Ontem, 1 de Dezembro, celebraram-se os 378 anos da revolta dos Conjurados contra a União Ibérica. Portugal voltara a ser um país independente, depois de 60 anos sob o reinado dos Filipes. Mas em Portugal pareceu um sábado normal. Como não foi possível gozar o feriado, esqueceu-se a história.
Os jornais ignoraram completamente o significado da data. O Público foi mesmo longe chamando ao 1 de Dezembro o “dia mundial contra a sida.“ Acho muito bem que se preste atenção a uma doença tão grave e que se mostre solidariedade com os portadores do virus HIV. Nada contra e tudo a favor. Mas há no título do Público um toque provocador, e até crítico: como se a celebração do 1 de Dezembro de 1640 fosse uma manifestação nacionalista. Os semanários, o Sol e o Expresso, também ignoraram a Restauração da independência.
Em 1640, no contexto da luta das nações europeias contra a ordem imperial dos Habsburgos, um grupo de valentes cidadãos portugueses também se revoltou para restaurar a independência nacional e dar o poder à nova dinastia dos Bragança. Não interessa discutir a Guerra dos Trinta Anos e os conflitos europeus, mas foi seguramente um momento de resistência e revolta contra um poder imperial. Além da dimensão europeia, também interessa salientar o plano ibérico. Foi em Dezembro de 1640 que a nação portuguesa se tornou a única a garantir a sua independência perante o poder de Castela na Península Ibérica. Não deixa de ser extraordinário que haja em Portugal quem esteja mais disponível para entender as aspirações da Catalunha do que para celebrar a independência de Portugal.
A celebração da independência portuguesa nada tem de nacionalismo. Não há aqui qualquer hostilidade contra outras nações ou contra estrangeiros. Há o reconhecimento de que a auto-determinação nacional e a soberania política são condições para o exercício da liberdade. Não há liberdade nas nações subjugadas a poderes imperiais.
A nossa independência nacional é tão antiga, uma das mais antigas na Europa, que muitas vezes os portugueses a dão como adquirida. É um erro. Nada de importante deve ser tratado como se fosse adquirido. A vontade é a primeira condição para mantermos a nossa independência. Mas a vontade de lutar para manter a soberania nacional começa com o reconhecimento da história, com a consciência de que os nossos antepassados combateram e sofreram para conquistar e reconquistar a liberdade nacional. É verdade que sem democracia não há liberdade. Mas sem auto-determinação nacional também não há liberdade (nem democracia).
As gerações que herdam um país independente têm que cumprir uma obrigação: manter essa independência. Nem todas as intenções dos Conjurados de 1640 foram as mais nobres, mas o que interessa é o resultado. 378 anos depois, sinto-me agradecido por um grupo de portugueses ter acreditado que seria possível voltar a viver num Portugal independente. Compete-nos a nós preservar essa independência e passa-la às gerações futuras.