De acordo com os jornais e televisões na primeira audiência geral deste ano, o Papa Francisco teria dito que é melhor ser ateu que ir à igreja e odiar os outros. Achei estranho que o Papa tivesse afirmado tal coisa, porque dito dessa forma daria a entender que os ateus, contrariamente aos cristãos, não odeiam os outros. Assim, tive o cuidado de procurar as verdadeiras palavras proferidas pelo Papa. Foram estas:
“Quantas vezes vemos o escândalo criado por aquelas pessoas que vão à igreja e ficam lá todo o dia, ou vão lá todos os dias, e depois vivem odiando os outros ou falando mal das pessoas. Isto é um escândalo! É melhor não ir à igreja: vive assim, como ateu. Mas, se vai à igreja, viva como filho, como irmão, e dê um verdadeiro testemunho, não um contratestemunho”.
https://www.youtube.com/watch?time_continue=4&v=HCB4EjA8hGk
Não é a primeira vez que as palavras deste Papa são deturpadas para que façam ricochete contra a Igreja e os cristãos. Trata-se de um comportamento que agrada a uma certa esquerda que ainda tem atravessada o papel de João Paulo II na derrocada das ditaduras comunistas. Para tal, nada melhor que um Papa questionar aquilo em que os católicos acreditam, pô-los em xeque e dizer que os outros, entre os quais essa esquerda se incluiria, são o exemplo a seguir. A verdade, no entanto, é que o Papa não disse nada disso. Não disse que se quem é cristão odeia os outros deverá passar a ser ateu deixando, dessa forma, de odiar. Pelo contrário, o que afirmou foi que se é para odiar não vale a pena ir à Igreja. Que se é para odiar mais vale ser ateu porque para o Papa Francisco, por muito que nos custe compreender, os ateus têm tendência a odiar. Ao contrário dos cristãos que, se forem verdadeiros cristãos, têm tendência a amar.
Hesitei em escrever esta crónica porque, até pela idade que tenho e pelas experiências que felizmente passei, não me revejo totalmente na Igreja tal como esta se encontra estruturada. Sem me querer arrogar de qualquer conhecimento teológico, ciência que domino muito pouco para não dizer que não domino de todo, posso definir-me como um católico com um entendimento próximo do de Morris West. Como podem ver sou uma pessoa simples nesta matéria. Mas se há algo que me custa aceitar e que me levou a escrever sobre este assunto é a deturpação sistemática dos factos e das palavras para que se atinja um fim. E a forma como tal está a ser feito sempre que o Papa Francisco fala é um excelente exemplo do cuidado que todos nós devemos ter quando lemos as notícias que nos servem de bandeja.
Advogado