Ouve-se uma conversa gravada nos 40 anos do Centro Nacional de Cultura entre Helena Vaz da Silva e Gonçalo Ribeiro Telles e a lógica das ideias, a sequência pela qual são naturalmente apresentadas, a clareza com que este explica temas que hoje são absolutas prioridades nacionais, a serenidade convicta com que o faz, e agradece-se.

A ideia da independência só possível com a defesa da identidade e da cultura, conclusão da liberdade criativa. A forma como demonstra que o facto de ser monárquico (os) possibilitou uma abertura a um debate supra partidário que permitiu a discussão de um leque muito amplo e aprofundado de problemas concretos; a de que foi a Doutrina Social da Igreja e a sua preocupação com o social o ponto de partida para uma realidade que tinha (e tem) que ser mudada para a dignificação do Ser Humano. E de como descreve e compreende a cidade, conjunto de coisas (lagos, passeios, ruas, jardins e quiosques) e homens, que utilizam as coisas como forma de exaltação da sua vocação e nunca como formas de o condicionar ou minimizar. Quer lhe chamemos cidade, território ou modelo de crescimento económico. Que tem que tornar possível essa vivência plena, dando soluções concretas. Em politicas de habitação, no combate à corrupção, na harmonização das práticas ambientais, na defesa da verdadeira democracia, só alcançada por Homens Livres.

E o repto final: recuperar o país. Com os novos pontos de diálogo que o país precisa.

Está quase tudo ali. Mesmo no que não é dito: a questão estratégica da água em Portugal e a sua relação com a transição climática e a exploração do território, as desigualdades regionais que quebram a coesão, a demografia e a dramática quebra de natalidade, a crise de confiança nas instituições.

Faz-nos falta quem nos fale assim.

Mas deixou-nos o guião. Agora falta pô-lo em prática.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR