Há propostas que pela sua demonstração de estupidez e ignorância deviam pagar multa. E pesada.
O PAN, primeiro, e o PSD, depois, decidiram trazer para a agenda política o interessante assunto das declarações de interesse dos políticos e outros titulares de cargos públicos. É, de facto, um tema que neste momento pode fazer a diferença na forma como o país deve ultrapassar os seus problemas. Sem dúvida.
E o que querem então saber estes astutos políticos? Quem é da Maçonaria e quem é do Opus Dei. É uma informação indispensável para avaliar em que mãos estamos entregues. Segundo estes senhores, está aqui a origem de todos os males e para eles não faz sentido a máxima de que não se comparam batatas com cebolas.
Independentemente do juízo geral sobre os riscos e atropelos democráticos de tal proposta, detenho-me sobre o facto de se juntar o Opus Dei a estas associações de malfeitores.
Do PAN já se percebeu que nada de bom podemos esperar. Mas do maior partido da oposição, partido de alternância de Governo, devíamos esperar muito mais. Ao radicalizar, tornando obrigatória a inútil declaração da já estúpida proposta do PAN, o Dr. Rui Rio demonstra que das guerras com o Futebol Clube do Porto, à frente de uma autarquia, para a liderança do PSD nada evoluiu nem nada aprendeu. Devia ficar lá, na associação do bairro.
O Opus Dei, a par de muitas outras associações, ordens e movimentos, é uma prelatura pessoal da Igreja Católica, onde os seus membros encontram uma forma adequada de viver o seu carisma dentro da instituição.
No Opus Dei há oração, formação espiritual aberta a quem estiver interessado, obediência à Santa Madre Igreja, obras de cariz social, de caridade e de missão. É isto. Esta é, aliás, a proposta a todos os milhões de católicos pelo mundo fora. Cada um é chamado a cumprir, de acordo com a sua circunstância, o mandato de Jesus Cristo: “Ide por todo o mundo e anunciai o Evangelho.”
Querem saber qual é o segredo do Opus Dei? Ótimo. Leiam e pratiquem o Evangelho. Livro mais aberto não há.
Ou, então, a ideia é vasculhar a vida quotidiana de cada um? O que faz? Como faz? Com quem faz? E, já agora, fazer um index de práticas que são ou não são aceitáveis de acordo com o Dr. Rui Rio. Ou de acordo com muitos opinadores, supostamente cultos, que falam do que não sabem nem conhecem. Mas como se trata de católicos não faz mal. Já se estivéssemos a falar de muçulmanos, a história era outra.
Está na moda elogiar o Papa Francisco. Todos os políticos portugueses gostam de ter na secretária a fotografia ao lado do chefe da Igreja Católica, este ou um dos seus antecessores. Enche-se a boca com o grande valor democrático que é o respeito pela liberdade religiosa. E depois cai-se na tentação de alinhar em teses ignorantes que rotulam uma das suas organizações como uma associação de malfeitores. Ler uns livros, às vezes, faz falta.
Na história política da nossa democracia houve três membros de relevo que nunca esconderam a sua pertença ao Opus Dei. Francisco Oliveira Dias, o presidente do Parlamento que defendeu com trágico custo pessoal a casa da democracia durante um ameaçador cerco ao Parlamento promovido pelas forças do PREC. A sua mulher morreu de enfarte na sequência deste episódio. Adelino Amaro da Costa, morto ao serviço do país, até hoje, em circunstâncias mal esclarecidas. Mota Amaral, presidente do Governo Regional dos Açores e presidente impoluto da Assembleia da República.
Pelo que fica dito antes, são de facto três figuras cujo percurso nos deve deixar preocupados.
Não sou do Opus Dei, sou de Comunhão e Libertação, mas diante de tal disparate, digo como John F. Kennedy diante do muro de Berlim: Ich bin ein Opus Dei.
Já agora, quando o Papa Francisco aterrar em Lisboa para a Jornada Mundial da Juventude, o Dr. Rui Rio podia levar-lhe o dossier das queixas contra esta associação de malfeitores que tão mal tem feito ao país.