A Maria nasceu em 1960. Aos 20 anos sabia que os seus pais tinham mais do que duplicado o seu rendimento ao longo da sua ainda curta vida (mais 157% de rendimento per capita a preços constantes – Pordata). O futuro era risonho!

O Manuel nasceu em 1980. Quando fez 20 anos, na passagem do milénio, tinha presente que os seus pais tinham quase duplicado os seus rendimentos enquanto o viram crescer (mais 82%). O futuro era risonho!

A Sílvia nasceu em 2000. Vinte anos depois, quando fez 20 anos, os seus pais ganhavam apenas pouco mais (6%) do que na data do seu nascimento. O futuro já não se afigurava risonho. Muito provavelmente terá uma vida pior do que a dos seus pais.

O Rui foi um bom aluno e acabou com sucesso o seu mestrado numa escola de referência nacional, com um Erasmus pelo meio. Foi convidado para uma multinacional presente no mercado português. Ofereceram-lhe um salário aliciante para a realidade portuguesa. Também recebeu uma proposta para ir trabalhar para outro país da Europa, país claramente liberal, com um valor bruto substancialmente superior, o que, associado a uma fiscalidade mais amiga, proporcionou-lhe um ordenado líquido cinco vezes superior. Já não sabe se voltará um dia para Portugal. Exceto para férias, claro!

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A Luísa vive numa zona suburbana, oriunda de uma família da classe média-baixa. Estudou apenas em escolas públicas, medíocres, da sua área de residência. Não teve liberdade de escolher uma escola melhor. Nem pública, nem privada. Os seus pais não tinham condições para lhe proporcionar uma melhor educação, seja a opção por uma escola melhor, explicações privadas ou escolas de línguas, neste caso porque a sua professora de Inglês faltava frequentemente. Como não era boa a Matemática, entrou numa faculdade menos exigente. Acabou o seu curso, é estagiária numa empresa de contabilidade. Ganha 750 Euros brutos e não tem grandes perspetivas. Não sabe quando conseguirá sair da casa dos seus pais, mesmo contando com o ordenado do seu namorado, que é do mesmo nível.

O Nuno cresceu num bairro social conhecido pelos seus problemas de delinquência. Andou na escola do bairro, com professores sempre a mudar. Não acabou o secundário. Mas “portou-se bem”, ao contrário de um seu amigo que está atualmente a cumprir uma pena leve. Acha que poderia ter ido mais longe, ter estudado mais, como alguns dos seus amigos do clube onde pratica futebol, que vivem noutro bairro e andaram noutra escola, que sabe ser melhor. Está desempregado e pondera recorrer ao RSI. Não tem perspetivas de melhorar a sua vida económica.

Acima temos exemplos da realidade portuguesa nas últimas décadas. Uma década de ouro no crescimento económico proporcionada pela adesão à EFTA e contemporânea com uma conjuntura internacional favorável (mas contemporânea também com um regime iliberal e ditatorial). Após alguns desmandos iniciais decorrentes do período revolucionário, décadas de crescimento económico alicerçadas na abertura à Comunidade Europeia e em políticas algo reformistas. Seguidas de mais de duas décadas caracterizados por uma estagnação, com um crescente peso do Estado, défices frequentes, explosão da dívida pública e outras políticas inimigas do crescimento económico. Aliada a esta falta de crescimento económico, temos a emigração, a elevada fiscalidade, a falta de escolha na educação e a “guetização” de bairros sociais…

Um elevador social que não funciona e que urge inverter com outras políticas!