O acordo de coligação governamental entre o PSOE e o Unidos Podemos é mais um passo na revolução política que está a acontecer nos principais países europeus. Os partidos radicais e anti-sistema passaram a fazer parte da ordem política democrática. Já não se volta atrás. Resta saber o que acontecerá às democracias europeias e à própria União Europeia.

Mas ninguém julgue que as coligações governamentais com partidos populistas e radicais é um exclusivo da esquerda. Hoje é o Unidas Podemos; amanhã será o Vox. Ou seja, Pedro Sánchez acabou de abrir a porta do governo espanhol ao Vox. Veja-se, por exemplo, a reação à decisão de Sánchez do antigo líder socialista e PM espanhol, Filipe Gonzalez. E a direita espanhola, ao contrário da portuguesa, não se impressiona com as pressões e as chantagens da esquerda.

Aliás, o voto no Parlamento português contra a equiparação entre o Fascismo e o Comunismo não tem nada a ver com a verdade histórica (desde quando as extremas esquerdas se preocupam com a verdade?). O voto, sobretudo o do PS, é por causa do futuro. A colocação do comunismo ao mesmo nível do fascismo tornaria futuras geringonças ou mesmo coligações governamentais com o Bloco ou com o PCP muito mais difíceis. Ao mesmo tempo, o voto é consistente com o esforço de domesticação da direita ameaçando-o com a etiqueta “fascista”. Dito de um modo mais simples, o PS quer contar com o Bloco e com o PCP para governar, mas quer impedir que no futuro o PSD conte com o Chega para uma maioria parlamentar.

De resto, no Parlamento Europeu o PS e o PSOE votaram a favor da equiparação entre o comunismo e o fascismo, juntamente com o seu grupo socialista. Em Bruxelas, os socialistas portugueses (e os socialistas espanhóis) aceitam que o totalitarismo comunista foi tão sinistro e violento como o totalitarismo nazi e fascista, mas nos seus países votam contra. Esta duplicidade mostra que o PS e o PSOE tudo farão para estar no governo, até coligações com aqueles que os seus camaradas europeus consideram iguais aos fascistas.

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Voltando a Espanha, o resultado eleitoral foi um desastre para Pedro Sánchez. Perdeu deputados, viu o PP iniciar a sua recuperação eleitoral e está dependente dos independentistas catalães. O que se advinha será um governo mais radical e prejudicial para a economia espanhola – o Unidas Podemos não vai para o governo sem uma fatura. O resultado imediato será a diminuição do investimento externo, o qual foi fundamental para a recuperação da economia espanhola nos últimos anos.

Por outro lado, a situação na Catalunha vai agravar-se, radicalizando ainda mais as posições dos independentistas. Se não fizer concessões, Sánchez não terá maioria parlamentar. Se as fizer, perde apoio entre muito do eleitorado socialista moderado. De duas uma, ou Sánchez não consegue construir uma maioria parlamentar, o acordo com o Unidas Podemos acaba, e ficará dependente do PP para governar em minoria, e até os populares decidirem enfrentar de novo o eleitorado. Ou conseguirá uma maioria com o apoio dos Catalães, e o seu governo será dominado pela questão da Catalunha.

De qualquer modo, daqui a um ano ou em 2021, haverá uma nova eleição em Espanha. Se isso acontecer, depois de uma coligação com a esquerda radical, e com os Catalães, o PSOE perderá o voto moderado e do centro para o PP. Como mostraram as últimas eleições, em Espanha, a esquerda está a baixar e a direita a crescer. Só um golpe de génio de Sánchez (altamente improvável) ou um acontecimento absolutamente inesperado, evitará que o futuro governo espanhol seja uma coligação entre o PP e o Vox. Mas foi Sánchez e o PSOE que mataram o velho regime da democracia espanhola, e estabeleceram um novo regime.