O doce fazer nada não é propriamente sinónimo de preguiça mas sim de ócio. De experimentar o suave passar do tempo em modo de sossego. O tempo doce de descanso é terno, silencioso, moroso e voluptuoso. É a afinação do princípio do bem-estar. É um ensinamento do modo de estar italiano, um modo de aproveitar a vida e os momentos. O tempo que torna a vida mais doce.

É mais do que sabido como é importante descansarmos e dedicarmos um tempo a não fazer nada, a não planear, a deixar escorregar o pensamento para onde ele for, a adormecer e a sonhar. É quando descansamos que o hemisfério direito do cérebro é estimulado. O lado da nossa imaginação, criatividade e o sentimento de prazer são activados. Se fisicamente, o corpo pode deslizar numa aparente indolência, a vitalidade cerebral move-se com o brilhantismo sináptico que é estimulante e não propriamente estupidificante.

A visão moderna do ócio assume um carácter um tanto pejorativo, sendo visto como um insulto ao valor do trabalho, mas se lembrarmos o pensamento da Grécia antiga, nomeadamente Séneca, o ócio era encarado como uma forma de abrir conhecimento sobre si e dos outros, na sequência da actividade contemplativa ao estado do observador. A paideia era um sistema de educação que se mantinha ao longo da vida, de modo a buscar o sentido da existência e o homem procurava ser um ser perfeito, ético e criativo. Nesse sistema havia espaço para os saberes formais e informais. E era desse modo, onde o tempo do ócio era incluído, que podia pensar-se livremente, que podiam os homens dedicar-se a pensar questões importantes. Para Platão o ócio era o princípio da filosofia, pois só com liberdade de tempo, o Homem poderia pensar.

A verdade é que se não nos desligamos do tempo do trabalho, do tempo do compromisso, do tempo dos afazeres, não limpamos a cabeça, não deixamos de conduzir a nossa vida numa espécie de piloto automático tarefeiro. E se não damos folga a esse tempo e a nós mesmos, não conseguimos atingir o lugar de repouso tão necessário a uma vida física e mental indispensável. Afinal, só se sonha bem se dormimos descansados.

Não deveríamos nós colocar igual valor ao tempo dedicado ao trabalho e ao repouso? Um corpo fatigado e cabeça cansada, deixam de ser capazes de produzir convenientemente. Cada vez mais se tem a noção que é necessário parar e desligar. Não somos máquinas com engrenagens infalíveis. Este tempo de férias, por mais preocupações que possam existir, deve ser aproveitado ao máximo para conseguir desanuviar e conseguir conquistar o lugar de evasão e quebrar rotinas abraçando o dolce far niente. Aproveitar não olhar para o relógio, caminhar sem destino, sonhar acordado, bocejar, adiar o levantar-se, passar mais uma vez pelas brasas, olhar a paisagem, deixar-se sentir livre. E sabe-se até que é nesses momentos, precisamente, que se encontram algumas ideias de eureka tal Arquimedes, que no banho descobre como resolver um desafio matemático lançado pelo rei.

Ora, por pouco tempo que seja, não desperdiçar um não fazer nada de nada.

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