A reacção dos dirigentes socialistas à morte de Otelo Saraiva de Carvalho não tem nada a ver com o passado de Otelo mas sim com o presente e sobretudo com o futuro do PS: os socialistas não se concebem fora do poder e para tal precisam do BE e do PCP. Apresentarem-se como parte de uma enlutada frente antifascista não foi um erro dos dirigentes dos PS foi sim um sinal dos novos tempos.

A unanimidade da esquerda na morte de Otelo permitiu ao PS, PCP e BE encenar uma concordância que nunca existiu entre eles no passado mas que agora lhes é indispensável. Afinal para dominar Portugal nos próximos anos já não são necessárias revoluções, basta controlar os dinheiros que vêm de Bruxelas e para isso as esquerdas têm de estar senão coordenadas pelo menos focadas no essencial: o poder.

Em 2021, Otelo tornou-se o rosto possível para preencher o folclore antifascista com que o PS, o BE e o PCP nos distraem da realidade e vão domesticando a sociedade. Otelo morto tornou-se o “controverso” útil dos que levam a cabo o plano de operações para a toma do aparelho de Estado pela esquerda. Por agora, está a ser cumprido com absoluto sucesso.

A 29 de Julho, uma nota emitida pela Presidência da República informava que “O Presidente da República decidiu submeter a fiscalização sucessiva de constitucionalidade, o disposto no artigo 6º da Lei nº 27/2021, de 17 de maio, que aprovou a Carta Portuguesa dos Direitos Humanos na Era Digital”. Portanto a 29 de Julho, Marcelo tem dívidas sobre a constitucionalidade do artº 6º. Ora o mesmo Marcelo a 8 de Junho não tinha dúvida alguma sobre a constitucionalidade do mesmo artigo 6º: a meu ver não tem nada de inconstitucional. Foi assim que eu o promulguei.” — declarou aos jornalistas num passeios pela Madeira.

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Quando o Tribunal Constitucional se pronunciar Marcelo lembrará que tinha razão. Basta-lhe recordar a sua declaração de 8 de Junho ou de 29 de Julho.

 A coisa chegou envolta no papel de embrulho das notícias boazinhas como é costume nestes assuntos: Governo cria 500 vagas no superior para alunos de escolas em zonas desfavorecidas”. Podia pensar-se que o melhor apoio aos alunos das zonas desfavorecidas seria garantir-lhes melhores escolas e melhores professores. Mas não, reservam-se-lhes umas vagas em cursos superiores em que entram apesar de menos preparados. Por outras palavras, a cadeia do desfavorecimento mantém-se porque só por milagre conseguirá acabar o curso em que lá entrou deste modo.

Note-se que os alunos que vão usufruir destas vagas ao abrigo do Plano Nacional de Combate ao Racismo e à Discriminação são provenientes do programa Territórios Educativos de Intervenção Prioritária (TEIP). Complicado? Nem por isso. Há todo um mundo de programas e planos que visam alegadamente combater as desigualdades e ajudar os desfavorecidos mas cujos resultados práticos são muitas vezes o contrário do anunciado. Por exemplo, como é que os alunos que beneficiaram do programa Territórios Educativos de Intervenção Prioritária (TEIP) acabam a precisar depois de um tratamento especial ao abrigo do Plano Nacional de Combate ao Racismo e à Discriminação? E depois deste qual é o plano que se segue? Vão ter um plano para entrar no mercado de trabalho? Outro para lá se manterem?…

Para mais à questão dos “desfavorecidos” junta-se agora a questão étnico-racial. Ao ler-se o Plano Nacional de Combate ao Racismo e à Discriminação depara-se com uma sucessão de declarações paternalistas, anúncios de propaganda e ideologia a rodos devidamente ministradas em acções ditas de formação. É o activismo devidamente sustentado pelos contribuintes. Quanto aos desfavorecidos continuarão a sê-lo.

O Presidente da República recebeu os comentadores do programa Circulatura do Quadrado em Belém para apontar ao Governo na Segurança Social e na narrativa quanto à pandemia. Na noite de verão desta quarta-feira, Marcelo abriu a varanda do Palácio de Belém à Circulatura, para receber José Pacheco Pereira (que chegou a ser seu vice-presidente no PSD nos anos 90), António Lobo Xavier (seu conselheiro de Estado) e a líder parlamentar socialista, Ana Catarina Mendes —) que foi concordando com Marcelo —, com a moderação habitual de Carlos Andrade.” — Nada nisto bate certo: é a líder parlamentar que uma vez por semana deixa de ser líder parlamentar para ser comentadora; são os políticos que foram comentadores, caso de Marcelo e também de António Costa, a optarem pelos seus colegas comentadores-políticos em detrimento dos jornalistas para fazerem declarações; é o PR que, incapaz de ter um discurso claro enquanto presidente, veste a pele de comentador para, explicam os jornalistas, mandar recados. Tudo isto se tornou banal em Portugal mas não o devia ser.