Ninguém duvida, nem o PSD, que o PS vai ganhar as eleições de Outubro do próximo ano. Resta saber se a vitória será absoluta ou relativa. De qualquer modo, quase toda a gente dá como adquirido que Costa continuará em São Bento até 2023. Não estou convencido que António Costa fique mais quatro anos como PM, sobretudo se não conseguir vencer em Outubro com maioria absoluta. Daí o fantasma de Guterres, que abandonou o governo a meio da segunda legislatura.

Convém recordar que, desde o 25 de Abril, o PS nunca governou mais de seis anos seguidos. Nunca conseguiu estar no governo durante duas legislaturas seguidas. Guterres foi PM entre 1995 e 2001, não concluindo o segundo mandato. Sócrates chefiou o governo entre 2005 e 2011, abandonado São Bento com a chegada da bancarrota. Aliás, o cumprimento integral das legislaturas corresponde, mais ou menos, a cerca de metade da vida do regime democrático. Assumindo que Costa termina esta legislatura, serão 24 em 45 anos de democracia. Mas o mais extraordinário é o facto do PS nunca ter terminado a segunda legislatura. Conseguirá António Costa fazer o que até agora nenhum líder do PS fez? Esta é uma das questões centrais dos próximos anos da política nacional.

Podemos interpretar a incapacidade dos socialistas de governarem mais de seis anos seguidos com explicações conjunturais. Guterres perdeu as eleições autárquicas de 2001. Sócrates foi obrigado a chamar a troika. Mas há explicações mais profundas e mais importantes. E são essas que indicam que Costa não terminará a próxima legislatura em São Bento.

O PS só se tornou verdadeiramente um partido de governo com Guterres. Até 1995, só chefiou o governo durante quatro anos, sempre com Soares, entre 1976 e 1978, e entre 1983 e 1985. O PS Guterrista que foi, no essencial, o PS Socrático (apesar de Sócrates, uma personagem que não se compara com qualquer outra) e continua a ser o PS de Costa, desenvolveu dois traços fundamentais no modo como exerce o poder e como se relaciona com os portugueses.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Os governos socialistas não dão más notícias aos portugueses. Com eles só boas notícias. Foi assim com Guterres, com Sócrates e agora com Costa. Aliás, com Guterres e com Sócrates foram boas notícias quase até ao fim. Subitamente, tudo acaba e os socialistas abandonam o poder. E quando se vão embora, há sempre factores externos a explicar o fracasso socialista. Com Guterres foi o “pântano”, termo nunca explicado e que é ainda hoje um dos maiores mistérios da história política nacional. Com Sócrates foi obviamente a crise financeira.

A incapacidade de dar más notícias e de assumir responsabilidades por erros cometidos impedem o PS de governar durante tempos difíceis. Estão no governo enquanto o ciclo económico é favorável. Mas os períodos de crescimento económico não duram sempre e quando chegam ao fim afectam uma economia frágil e vulnerável como a portuguesa. Foi assim entre 1995 e 2001, entre 2005 e 2011, e assim será entre 2015 e 2021. A economia europeia e global já está a arrefecer e a tendência será piorar a partir de 2019. Os melhores anos, após 2014, estão a chegar ao fim. Não estou a dizer que se vai repetir o desastre de 2011. Isso não irá acontecer. Mas o PS não precisa de troikas para abandonar o governo, como se viu com Guterres.

O segundo traço do PS é o anti-reformismo. Os socialistas são ferozes e eficazes a ocuparem o Estado. Desde 1995, construiu-se em Portugal um ‘Estado socialista’. Qualquer reforma profunda levaria essa construção socialista ao fim, o que obviamente o PS nunca fará. Sem um programa reformista, o PS não tem políticas para governar durante oito anos. Chega ao limite da sua capacidade governativa em cinco, seis anos. Poderia disfarçar essa incapacidade com políticas de investimentos públicos, mas a situação económica e financeira do nosso país não o permite.

Os governos socialistas duram enquanto os ciclos económicos são favoráveis e enquanto podem dar boas notícias aos portugueses. Quando os bons tempos acabam, e sem programas reformistas, o PS nada tem a fazer no governo, vai-se embora e deixa o trabalho difícil para a direita. Nada nos últimos três anos sugere que o PS de Costa seja diferente do que foi com Guterres e com Sócrates. Quando vierem os tempos difíceis, e eles acabam sempre por chegar, Costa abandonará São Bento. Se não tiver maioria absoluta, será muito fácil arranjar um bom pretexto e descobrir os culpados. Quem anda por aí a pensar em acordos com um governo socialista minoritário, vá-se preparando.