Esta semana, no que a temas de crónica diz respeito, continua a ser muito difícil fugir ao Hamas e Israel. Mais difícil só mesmo o Hamas fugir a Israel. Tanto é que, segundo consta, as forças armadas israelitas já eliminaram o líder dos atentados de 7 de Outubro.

O que, em princípio, seria uma notícia perfeita, não fosse o caso desta estirpe de troglodita apreciar imenso falecer. O que deixa sempre aquele sabor agridoce, tipo, “eh pá, sim senhor, fez-se o que tinha de ser feito, mas a verdade é que o gajo esticou o pernil radiante”. Pena dar essa última satisfação a um destes facínoras. Enfim, resta o consolo de acreditar que para esta espécie de antropóide, melhor que falecer ainda é chacinar bebés.

Consolo não mais pequeno é termos a garantia de que, em Portugal, as estruturas estão “naturalmente preparadas para tentar enfrentar” o terrorismo. Quem o diz é um grande especialista em terrorismo. Ou melhor, é um homem que uma vez, lá fora, escutou parte de uma conversa entre especialistas, que lhe pareceu versar o tema “terrorismo”. Mentira, é um indivíduo que tirou uma selfie com um iraquiano suspeito de terrorismo, em Arroios. Falo de Marcelo Rebelo de Sousa, claro.

O Presidente da República foi mais longe no que ao acalmar os portugueses diz respeito, recusando qualquer especulação que associe o terrorismo com as migrações. Os portugueses ficaram logo mais descansados. Com especial destaque para os portugueses com conhecimentos modestos de geografia. Que terão concluído que “Chechénia”, local de origem do assassino que matou um professor em França na passada sexta-feira, é um bairro nos arredores de Paris, e que “Tunísia”, sítio de onde proveio o terrorista que matou duas pessoas em Bruxelas anteontem, é o nome de um hotel de 2 estrelas, com águas correntes, quentes e frias, a cinco minutos a pé do Parlamento Europeu.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Tranquilizados em relação a este tipo de atentado terrorista, por cá vamos-nos entretendo com o Orçamento do Estado para 2024. Que, à sua maneira, é também ele um atentado. E com várias vítimas. A saber: a nossa inteligência, a justiça e, como é óbvio, a carteira. Carteira que, caso conseguisse falar, já não conseguia exprimir rigorosamente nada, de tanta bordoada levar, desgraçada.

Ainda assim, a bolsa que vá abrindo os cordões para pagar o aumento do Imposto Único de Circulação, que será agravado para os carros mais velhos. Ah, pois, temos de ir buscar dinheiro a quem está a acumular dinheiro. Nomeadamente esses magnatas que se passeiam para aí, ufanos (e a arfar, tantas são as vezes que o carro só pega de empurrão), nos seus Renaults 5 GTL Laureate de 1984. Exibicionistas dum raio. Podiam perfeitamente aproveitar a benesse do governo para abater carros antigos e comprarem, sei lá, um Tesla Model S Plaid. Mas não, preferem fazer-nos pirraça ao volante dos seus potentes Fords Escort MK4 de 1989. Sacanas.

Bom, mas nem tudo são péssimas perspectivas para a economia portuguesa nos próximos tempos. Por exemplo, a Web Summit está à porta, e este ano, sim, acredito que vá ser um certame falado a nível mundial. Há pelo menos uma razão para esperar isso: o facto de Israel ter boicotado o prestigioso evento, na sequência de declarações do CEO da Web Summit, que a embaixada israelita considerou ultrajantes. Entretanto, Paddy Cosgrave já veio pedir desculpa, mas não creio que tenha de se preocupar com o sucesso da feira. Afinal, a relevantíssima comunidade internacional de empreendedores da área tecnológica que costuma reunir-se em Lisboa para a Web Summit vem mais é para ouvir a Cristina Ferreira.