Existe hoje por todo o mundo ocidental um conjunto de ideias, veiculadas de forma consistente, sobre o ambiente e a energia e sobre os expectáveis comportamentos individuais e coletivos, a diversos níveis, que de tão propalado acaba por ser considerado como inquestionável e definidor de verdades universais. Apresentar ideias diferentes que vão contra essas “verdades estabelecidas” nem sempre é bem recebido porque se atreve a contestar o politicamente correto. Mas é fundamental pois contribui para o esclarecimento, fundamentação e discussão das opções que se tomam nas nossas sociedades, sejam elas quais forem.

Países desenvolvidos vs. menos desenvolvidos

As sociedades primitivas utilizavam como principal combustível a lenha e muitas populações que vivem nos países em desenvolvimento ainda o fazem. O desenvolvimento das sociedades ocidentais tem sido fulgurante nos últimos séculos, como provam a evolução do nível de vida que nos tem sido proporcionado. E uma das causas principais dessa evolução tem sido a disponibilidade crescente de energia de uma forma fiável e sustentada. Com a descoberta dos combustíveis fósseis, nomeadamente do carvão, a lenha foi sendo progressivamente substituída pois este era mais eficiente do ponto de vista energético e mais fácil de utilizar. Com o crescimento da população e a industrialização nos países ocidentais, o aumento das emissões para a atmosfera foi crescendo até constituir um fator de poluição ambiental indesejável para os seres humanos e para o planeta, em geral. O aparecimento do petróleo e do gás natural vieram diversificar a oferta de combustíveis fósseis mas as suas emissões, apesar de serem menos nocivas que as do carvão, nomeadamente as do gás natural, continuam a ser prejudiciais.

Ao utilizarem intensivamente energia fóssil as sociedades desenvolvidas deram origem a emissões atmosféricas que ocasionaram problemas ambientais com maior ou menor incidência nas alterações climáticas que se têm vindo a fazer sentir, conforme defendem alguns estudos que se têm efetuado. De uma forma incoerente, os responsáveis destas sociedades, seguindo uma opinião pública com maior resposta a estímulos emocionais que a análises racionais, elaboraram planos para o fecho de centrais nucleares existentes, produtoras de energia limpa e que não apresentavam os efeitos nocivos das centrais de combustíveis fósseis.

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Para as sociedades ocidentais, o problema ambiental da produção de energia parecia ter uma solução simples: o recurso a energias renováveis, nomeadamente, a hídrica, a eólica e a solar (a das marés ainda está a dar os primeiros passos). E esta ideia seria imbatível, não fosse i) a falta de fiabilidade deste tipo de energias para garantir um abastecimento elétrico sem falhas; ii) o elevado custo que está associado à sua produção em larga escala, como bem sabem os contribuintes que a subsidiam; e iii) os impactes ambientais secundários relativos à criação de albufeiras,  utilização dos painéis solares/fotovoltaicos e da implantação das torres das eólicas.

É natural que as sociedades mais desenvolvidas e mais alertadas para estes problemas estejam muito preocupadas e tentem encontrar formas de suster o aumento generalizado de poluição procurando alternativas aos combustíveis fósseis. Daí a preocupação com a descarbonização que querem impor nas suas áreas de influência. E, por arrasto, a outras sociedades, nomeadamente, às dos países em vias de desenvolvimento, principalmente, em África. Detentores das verdades universais que os caracterizaram nos últimos séculos, os responsáveis destas sociedades têm procurado impor esta nova abordagem energética de utilização das energias renováveis aos países menos desenvolvidos, dificultando-lhes a possibilidade de desenvolvimento que as nossas sociedades tiveram no passado pelo consumo da energia proveniente das fontes causadores de muitos dos atuais problemas.

Julgo que se torna claro, que é terrivelmente mediático e emocional apresentar no meio de África um pequeno aglomerado populacional com um moinho de vento ou uns painéis solares que produzem energia suficiente para que se regue uma horta ou carregue os telemóveis que permitem contactar com o mundo. E se tiver um artista conhecido por perto com interjeições sentimentais, ou mesmo uma pequena lágrima, este tipo de documentários multiplicará os views ou os likes de que a nossa civilização está tão dependente. É bonito, mas não resolve o problema essencial que é um nível adequado de industrialização que lhes permita sair dos limiares de pobreza onde vivem. Tal como nos aconteceu a nós.

