A Madeira tem sido um bom exemplo da forma como uma região ou um país devem combater uma pandemia como a do coronavírus. Apesar de não haver histórico, sobre idênticas situações, logo que apareceram os primeiros casos, o Governo Regional tentou encerrar o aeroporto CR7 para impedir a importação do vírus e escoar, ao máximo, os milhares de turistas que se encontravam na ilha. Não conseguiu por questões nacionais e europeias, mas tomou a decisão de controlar a entrada de viajantes, mesmo de madeirenses deslocados, impondo uma quarentena em unidades hoteleiras. Foi uma medida corajosa, pois a legalidade e constitucionalidade, poderia ser contestada já que o Estado de Emergência não estava ainda em vigor, mas mais do que isso, o apelo às companhias aéreas para não trazerem pessoas para a ilha, teve grandes riscos, pois a Madeira vive do turismo e das suas receitas. Mais tarde, a decisão do Governo da República de controlar as pessoas nas fronteiras com a Espanha, impedir a circulação entre concelhos e encerrar os aeroportos na Páscoa, veio dar razão à opção madeirense.

A Região Autónoma, seguindo bons exemplos internacionais, antecipou várias medidas como a quarentena nas viagens ente a Madeira e o Porto Santo, já que esta última ilha disponha de voos diretos com países europeus muito afetados, o encerramento de serviços públicos não essenciais, das escolas, dos museus, o fecho de toda a hotelaria, centros comerciais, comércio, restauração, e também da atividade da poderosa da construção civil e fez intensas campanhas na comunicação social apelando ao confinamento dos cidadãos. Em ilhas em que o turismo e os serviços associados e a atividade das obras públicas e privadas representam metade do Produto Interno Bruto e empregam a maior parte da população ativa, foi necessária muita ousadia e audácia para fazer parar estes setores.

Esta estratégia que passou também por Planos de Contingência em várias instituições e, desde o início da pandemia, com a proibição de visitas aos lares, parece ter dado resultados, já que o número de infetados, de pessoas em vigilância  é o menor do país, a propagação do vírus parece controlada, pese embora a realização de poucos testes, praticamente não houve doentes em estado muito crítico, estando a maioria a ser tratada em casa e, felizmente, por enquanto, não se registaram óbitos.

É evidente que este caminho terá um custo muito elevado para uma terra, cuja economia depende quase totalmente do exterior, mas chegados aqui, convém não baixar a guarda, e qualquer abertura terá que ser feita de forma gradual e testada. Seguir os melhores exemplos de outros países, que conseguiram limitar os danos na saúde das populações, adaptando-os à realidade de duas ilhas ultraperiféricas é o modelo que está a ser trilhado com perseverança e coragem. Gerir o desconhecido, as incertezas e conjunturas nunca antes passadas, exige muita capacidade de risco.

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Por um lado, temos o Serviço Regional de Saúde, os médicos, a proteção civil a quererem manter e, se possível, aumentar as medidas de contenção e por outro, estão os investidores, os empresários e os trabalhadores a pedirem a retoma da atividade comercial e económica, já qua a região tem a economia paralisada há mais de um mês. Encontrar o ponto de equilíbrio entre estas duas forças é o que se pede a quem governa, sendo que é uma tarefa de enorme complexidade pelo que envolve de pressões de múltiplos intervenientes.

“Sem pessoas não há economia”– é a partir desta premissa que se tenta encontrar o melhor momento para ir aliviando as medidas restritivas que foram tomadas e que estão a provocar efeitos devastadores no tecido empresarial e social da Madeira e do Porto Santo. É verdade que, também, nesta área, a Região criou a melhor linha de crédito do país no valor de 100 milhões de euros que, nalguns casos, se pode transformar em subsídio a fundo perdido, adaptado às micro e pequenas empresas regionais e alinhavou um conjunto de apoios aos trabalhadores independentes, às Instituições Particulares de Solidariedade Social e às creches e escolas privadas para minimizar os efeitos de toda esta situação.

Enquanto aguarda pela solidariedade do Estado, a exemplo do que a União Europeia fez com os Estados membros, nomeadamente em termos de dívida e défice, a Madeira vai fazendo pela vida com parcos recursos e prepara-se para distribuir máscaras por toda a população, muitas delas confecionadas por fábricas regionais, numa operação que pode ser um primeiro passo para começar a aliviar o isolamento social e abrir as atividades económicas em condições de maior segurança. Infelizmente, só agora, passados mais de 50 dias, é que a Direção Geral de Saúde conclui que a máscara deve ser usada, sobretudo em recintos fechados. Mais vale tarde que nunca, mas a teimosia pode ter custado muitas infeções, e na saúde, como noutras situações, mais vale prevenir que remediar.

A cooperação institucional entre o Representante da República, a quem segundo a Lei, cabe executar o Estado de Emergência na Região, o Governo Regional e o Parlamento, que tem estado informado sobre as decisões tomadas, tem sido crucial para uma boa compreensão e aplicação das medidas, uma vez que tem havido uma boa articulação entre as Forças Armadas, com a Força Aérea a abastecer semanalmente a Região de material cirúrgico, as forças policiais e os meios logísticos do Governo Regional. Assim como,

Importa sublinhar o pacto que tem existido entre os Órgãos de Governo próprio, forças políticas e parceiros sociais para não politizar qualquer questão que ponha em causa um combate eficaz à pandemia e a travagem da recessão e da devastação social. A exemplo do civismo que os madeirenses têm demonstrado seguindo as orientações das autoridades de saúde, os agentes políticos têm tido, maioritariamente, um alto sentido de responsabilidade no tratamento público das matérias relacionadas com as medidas tomadas para combater a Covid 19 e as suas consequências.

Hoje, o tempo é de unidade na diversidade para vencer, rapidamente, esta crise. Chegará o dia em que teremos tempo para debater e avaliar a atuação e o acerto das medidas e do comportamento do Executivo, na certeza de que ninguém estava preparado para uma calamidade desta dimensão e que todos estamos a aprender dia a dia com o evoluir da pandemia e com esta nova realidade. Se nem os cientistas se entendem sobre determinadas medidas, não se peça aos políticos mais do que prudência, bom senso e coragem.