Ursula Von der Leyen e Charles Michel (a ordem protocolar não é esta, mas a ordem de peso político é) foram ao Japão e acabaram a falar da China. A propósito do 5G, dos Balcãs Ocidentais, do Pacífico, do Sahel, de África, das ameaças à cadeia de abastecimento e, em geral, do impacto das “dinâmicas chinesas” em tudo isto. A China e a Rússia fizeram exercícios militares depois do começo da guerra na Ucrânia. No Japão já se discute, com enorme objecção, a remota possibilidade de o país ter armas nucleares. O Japão, de Hiroshima e Nagasaki.

É suposto a China ser contra acções que ponham em causa a estabilidade das fronteiras. Por isso, apesar de aliada da Rússia, estaria desconfortável com a invasão. A menos que se note que o que na China se pensa sobre Taiwan não é muito diferente do que Putin disse sobre a Ucrânia, um poucos antes de invadir. A propósito, ou não, Biden parece ter clarificado a posição americana quanto a uma eventual invasão chinesa de Taiwan. Os americanos apoiarão a defesa do governo de Taipé.

Em Bruxelas discutem-se propostas para limitar a aquisição de empresas por entidades estrangeiras apoiadas por estados terceiros (por empresas chinesas, portanto). No ministério da economia do governo alemão, liderado por um liberal, diz-se que o apaziguamento com a China não é o melhor caminho e que os negócios não estão à frente da segurança.

A política de covid-zero do regime chinês mantém as cadeias de abastecimento reféns. Em Bruxelas, as notícias dão conta de diplomatas que suspeitam dos verdadeiros motivos da China. Que sabe o impacto na economia dos seus clientes, disso ninguém duvida. E que sabe que deste lado se fala em reduzir a dependência, também sabem porque, ao contrário dos regimes autoritários, os nossos são bastante transparentes.

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A inflação, que aquece com a guerra, a subida do preço da energia, a falta de alimentos e de produtos habitualmente vindos da China, levará finalmente o Banco Central Europeu a subir as taxas de juro. O efeito em países com muitas poupanças será certamente diferente do efeito em países, como Portugal, com muita dívida pública e privada.

A suspensão das regras do déficit vai manter-se. Mas a realidade também. Alguém, em algum momento, pagará essa dívida (porque isso de a dívida não se pagar, se gerir, é uma maneira de dizer que é eterna, não que é inexistente).

A Europa pode não deixar de consumir petróleo e gás russos amanhã, mas a decisão de mudar de energias está tomada e vai acelerar.

Os europeus vacinam-se pela quarta e quinta vez e deitam fora vacinas fora de prazo. No resto do mundo ainda faltam vacinas. Dar estas seria obviamente mais fácil do que libertar patentes e depois eles que as fizessem. Mas nem uma coisa, nem outra.

A comida, os cereais, que nuns casos os russos destroem, noutros impedem de sair da Ucrânia, destinar-se-iam, em grande parte, aos países mais pobres e populosos, do Egipto ao centro de África. Onde se tem fome mais rapidamente. E de onde se emigra quando se tem fome.

Ao mesmo tempo que a Finlândia e a Suécia decidem aderir à NATO, a Comissão Europeia veio propor que os Estados membros comecem a fazer compras de defesa em grupo. Não é o embrião do exército europeu, é a consagração da tese do contributo das indústrias da defesa para a reindustrialização.

A autonomia estratégica, de que os franceses tanto gostavam e que até há uns meses era, entre outras coisas, uma tentativa de concorrer com chineses e americanos no digital, agora é pensada em termos de redução de dependência face à China.

Ninguém sabe o que se passa no interior do regime russo. Nem na cabeça dos oligarcas ou dos siloviki.

Em Paris, em Roma e nalguns corredores de Bruxelas fala-se de mudanças institucionais, inclusive mudar Tratados, se necessário for, para ter listas paneuropeias a concorrer ao Parlamento Europeu, aprovar tudo por maioria, acabando com a unanimidade onde ainda subsiste, nomeadamente na política externa.

Em Portugal?