UTAO ou o Conselho de Finanças Públicas para o questionar? Para este Governo, entidades independentes e reguladoras existem apenas para fazer número, não para conferir números (ou escrutinar o que quer que seja). Por isso a diferença de um défice de 0.2% para 0,5% é uma questão fácil de resolver, que o diga Adalberto Campos Fernandes. As despesas previstas para os ministérios não são para se fazer e ponto final. É só aplicar as famosas cativações que forem precisas, doa a quem doer, que as contas darão certas no final. E se nem o Bloco nem o PCP se parecem importar com o logro, quem é que críticos se pensam para pôr em causa um Orçamento entregue em cima da hora, mesmo com tabelas erradas e truncadas? Ora essa!
Siza Vieira também se acha acima de todas as suspeitas. Apesar de ser um reconhecido jurista, nunca questionou ou procurou saber se podia gerir empresas e ser governante. Mas agora foi mais longe. Quis-nos fazer crer que não descortinava – mesmo! – qualquer problema do seu novo ministério gerir os interesses hoteleiros representados pela Associação da qual a sua mulher é presidente. Até ganhar o cognome de ministro das escusas, ainda teve o topete de comparar o seu caso ao de um ministro da Saúde ou da Justiça ser casado com um médico ou um juiz, fingindo que a sua situação era absolutamente normalíssima. E achou-se até no direito de usar do sarcasmo e dizer que foram precisos 30 anos para serem descobertas incompatibilidades no seu casamento. Importa-se de repetir?
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