Como parte de uma sociedade evoluída, não podemos deixar de pensar na responsabilidade que as nossas  sociedades têm, ou tiveram, no atraso a que foram votadas as sociedades dos países habitualmente designados como menos desenvolvidos. Não para lhes pedir desculpa mas para poder ajudá-los. As causas não parecem difíceis de identificar, sem nenhuma ordem especial, até porque dependem de país para país: i) necessidade de ter acesso fácil e barato aos recursos minerais neles existentes, quer durante o período da colonização, quer atualmente, já depois das suas independências; ii) as vantagens de os tornar um consumidor constante de material bélico, produzido pelas democracias ocidentais e pelos países comunistas, que promovem a luta física da guerra fria nos seus territórios, libertando as populações dos países desenvolvidos deste ónus e incómodo; iii) a intolerância religiosa, difícil de combater em países em grande sofrimento económico, onde as populações, muitas vezes, se caraterizam por viver no limiar da pobreza; iv) a dificuldade ou incapacidade de disporem de um abastecimento fiável e sustentado de energia que promova o desenvolvimento económico das populações e dos países propriamente ditos.

Ao ignorar soluções que contemplem o nuclear, não será fácil nem exequível proporcionar aos países menos desenvolvidos a capacidade de começarem a dar condições de vida dignas às suas populações e uma consistente eliminação da pobreza e da fome. Problemas na implementação desta estratégia? Com certeza. Mas tudo na vida é complicado. E quem tiver melhores soluções, mais rápidas e eficientes, que as ponha em cima da mesa.

O ambientalismo apocalítico

Desde tempos imemoriais que as manifestações da natureza, trovões, cheias, secas, erupções vulcânicas, estrelas cadentes e eclipses justificaram a imposição do medo, através de sacerdotes, videntes ou iluminados, que achavam que os podiam interpretar como mensagens dos deuses que eles próprios criavam. Conseguiam, através do receio ou terror, determinar a sua aceitação e a do poder instituído para garantir a supremacia e as regalias que passaram a gozar entre os seus concidadãos. O medo da morte e a esperança numa situação futura mais vantajosa após a sua ocorrência, justificou o sucesso que muitas das religiões tiveram, politeístas ou monoteístas. E não estou a criticar, até porque acho preferível e mais saudável um religioso feliz e satisfeito que um ateu incomodado e em permanente e angustiante stress.

Uma das situações que mais medo provoca é a descrição de cenários apocalípticos que se vendem como reais e que se consubstanciam em argumentos que, na altura e da forma como forem vendidos, podem parecer racionais. Com o aparecimento do Iluminismo Humanista e com a mudança de paradigmas religiosos, assistiu-se ao aparecimento de correntes de pensamento que centravam o mundo mais no espírito humano e na ciência que em Deus. Este Iluminismo Humanista depositava grande esperança na humanidade e, com otimismo, achava-nos capazes de ultrapassar através das inovações tecnológicas os problemas que tínhamos pela frente, nomeadamente, o aumento da população.

Não passou muito tempo para que aparecesse um apocalítico, Thomas Malthus, que defendia que o progresso humano era insustentável e que conduziria ao excesso de população e à fome. Pior, advogava que que o controlo da natalidade era antinatural, defendendo medidas que manteriam os pobres na pobreza.  Admito que a sua intenção até fosse boa e, em sua defesa, há o facto da obra onde apresentou estas teses ser datada de 1789, antes da afirmação da revolução industrial. O que é mais curioso é que as ideias de Malthus não foram descartadas, como as de tantos outros com obras bem mais interessantes, mas deixaram um rasto que se foi mantendo ao longo do tempo e que encontra seguidores até aos dias de hoje. Estas ideias de apocalipse tornaram-se no alimento de muitos ambientalistas que, preconizando grandes desastres naturais, não defendem nem querem encontrar as formas de os resolver, contornar ou mitigar devidamente.

Defendem o encerramento de centrais a carvão e a gás para restringir as emissões na atmosfera, são contra a construção de barragens por destruírem ecossistemas e a eventual deslocação de populações, incomoda-os as eólicas porque desfiguram a paisagem e perturbam os fluxos migratórios de aves e criticam os painéis fotovoltaicos pela ocupação de terrenos agrícolas e porque afetam a vida selvagem. Seria de esperar que sugerissem uma energia limpa e fiável sem emissões nefastas para a atmosfera, mas não, são também contra as centrais nucleares, baseados em ideias obsoletas e com preocupações de segurança que, hoje em dia, estão já bem resolvidas.

