A única coisa que alguém pode dizer neste momento em favor do primeiro-ministro – e, por tabela, do Presidente da República – é que ninguém quer estar na pele deles. Lamentavelmente, esperasse-se o que se esperasse dos meses de confinamento e de calamidade, o certo é que o «novo normal» da pandemia se está a revelar uma catástrofe quando a própria Espanha, aqui ao lado e com 4,5 vezes mais população, tem os mesmos óbitos que Portugal e menos «novos casos» de contaminação, ao ponto de o número de internados no SNS voltar a cerca de 500 com as inevitáveis consequências de recusa de consultas e de cirurgias!

Dirão as autoridades que isto era previsível e tentarão limitar o novo surto à Grande Lisboa, aos desmandos dos jovens nas praias e festas nocturnas e dos trabalhadores obrigados a deslocar-se nos transportes públicos, ameaçando-os com a polícia… Infelizmente, poderia parecer de início que se tratava disso, mas não era o caso: nem a Grande Lisboa «são só 15 freguesias», como diz o PM e repete o PR, nem é viável o cerco que se pretende a fim de a «controlar» com os seus 2,5 milhões de habitantes a norte e a sul do Tejo, mas também o Algarve e o próprio Alentejo, sem falar do aumento dos «novos casos» no Grande Porto.

Pior que isso são as notícias do «Observador» com um título algo enganador acerca dessas «antecâmaras da morte» que são os «lares de idosos» com 113 – e não 26 – «casos» em dois «lares» de Caneças, além de 63 «idosos» e profissionais num «lar» no Alentejo, e não sabemos quanto mais pessoas nos últimos dias.

Tão importante como isso, se não mais, devido ao refechamento do circuito, é o regresso do Grande Porto ao aumento de novos contaminados. Ou seja, depois de ter recuado por motivos partidários perante a ideia correcta de «cercar» o Porto – assim como Lisboa, como sugeri na altura – a fim de cortar, por assim dizer, a inevitável migração do vírus de Norte para Sul e vice-versa, o governo pretende agora «cercar» a maior zona urbana do país, que entretanto já se estende ao distrito de Setúbal com perto de um milhão de habitantes…

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Tudo isto era possivelmente inevitável e só o optimismo profissional dos funcionários do Ministério da Saúde é que pretendeu ignorá-lo para andar agora a correr atrás do prejuízo. E este já se adivinha. Graças a uma boa campanha de propaganda inicial no estrangeiro, o governo pretendia fazer do turismo barato e de alguma construção civil a mola de arranque de um milagre económico caseiro que nos salvaria de uma crise mais brutal do que qualquer das anteriores. Era assim que o PM e o PR esperavam sobreviver politicamente enquanto a União Europeia não se põe de acordo acerca da dimensão, da duração e da cobertura desse gigantesco «bodo aos pobres» do qual pouco se ouve aliás falar.

Se jamais aí se chegar, nem que seja reduzindo o montante e o prazo, ao mesmo tempo que exigindo algum juro a pagar, o acordo europeu de «renascimento económico» não existirá tão cedo… Entretanto, haverá eleições em que só os partidos pensam e o governo não tem mais nada com que acenar sem ser o engodo do turismo barato, vergonhosamente consagrado no aluguer dos estádios portugueses à «Taça dos Campeões», mas os novos «surtos» ameaçam a perda de clientes cada dia que passa…

Tão mau ou pior, falta o dinheiro necessariamente gasto desde o confinamento para acorrer a situações como a do chamado «Novo Banco», o qual deveria ter sido fechado de uma vez por todas há anos e julgados os seus donos, gerentes e padrinhos. Em ponto mais pequeno, o mesmo se passa com a TAP, que já há 20 anos o PS, de cujo governo fazia então parte o actual PM, só não a vendeu à Swissair porque esta faliu antes, como é capaz de acontecer agora à TAP… E mais pequeno ainda, uma das poucas empresas importantes da economia real como a EFACEC, cuja aquisição pela Eng.ª Isabel dos Santos foi saudada pelo actual PM, parece condenada a não sobreviver ao saneamento financeiro a que vamos todos ser submetidos muito em breve!

Neste ambiente político-partidário de pura fuga em frente perante as duríssimas realidades que estão aí e que o vírus não deixará mudar muito ou mesmo nada, já que não depende das artes mágicas da DGS, seria tempo que o PR e o PM, hoje mais unidos do que nunca no mar alto da crise, dissessem o que vão fazer daqui até aparecer o dinheiro da UE e, tão importante ou mais, até surgir a vacina contra a Covid-19!