Ouvi, com muita atenção, o discurso de Nuno Melo (NM) nas jornadas parlamentares do CDS, assim como li, com redobrado interesse, a entrevista que deu ao Observador. A minha reacção foi (julgo que a de muita gente): Será que é desta?!

Recordemos: NM já podia ter sido Presidente do CDS por mais de uma vez. Não foi porque não quis. Lá terá tido as suas razões e ninguém tem nada a ver com isso.

Em termos políticos NM estará muito mais perto de Francisco Rodrigues dos Santos (FRS) do que da ala liberalizada, derrotada no último Congresso. Aliás, o discurso de NM – ansiosamente esperado – de apoio a João Almeida, ajudou – e bastante – FRS. Se existe crítica a esta direcção é a de não ter agradecido convenientemente a prestação de NM em Aveiro e a ajuda que deu à vitória de FRS.

NM é conhecido por, entre outras qualidades, fazer discursos inflamados com – boas – metáforas bélicas. Uma que me ficou foi a do “Fogo Amigo” (Oliveira do Bairro/2014) que, como se sabe, é bastante mortífero em teatro de guerra. Na altura, o alvo de NM, era o Alternativa e Responsabilidade – do qual fazia e faço parte – em particular o seu membro mais proeminente, Filipe Anacoreta Correia (FAC). Como era de esperar a casa veio abaixo com os aplausos.

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Depois, bastante mais tarde, o mesmo NM referiu-se num Conselho Nacional (CN) à sua experiência em Cavalaria, em particular ao lema que está inscrito na Porta de Armas de Santarém: “Aqui é a Casa da Cavalaria”. Disse-o como metáfora para o CDS ser a casa das direitas.

Por ter cumprido o SMO em Cavalaria, tal qual NM, gostei da dita e senti-a fundo (coisas de quem fez a tropa). O CDS devia ser a casa das direitas. Ou seja, o Partido devia ser capaz de albergar as várias facções/tendências sem excluir nenhuma. No fundo, somos todos de direita.

O que me parece – mas é só um feeling – é que, agora, NM se esquece que, na tropa, existe uma cadeia de comando. Que existem regras, hierarquias, planos, estratégias e tácticas. E que, quando se está em “guerra”, não é viável colocar em causa toda e qualquer opção de quem está no comando.

No CDS existe uma Direcção democraticamente, livremente e legalmente eleita. É essa direcção que tem na sua mão – e nos seus ombros – a responsabilidade de guiar o Partido. A seu tempo será julgada pelos resultados que obter. Fico, pois, confuso com as últimas declarações de NM. Então e o “Fogo Amigo”? É que, já agora, o que têm feito senão isso, os derrotados – não todos – do Congresso? NM quer e deseja este tipo de apoiantes? Bom, não são contas do meu Rosário. Nas páginas do Observador escrevi um texto, no consulado de Assunção Cristas (AC), em que criticava abertamente a TEM (tendência ultraconservadora dentro do CDS). Fi-lo, não por ser da direcção – que não era – mas por ser contra quem anda na praça pública a atacar o partido. Durante a presidência de FRS tenho escrito mais vezes exactamente pelas mesmas razões (e também não sou da direcção). A razão é que o “fogo amigo” é sempre perigoso, especialmente para quem está na linha da frente.

Mas voltemos à Casa das Direitas: não posso estar mais de acordo. No entanto, uma pequena nota: a Iniciativa Liberal e o Chega nasceram e cresceram antes de FRS ser presidente do CDS. Convém lembrar. Ou seja, o CDS que todos acolhia, tinha falhado redondamente na tarefa de impedir a criação de forças políticas dentro do seu espaço natural. Não assumir este facto como uma derrota da direcção de AC é pura desonestidade intelectual (ainda espero uma análise ao que correu mal, por parte de quem teve responsabilidades na condução política).

Concluindo: estarei ao lado de FRS. Mas, tal qual aprendi na minha outra grande escola de vida – o Rugby – estarei sempre pronto para os embates duros, leais e honestos, em que, quem perde, abre corredor e bate palmas ao adversário e com ele vai beber uns copos (ou vai a uma caçada às perdizes….) porque não se faz partido com amuos, egos exacerbados e desistências (e menos ainda por quem se agarra aos lugares como lapas às rochas). Constrói-se partido com ideias, união, respeito pela instituição e por quem está ao comando da mesma (como aprendi na tropa, não é à pessoa – nem à idade – que se faz continência, mas ao posto e ao que ele representa).

É com este espírito que abraço todo e qualquer combate. Sei – não estou a ironizar – que NM não se enquadra nas categorias acima descritas e que também é do seu timbre o gosto pelo confronto puro e duro. O que já não sei é se NM não virá a ser atingido por “fogo amigo”.

Dito isto e até Setembro, um combate – bem duro – nos convoca a todos: as eleições autárquicas.