E começou o julgamento do caso Banco Espírito Santo/Grupo Espírito Santo. Já? Perguntam vocês. Ah, pois é. Uma escassa década após os factos, inicia-se o julgamento do maior escândalo dos últimos – serei simpático – 50 anos em Portugal. Sem contar, como é óbvio, com aquele longo período durante o qual Pauleta foi o melhor marcador da história da selecção nacional à frente do Eusébio, até o Cristiano encerrar, em princípio para todo o sempre, o assunto.

Mas se detectaram ironia no “escassa década” acima, têm os vossos ironiómetros demasiado sensíveis, pois falava sem vislumbre de sarcasmo. Neste país, mais do que os grandes julgamentos não terem fim, na sua esmagadora maioria não chegam sequer a começar. Este, pelo menos, já principiou. Bem bom. Comam o que têm no prato e não façam fita, se fazem favor.

Quem pareceu pouco interessado em juntar-se a este festim indigesto é o principal acusado no processo, Ricardo Salgado. A defesa do ex-líder do BES/GES bem tentou alegar problemas de Alzheimer do seu cliente para extinguir, ou suspender, o processo, mas a juíza não foi na conversa. Realmente, era o que faltava. Por o principal arguido poder não recordar factos do processo, não tentar de tudo para termos um vislumbre de justiça para aqueles que, por mais Alzheimer de que padecessem, jamais esquecerão as provações deste desastre.

Bom, desanuviemos deste desastre nacional, com um continuado desastre internacional. Refiro-me à ONU, claro. Ora, o que é que a organização supremamente liderada pelo de facto engenheiro de entre os ex-primeiros-ministros socialistas, António Guterres, aprontou desta vez no Médio Oriente? Mais uma muito gira. Depois da revelação de que a organização da ONU para os refugiados palestinianos, UNRWA, não passa de uma espécie de Casa do Hamas em Gaza, desta vez o exército israelita descobriu, no Líbano, túneis para armazenamento de munições do Hezbollah construídos a escassos metros de quartéis das Nações Unidas. Também é mais um caso da ONU a dar tiros nos pés. Mas é mais o caso da ONU ter aos seus pés munições com que o Hezbollah dá tiros a civis e tropas israelitas e não reparar em nada que espanta.

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Poderão vocês perguntar: “Túneis? Mas que tipo de túneis? Se calhar são túneis daqueles tipo os que fazemos na praia, em que cada mão escava de um lado até se encontrarem, para gáudio da pequenada. E talvez o Hezbollah usasse esses túneis para armazenar chumbinhos calibre 4,5mm, para afugentar gatos vadios de quintais, ou assim”. Hum… Não. Os túneis de que estamos a falar são túneis cuja construção seria tão difícil de ignorar como a de uma nova estação de metro na vossa sala de jantar estando vocês no quarto. Mesmo que com a porta trancada.

A propósito de barulhos que não se podem ignorar, não posso ignorar o barulho provocado pelas declarações do primeiro-ministro relativamente aos jornalistas. Na apresentação do plano de apoio aos media o primeiro-ministro disse ficar “impressionado” com perguntas supostamente “sopradas” aos jornalistas, e criticou o ritmo “ofegante” do jornalismo. Alguém maldoso poderia assinalar quão sinistro é o primeiro-ministro referir, para mais na apresentação de apoios aos órgãos de comunicação, ser fã de jornalistas mansos. Mas como não contam comigo para maldades, assinalo apenas como isto terá soado a qualquer ser humano possuidor de ouvidos. Estas palavras sopradas por Luís Montenegro soam a backvocals de um Augusto Santos Silva, ou até – por que não? – de um José Sócrates.

É o que dá termos um PSD que parece querer ser o PS. Enquanto o PS tem vontade de ser o Bloco de Esquerda. Bloco do Esquerda que é o que o Livre gostava de ser no seu mundo de sonho. E nós a vivermos neste pesadelo.