Nos idos do ano de 2020, com o país aturdido pelo sufoco pandémico, tornou-se recorrente um discurso mais ou menos desnorteado vindo lá das bandas do socialismo, procurando difundir a ideia de que a necessária intervenção do Estado subjacente à crise que então vivíamos representava uma derrota do liberalismo face ao socialismo.
Seguindo a melhor tradição socialista no recurso intensivo à propaganda e aos “chavões” esvaziados de qualquer fundamentação válida, repetia-se pela enésima vez a angustiante estratégia de camuflar a falta de ideias ou soluções para os reais problemas que nos afetam, recorrendo a um conjunto de mensagens insólitas, enquadradas no universo do absurdo, visando unicamente gerar a confusão na comunidade.
A retórica assumia-se ainda mais inusitada sendo propagada por personagens, governantes de um país, que por qualquer “brisazita” estende de imediato a mão, a pedir a habitual esmola aos países que são expoente das políticas liberais.
Em lado nenhum alguma vez foi dito que os liberais querem acabar com o Estado, ideia que frequentemente se induz em tais mensagens.
A crise económica decorrente da pandemia, do mesmo modo que os contextos económicos que emergem das guerras que caracterizam o nosso atual quotidiano, constituem cenários de excecionalidade, que devem exigir ao Estado um papel central na gestão de todo o processo, seja em países liberais ou socialistas.
O que é absolutamente essencial é que os Estados sejam robustos, bem estruturados e tenham gorduras acumuladas no decurso do seu processo económico normal, que só as economias liberais têm demonstrado conseguir gerar. Estados preparados para, em crises extremas, poderem agir em auxílio da sua população o mais eficazmente possível.
É exatamente esta capacidade que os estados socialistas, e em particular o estado português, demonstram não possuir, limitando-se a desesperar pela ajuda dos suspeitos do costume.
A emergência da reforma fiscal
É nesta necessidade de consolidar estruturas e promover uma construção devidamente alicerçada e robusta de todo o sistema económico que surge a emergência da reforma fiscal.
Portugal tem uma das economias mais endividadas da Europa. Estado, empresas e famílias vivem num cenário de riqueza fictícia. Uma falsa realidade que é parte da explicação dos baixos níveis de crescimento, das recorrentes bancarrotas e do permanente recurso à ajuda da UE.
Incapaz de captar ou promover o investimento necessário e gerar dinâmicas económicas adequadas, o país endivida-se, numa tentativa tosca de compensar a incapacidade de gerar riqueza, mantendo a ilusão com padrões de vida que efetivamente não podemos ter.
É esta lógica que tem de ser drasticamente alterada, sob risco de vermos aumentar a frequência e intensidade das falências e de a UE perder a paciência e nos remeter para um estado de catástrofe.
Não há crescimento sem investimento. E não é possível captar investimento em níveis ótimos, gerar melhores salários e fixar talento com uma política fiscal hostil às empresas e ao rendimento do trabalho.
Daí a urgência de uma reforma fiscal séria, com incidência de facto na redução do IRC e IRS, mas deixando que o dinheiro fique na economia e não que seja sugado por malabarismos fiscais, em nada alterando o atual enquadramento.
Uma política fiscal que promova a ativação dos fatores de multiplicação dos valores investidos, permitindo o reinvestimento da riqueza gerada e que viabilize o consumo das famílias através da poupança e não pelo recurso ao endividamento.
Altera-se desta forma todo o paradigma. O país alicerça-se no crescimento, substituindo o excessivo endividamento e gerando riqueza real em substituição de uma qualquer coisa ficcional.
A política fiscal que constituí um dos alicerces das propostas liberais é o passo necessário para a construção da economia robusta que tanto ambicionamos, mais e melhor preparada para enfrentar os ciclos económicos negativos. Não há outro caminho e a Europa está cheia de exemplos de sucesso.
O que as sucessivas crises que temos vivido deixaram muito claro é que o modelo socialista só sobrevive com as permanentes e substanciais ajudas dos países com economias mais liberais. São esses estados que, sempre melhores preparados para os embates das crises de grande dimensão, vêm frequentemente em auxílio dos Estados socialistas.
Que seria de nós sem a bazuca dos liberais do centro e norte da Europa?
E mesmo assim!