Na época da guerra fria, não obstante as agudas contradições políticos e económicas entre a URSS e o Ocidente, o petróleo e gás russos corriam sem qualquer tipo de obstáculo para a Europa através de oleodutos e gasodutos com nomes bonitos como “Drujba” (Amizade). Porém, os combustíveis passaram a ser uma das armas fundamentais na nova guerra entre a Rússia e o Ocidente.
O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, fez todos os esforços para que o gasoduto “South Stream” (Corrente do Sul) ligasse o seu país ao Sul da Europa. Moscovo, confiante do êxito da obra, já investira nela mais de quatro mil milhões de dólares ainda antes de chegar a acordo com Bruxelas. Porém, inesperadamente para muitos, o dirigente russo anunciou o seu fim, acusando a União Europeia de se opor à realização desse projecto.
“Consideramos que a posição da Comissão Europeia não era construtiva. E se a Europa não o quer realizar, significa que ele não será realizado”, sublinhou ele.
Depois da construção com êxito do “Norte Stream” (Corrente do Norte), entre a Rússia e a Alemanha através do Báltico, a construção da Corrente Sul enfraqueceria fortemente as posições de trânsito da Ucrânia, correndo o risco de ver transformado o seu obsoleto complexo de transporte de gás para a Europa num monte de sucata.
A União Europeia não se opunha à construção do “South Stream”, mas impunha condições: o respeito pelo terceiro pacote energético, sendo uma das cláusulas mais importante que o gasoduto deveria ser acessível ao transporte de combustível de operadores privados.
Porém, essa não é a única causa. Empresas europeias e norte-americanas tencionam investir na modernização do sistema de transporte de gás ucraniano.
Claro que não era de esperar que Vladimir Putin se desse por vencido e decidiu construir um gasoduto para substituir o “South Stream” até à Turquia. Uma parte do gás natural russo irá ser canalizado para os consumidores turcos, mas outra parte será para vender a países europeus na fronteira entre a Grécia e a Turquia. Segundo o projecto, o novo tubo transportará 63 mil milhões de metros cúbicos por ano, 14 mil milhões ficarão para consumo da Turquia. Deste modo, Moscovo tenta criar uma nova forma de diminuir o papel do sistema ucraniano do transporte do gás russo para a UE.
Seja como for, a construção do novo gasoduto para a Turquia exigirá, no mínimo, três anos. Até lá, a Ucrânia continuará a ser vital para o fornecimento de combustível russo à Europa, pois é através dela que passa mais de 50% dos fornecimentos russos. Por isso, o mais aconselhável é a Rússia e a UE deixarem-se de guerras de combustíveis e concentrarem-se na solução do problema da Ucrânia.
A visita relâmpago do Presidente francês, François Holande, parece visar dar um novo impulso às conversações de Minsk, com vista a travar o conflito no Leste da Ucrânia. Resta saber qual será a fórmula da solução.