Os adeptos deste ambientalismo apocalíptico pretendem, aparentemente, condicionar as pessoas com a criação e institucionalização de medo primário que permite um maior controlo das sociedades e uma boa desculpa para se definirem limitações das suas liberdades fundamentais, individuais e coletivas, mais ou menos graves, quando existam.

E é sempre muito mais fácil gerar o pânico que discutir os problemas de forma civilizada, racional e com bases científicas. Quanto menor for a informação objetiva e a educação das pessoas mais o medo e o pânico se afirmam e mais fácil é cercear a liberdade.

Olhando para a situação que agora vivemos, não posso deixar de pensar que muitos dos medos gerados atualmente têm a ver com o facto de, pela primeira vez, a violência física e destrutiva da guerra fria, agora remoçada, não estão a acontecer em África e noutros pontos distantes do globo, mas sim à nossa porta, a distâncias que se podem percorrer facilmente de automóvel. O medo de uma guerra mundial, que poderá envolver a utilização de armas atómicas é real e continua a ser explorado pelos media, não sei se apenas por informação desinteressada ou porque o medo vende, gerando audiências sempre tão procuradas.

Parece-me, portanto, fundamental combater o medo com educação, divulgação dos conhecimentos científicos e respeito pelas pessoas. Ou seja, passar de um ambientalismo apocalíptico para uma interiorização ambiental consciente e inteligente.

Soluções energéticas

Embora as soluções energéticas existentes na Europa tivessem problemas a vários níveis, foi a invasão da  Ucrânia pela Rússia que as trouxe para a ordem do dia e que veio acentuar as fragilidades com que atualmente nos deparamos.

O mix energético europeu é caraterizado pela inclusão de energias fósseis, carvão e gás natural, energias renováveis (hídrica, solar e eólica) e energia proveniente de centrais nucleares.

Do ponto de vista ambiental, há uma grande preocupação com as emissões para atmosfera das energias fósseis porque, segundo muitos autores com maior ou menor relevância científica, estas emissões são uma causa importante das alterações climáticas, que têm caracterizado a nossa realidade nas últimas décadas, e também, do eventual aquecimento global. Daí haver uma tendência para se evoluir do carvão para o gás nas centrais de produção de energia elétrica.

As energias renováveis têm vindo a ser desenvolvidas e são vistas como uma excelente solução para o futuro, situação com a qual concordo totalmente. Poderão passar, eventualmente, a ser a única fonte de produção energética necessária para o nosso desenvolvimento e para a manutenção dos padrões de qualidade de vida contribuindo para a extensão da disponibilidade energética adequada para toda a humanidade.  Infelizmente, não se sabe quando isto poderá acontecer e, a não ser que haja evoluções científicas e tecnológicas que não se vislumbram neste momento, vamos ter que esperar várias décadas. Mas os problemas vão persistir e não se vão resolver, nem com abaixo-assinados, nem com manifestações de rua.

Apesar de tudo, do ponto de vista ambiental, a energia eólica está dependente da intensidade dos ventos, que não se podem controlar e as pás das eólicas, geralmente a mais de 100 m de altura provoca, impactes sonoros e impactes visuais negativos, constituindo uma ameaça às aves locais e migratórias.  Já os painéis fotovoltaicos, que não podem ser reciclados, têm por vezes uma ocupação significativa de solos agrícolas e podem ser considerados como destruidores de ecossistemas locais. O principal inconveniente dos painéis solares são os produtos químicos necessários à sua fabricação.

A utilização de energia hídrica, que se baseia maioritariamente na utilização de água armazenada, tem cada vez maior dificuldade em se afirmar pela variabilidade dos regimes hidrológicos que poderá estar associada às alterações climáticas. As variações significativas ao nível da pluviosidade, levam a que pressupostos de afluências às albufeiras baseados em séries hidrológicas passadas possam perder muito do seu rigor de cálculo. Além disso, há uma forte oposição de ambientalistas para se construírem novas barragens e criação das respetivas albufeiras já que a inundação de áreas que as carateriza levanta problemas de natureza social, com eventuais deslocações de populações, de destruição de alguns ecossistemas existentes, alterações climáticas locais e até de natureza de preservação do património cultural. Além disso tem havido um desvio da água armazenada nas albufeiras para abastecimento público e para necessidades mínimas na agricultura, diminuindo a possibilidade de contribuição da energia hídrica para a quota das renováveis destinadas à produção de energia elétrica.

