A entrevista que Catarina Martins concedeu à Rádio Observador é uma excelente oportunidade para dissecarmos algumas incoerências no discurso do BE. O trabalho não é fácil devido ao baixo grau de exigência com que há anos se aceita, sem contraditório, as afirmações que o Bloco profere com a impetuosidade própria dos que não gostam de ser contrariados. Ora, como eu tenho um gosto particular em contrariar pessoas que odeiam ser contrariadas decidi-me a dedicar a crónica desta semana à entrevista de Catarina Martins.
Uma das afirmações dignas de registo da líder do BE é a de que “a direita está fora de jogo” (29m30s). Para o exemplificar, Catarina Martins refere que em 2019 já não se discute a privatização das estradas e dos caminhos-de-ferro. Para o BE o assunto está encerrado. Afirmação que peca por falsa. Na verdade, o assunto não está encerrado e por uma razão muito simples: é que a dívida continua lá. Fazendo uso de um truque muito habitual, a líder do BE confunde não se falar de um problema com a inexistência deste. O que não é a mesma coisa como todos sabemos, a própria Catarina Martins incluída.
Outro exemplo que Catarina Martins vai buscar para sustentar que a direita está fora de jogo é que já não se fazem cortes nas pensões e nos salários. Pois não. Como é a esquerda que está em jogo o que se fazem são cativações no Orçamento de Estado que põem em risco o SNS. Um pormenor que não é somenos. Um detalhe que Catarina Martins esquece mas que é da máxima importância pois revela a habilidade ilusionista do BE a par com o reconhecimento de que o problema da dívida pública tem consequências nas políticas públicas. A líder do BE sabe (embora não o diga) que o social-comunismo que quer para Portugal precisa de dinheiro e que esse dinheiro falta. A geringonça não foi apenas uma prova de perícia de diferentes partidos (cada vez mais semelhantes), mas um equilibrismo ideológico que não tem muito mais para onde se virar.
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