Maggie Oliver foi a polícia de Manchester que contou, em 2012, o que se passava em Rochdale. Graças à sua coragem para furar a auto-censura institucional, começou a fazer-se justiça. Hoje, todos sabem os crimes horríveis que acontecerem na pequena cidade do norte de Inglaterra. Entre os anos de 1990 e, pelo menos, 2013, raparigas menores, entre os 11 e os 16 anos, foram violadas frequentemente por homens de origem paquistanesa em restaurantes e casas particulares. Já houve 10 inquéritos e relatórios sobre o que se passou, já foram vários homens presos, e políticos demitidos.
Depois de tantos inquéritos, relatórios, condenações e demissões, por que razão o tema voltou a dominar a política britânica, tendo sido o tema dominante do debate parlamentar de ontem? É óbvio que o facto de Elon Musk falar sobre ele conta. Mas é um erro reduzir a discussão aos comentários de Musk. Isso só serve para esconder os verdadeiros problemas. A causa imediata foi a moção parlamentar do partido conservador a pedir um novo inquérito nacional, o qual foi recusado pela maioria trabalhista.
Há três razões que levaram os conservadores a pedirem um novo inquérito. Uma é mais substancial e as outras duas são mais políticas. Em primeiro lugar, há sinais suficientemente fortes que as violações de Rochdale aconteceram em pelos menos outras 50 cidades britânicas, maioritariamente no norte de Inglaterra e no País de Gales. Os conservadores querem saber se é verdade e o que aconteceu. Os trabalhistas argumentam que é mais importante prevenir que estes abusos se repitam no futuro do que saber o que se passou no passado.
Isto leva-nos à segunda razão. Tal como em Rochdale, a maioria dessas cidades são governadas por autarcas trabalhistas. Aliás, muitos dos deputados trabalhistas não estiveram presentes na votação de ontem no parlamento porque sabem que os seus eleitores locais querem um novo inquérito.
Mas uma nova investigação seria má para os trabalhistas e para o governo por duas razões. O actual PM, Keir Starmer, foi um dos responsáveis do Ministério Público britânico entre 2008 e 2013, e há quem diga que ajudou a cobrir abusos em autarquias trabalhistas. O PM, obviamente, nega e é verdade que iniciou o processo que levou aos julgamentos dos criminosos de Rochdale. No entanto, numa questão com esta gravidade o PM deve estar acima de qualquer suspeita.
Mas estes casos de abusos também questionam os serviços sociais, muitos deles também liderados por trabalhistas. A verdade é que a esquerda britânica não foi capaz de proteger miúdas indefesas, muitas delas a viver em orfanatos e em casas de acolhimento.
Isto leva-nos à última razão que explica a moção dos conservadores. Rochdale e abusos semelhantes destroem a ideia do multiculturalismo britânico defendida pelas esquerdas. Um país onde homens de origem paquistanesa violam raparigas menores inglesas não é um exemplo de convivência multicultural. Ora, os conservadores estão a lutar pela sua relevância política e precisam de se defender do novo partido de Farage, o “Reform”. Se não fossem os conservadores a pedir uma nova investigação nacional, teria sido o Reform a fazê-lo.
Os trabalhistas atacam a líder conservadora, Kemi Badenoch, por adoptar a agenda radical e anti-imigração de Farage (é igual em toda a Europa). Mas esse não é o verdadeiro problema, e os trabalhistas sabem isso muito bem. A tragédia trabalhista foi que em nome de um fracasso, o multiculturalismo, a cultura política trabalhista impôs a censura em muitas instituições britânicas e, pior ainda, abandonaram as filhas mais pobres e órfãs das classes trabalhadoras. Por quanto mais tempo continuarão os partidos de esquerda a abandonarem os mais desfavorecidos, os mais pobres e os menos educados, os seus eleitores tradicionais? Shame on them.