Neste contexto de falta de água, a dessalinização pode vir a constituir uma alternativa inevitável, principalmente para o abastecimento de populações em zonas mais carenciadas e em zonas turísticas costeiras de grande variabilidade sazonal. Mas, para isso, é preciso dispor de energia elétrica, a preços aceitáveis, em menor ou menor escala dependendo das necessidades que se vierem a verificar. E, mais uma vez, com o atual enquadramento energético, a energia nuclear poderia dar um contributo muito válido.

Por fim, a produção de energia nuclear, considerada agora como energia verde pela União Europeia, é uma fonte de energia limpa e mais barata que as anteriores, mas que tem vindo a ser demonizada por grupos ambientais e pelos lobbies das centrais de gás e carvão, primeiro pela falta de segurança das centrais de produção, depois pela possibilidade de acidentes apocalípticos em caso de mau funcionamento e, por fim, pelo difícil armazenamento dos lixos nucleares produzidos pelas centrais. Hoje em dia, com a evolução tecnológica que ocorreu, as centrais nucleares já não constituem o perigo que antigamente, com ou sem razão, se lhes associava. Da mesma forma, os resíduos nucleares dispõem hoje de formas de tratamento, armazenamento e reciclagem com menor risco que muitas das nossas atividades quotidianas. No entanto o anátema persiste, muito devido à lavagem cerebral do politicamente correto.

Identificadas as fontes de energia, vamos ver qual tem sido a tendência europeia até à guerra na Ucrânia:

  1. Uma aposta nas renováveis, que os consumidores subsidiam através do pagamento de preços mais elevados quando a eletricidade que gastam é produzida por outras formas;
  2. A substituição das centrais a carvão por centrais a gás, para diminuir emissões nefastas na atmosfera. As preocupações sobre a disponibilidade de energia acessível e fiável têm vindo a aumentar com o que se tem passado nos últimos meses. Infelizmente, tal como uma parte importante das reservas petrolíferas, o gás natural existe em países difíceis, quer do ponto de vista de racionalidade e estabilidade políticas, quer do ponto de vista religioso. A dependência do gás russo e a construção dos Nord Stream I e II, podia-se, talvez, justificar no pressuposto que a racionalidade política e económica entre os fornecedores e utilizadores não seria posta em causa. Imagino que tenha sido com base neste princípio que a Alemanha se predispôs à dependência que hoje tem. Outros países não fizeram mais do que seguir-lhe o exemplo até porque, talvez, tivessem mais dificuldades físicas e financeiras para explorar alternativas com a melhor das intenções, tornou-se num desastre energético de dimensões ainda não totalmente conhecidas. Tal como a dependência do gás do Norte de África poderá vir a constituir uma solução difícil se houver falta de estabilidade política em Argélia e em Marrocos ou um aumento descontrolado de qualquer fanatismo religioso. Embora pareçam estáveis neste momento, é difícil adivinhar a possibilidade de eventuais constrangimentos futuros;
  3. O fecho de centrais nucleares, para satisfazer os lobbies ambientais da moda e os discretos mas eficientes lobbies do carvão e do gás, a quem a produção de uma energia limpa e mais barata seria muito inconveniente. Há alguns países com bom senso que não se deixaram ir totalmente nesta onda, como seja a França, e outros que decidiram apostar fortemente no nuclear, caso da Finlândia.

Se os combustíveis fósseis (carvão e gás) são responsáveis pelas emissões indesejáveis na atmosfera e uma vez que as energias renováveis não os conseguem substituir totalmente, porque não utilizar a energia nuclear para conseguir a satisfação da procura? Porque não se estuda uma resposta a esta pergunta, de forma o mais objetiva e desapaixonada possível, sem preconceitos ambientalistas baseados em experiências passadas e o mais longe possível dos lobbies interessados apenas em manter um status quo vantajoso para alguns? Porque nos mantemos permanentemente a defender soluções que sabemos que não funcionam, ou que funcionam mal, sem sequer tentarmos algo de diferente?

