Meus amigos, para quem ainda tinha dúvidas sobre a postura inatacável do conselheiro de Estado, Francisco Louçã, a última Convenção do Bloco de Esquerda esclareceu-as integral e definitivamente. Isto porque, no dito certame, garantiu Louçã:
“Com esta força do Bloco, Portugal tem agora a certeza de que não voltaremos a ter a maioria absoluta que protege a desigualdade social, nem a direita voltará ao Governo.”
Ora, aí está. A direita voltar ao Governo, um dia? Isso é que era bom. É que nem pensar. Com Francisco Louçã não há cá alternância democrática para ninguém. Não, não. Com Louçã não se alterna coisa nenhuma, pá. Não contem com este menino para o alterne.
A propósito, uma adivinha. Porque é que Francisco Louça só anda de transportes públicos? A quem respondeu “Porque considera que o automóvel é o símbolo máximo da lógica depredadora do capitalismo e o principal entrave à justiça climática e equidade ambiental”, duas questões. Primeira: hã? Segunda: vejo que nunca leu uma crónica minha. Bem-vindo, caro leitor. E foi, desde já, um gosto. Pois suspeito que, findo este parágrafo, não voltarei, nunca mais, a vê-lo. Bom, mas retornando à adivinha “Porque é que Francisco Louça só anda de transportes públicos?”. A resposta é óbvia. Porque tem nojo de ser proprietário de coisas, claro, para mais de coisas como um veículo automóvel, que possui uma peça a que se chama “alternador”. E, como já sabíamos, Louçã abomina tudo o que tenha a ver, mesmo que remotamente, com alternâncias.
E com esta adivinha, para grande desgosto de todos vós, estou certo, esgotei o portfólio de adivinhas que metem Francisco Louçã. Ou, pelo menos, o portfólio de adivinhas para as quais sei a resposta. Resta-me um enigma para o qual, confesso, não tenho solução. Que é o seguinte. Como pode um indivíduo que deseja profundamente a não existência de alternância democrática, ser conselheiro de Estado de um país que se diz (quer dizer, acho que ainda se diz. Ainda se diz?), lá está, democrático. Dá ideia de não fazer muito sentido. Mas não sei. Vai-se a ver e nas reuniões do Conselho de Estado, sempre que é chamado a opinar, diz Francisco Louçã: “Bom, o meu conselho é que haja ainda um bocadinho menos de democracia. Estamos a caminhar no bom sentido, mas creio que conseguimos fazer ainda muito pior. Melhor, queria eu dizer. Melhor.”
Já que falamos de democracia, é obrigatório referir a sua palavra geminada, Bielorrúsia. Parece que houve para lá qualquer coisa na Bielorrúsia. Acho que não foi nada de mais. Foi só um avião de um país da União Europeia, que fazia um voo entre duas cidades da União Europeia, a ser desviado por um estado terrorista para o seu território, para efeitos de captura de um jornalista que, porventura, será condenado à morte, ou similar. Até aqui, tudo normal. O que espantou foi a reacção do actual Presidente do Conselho da União Europeia, António Costa. Então não é que o nosso Primeiro-Ministro condenou o terrorismo de Estado da Bielorrússia. Quem diria que António Costa gostava de condenar terrorismos. É que, ainda há dias, Costa teve oportunidade de condenar o terrorismo levado a cabo por um efectivo grupo terrorista, o Hamas, e optou, antes, por condenar o Estado democrático vítima desse mesmo terrorismo, Israel. Desta não estava à espera, confesso.
Quem também reagiu de forma assertiva a este caso foi Ursula von der Leyen, muito peremptória na condenação dos actos perpetrados pelo governo de Alexander Lukashenko. Fontes próximas da Presidente da Comissão Europeia garantem que a diplomata ficou tão furiosa com o desvio do avião da Ryanair, que chegou a confessar um plano para, na próxima cimeira UE/Bielorrússia, partir uma cadeira na cabeça de Lukashenko. Caso lhe cedessem uma cadeira, claro.
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