“Em 2013, no Caramulo, depois de o CDS ter mudado a estrutura operacional da ANPC, um incêndio lavrou durante 10 dias”, relembrou esta semana João Galamba. Depois do que aconteceu no ano passado, com a desorganização na Proteção Civil a ter consequências fatais para a população portuguesa, o deputado acredita-se ainda no pedestal para falar de incêndios, criticando mudanças na ANPC antes da época dos fogos quando foi precisamente isso que o PS fez nas vésperas do verão de Pedrógão Grande. Além da habitual infantilidade de evocar um governo que acabou há três anos para defender um que vai a eleições para o ano, Galamba mostra outra coisa: o Partido Socialista não aprendeu nada com os incêndios de 2017.
Costa, com a propaganda ensaiada para as redes sociais, simulando um centro de comando de telefone em riste, “em contacto” com entidades que não existem e com um noticiário televisivo como referência, foi outro exemplo de como, para estes senhores, tudo serve para fazer política. “Monchique é a exceção que confirma a regra do sucesso”, congratulou-se o primeiro-ministro. A mim choca-me sempre como é que alguém que é filho e pai consegue ser capaz de tamanha insensibilidade. Elaborar alegorias entre desastres e “bolos de aniversário” não prova a tontice de António Costa; prova que nos toma a todos por tontos. Os cerca de 300 algarvios deslocados para fugir às chamas terão certamente uma perspetiva distinta, tanto das suas alegorias como da sua suposta “regra do sucesso”. O primeiro-ministro, assim como depois de Pedrógão Grande e de 17 de outubro, falhou em entender que os incêndios são tragédias para assumir a falha do Estado – não para reclamar sucessos do governo.
“É extraordinário ninguém ter morrido”, ouviu-se também. Mas quantos não perderam uma vida inteira? Eu, que vi Pedrógão de perto, lembro-me das aldeias evacuadas; das senhoras de molduras ao colo para não perderem os retratos de família, as fotografias de cabeceira a passarem de mão em mão. Eram os pertences que preferiam trazer quando forçadas a abandonar a sua casa. Nem roupa, nem mobília, nem nada de acessório. Eu lembro-me: do fumo, traziam as molduras. Traziam memória. Sinceramente, não tenho problema algum em reconhecer as adversidades climatéricas e a desorganização histórica que vai dos comandos da Proteção Civil à falta de meios dos bombeiros. Mas tenho elevada dificuldade em admitir que um primeiro-ministro falhe moralmente ao povo que serve. Relativizar a perda que se viveu esta semana em Monchique foi cometer essa falha. Sobretudo, foi repeti-la menos de um ano depois.
O PSD, por sua vez, lançou um novo design para os seus cartões de militante.