Os modelos de sociedade que hoje em dia se defendem, um pouco por todo o mundo, estão, em minha opinião, desajustados e filosoficamente ultrapassados. A revolução tecnológica exponencial que se tem registado nas últimas décadas (e nem sequer estou a considerar a forma como a Inteligência Artificial nos vai afetar) com a abertura de novos desafios e modos diferentes de vivermos o dia-a-dia não se compadece com interpretações exclusivamente marxistas, socialistas, liberais ou capitalistas, baseadas em conceitos ideológicos estruturados e definidos nos séculos passados e que, surpreendentemente, continuam a constituir os chavões que se utilizam hoje em dia. É necessário criar um novo paradigma.

Qualquer que seja essa nova definição, parece-me que será obrigatório e inultrapassável conseguir acabar ou diminuir significativamente, a fome e a miséria, desenvolvendo as sociedades mais carenciadas, facultando-lhes a possibilidade de evoluírem para soluções mais justas e menos degradantes para as suas populações. E, para isso, é necessário dar-lhes condições para se desenvolverem da mesma forma como as sociedades ocidentais se desenvolveram e que nos permitiram estar onde estamos. E tal só se consegue com a possibilidade de utilizarem energia limpa e barata.

O que é interessante é que uma abordagem racional do ponto de vista da produção de energia e da diminuição das emissões para a atmosfera, não parece justificar a demonização da energia nuclear. A tecnologia tem evoluído significativamente nos últimos anos, contribuindo significativamente para a segurança das centrais, em si, e para um tratamento e armazenamento adequado dos resíduos radioativos que são produzidos. Além disso, relatórios mais recentes da ONU e da OMS sobre Chernobyl e Fukushima, apresentam visões que contrariam as estimativas iniciais sobre os impactes na saúde da populações. Mesmo no acidente em Three Mile Island (1979), que teve um impacte tremendo na opinião pública mundial, não se registaram vítimas mortais. Ou seja, aparentemente a utilização da produção de energia nuclear têm riscos inferiores aos das outras formas de produção de energia e de muitas atividades normais do nosso dia-a-dia. Mas a primeira impressão que é dada é a que fica na memória e no subconsciente e é, tantas vezes, imune a quaisquer desmentidos ou correções posteriores.

Conclusão

As energias renováveis ainda não conseguem, por si só e nas próximas décadas, satisfazer a procura de energia das sociedades, independentemente do seu grau de desenvolvimento. Garantir a disponibilidade de uma energia fiável é fundamental para mantermos o nosso nível de qualidade de vida e para criar condições para a erradicação da pobreza e da fome, a nível mundial.

O recurso às energias fósseis deverá ser diminuído tão depressa quanto possível, por questões de preservação e conservação do ambiente e das eventuais responsabilidades que tenha nas alterações climáticas e na ocorrência mais frequente de fenómenos extremos.

Com este enquadramento, julgo que seria globalmente vantajoso incluir no cenário energético um forte recurso à energia nuclear, enquanto tal for necessário e desejável. Como é, atualmente.

A evolução tecnológica das centrais nucleares destinadas à produção de energia elétrica tem permitido resolver os problemas de segurança do processo de produção e de reciclagem e armazenamento dos resíduos radioativos. Mas face à conotação negativa que tem vindo a ser consistentemente veiculada em relação à utilização da energia nuclear, seria conveniente que fosse lançada uma campanha de informação e esclarecimento séria, baseada em factos científicos  para inverter as reticências da opinião pública em relação à construção de centrais nucleares e seria sensato que os países que estão a considerar a sua desativação refletissem sobre a bondade de tal resolução, à luz dos acontecimentos atuais.

A energia nuclear pode, assim, constituir um bom, se não imprescindível, complemento das energias renováveis disponíveis, promovendo, ao mesmo tempo, a substituição das centrais a carvão e a gás natural.

Portugal, sempre na vanguarda mediática provinciana, aposta de uma forma oscilante nas renováveis, quer ir atrás das tendências europeias de substituir o carvão por gás e rejeita qualquer experiência de energia nuclear.

Julgo que está na altura de encararmos o futuro de frente, antecipando problemas para cuja resolução devemos estar preparados. Para os mais ingénuos, isto deveria ser a preocupação principal de qualquer governo e dos responsáveis eleitos que representam as pessoas, as suas ansiedades e as das gerações futuras. Aparentemente, não é. Ainda.