Esta semana a União Europeia anunciou um novo pacote de sanções à Rússia, incluindo uma proposta para acabar com as importações de combustíveis até ao final do ano. As sanções já afetam compras e vendas de bens incluindo os tecnológicos, o setor financeiro, o serviço de pagamentos, indivíduos e famílias próximas de Putin. Para além das sanções, várias empresas multinacionais saíram Rússia e existe um esforço concertado entre vários países para reduzir drasticamente as importações energéticas da Rússia.
Esta acumulação de sanções sem precedentes, apesar da retórica do Kremlin, já tem e continuará a ter um efeito significativo na economia.
É certo que, até agora, a Rússia tem conseguido manter uma certa estabilidade cambial, devido a medidas draconianas do Banco Central, incluindo aumento das taxas de juros para reduzir o consumo e investimento e controlar a saída de dinheiro. A tentativa de obrigar os países importadores de gás russo a pagar em rublos serve o mesmo propósito. Estas medidas permitiram que o rublo ande a negociar em máximos de dois anos face ao dólar.
Mas a capacidade de estabilização não é ilimitada, até porque as medidas para estabilizar o Rublo podem ter um efeito devastador na procura interna.
O novo pacote, especialmente o embargo às importações de combustíveis, será especialmente penalizador. As importações da União Europeia de combustíveis minerais vindos da Rússia representavam em 2021 cerca de 12% do PIB Russo. Existe o receio, não infundado, que entre o tempo do anúncio e a implementação efetiva da medida o aumento dos preços desses produtos possa beneficiar a Rússia no curto prazo. Ainda assim, o efeito da redução da quantidade deverá ser superior ao efeito de preço. Nas primeiras semanas da guerra a Energy Intelligence estimava que as exportações de combustíveis da Rússia tinham reduzido um terço. O anúncio feito esta semana pela Comissão Europeia deverá contribuir, desde já, para reduzir a procura de combustível russo, devido ao receio que deixe de ser transacionável rapidamente. Uma parte da redução da procura dos países ocidentais será colmatada por outros países, especialmente a China, mas provavelmente a preços muito inferiores.
Para além dos efeitos sobre a procura, os efeitos sobre a oferta são também consideráveis. Por exemplo, as sanções causaram uma queda brutal das exportações para a Rússia. No caso da Alemanha, desceram mais de metade só em março. Para além dos efeitos de curto prazo, a proibição de material tecnológico e a vaga de emigração para fora da Rússia, sobretudo dos mais jovens, terá um impacto duradouro sobre a capacidade de inovação do país.
O efeito das sanções sobre o decorrer da guerra poderá ser lento, mas o enfraquecimento da economia russa, bem como da capacidade de continuar a financiar a guerra e lançar novas ofensivas, é real. E se a redução do poder bélico russo é necessário e urgente, a Europa e o Ocidente precisam de se preparar para as consequências necessariamente negativas para todos da instabilidade económica e política da Rússia nos próximos anos.