De duas uma, Rui Rio é um génio político, ou é o pior líder que alguma vez o PSD conheceu na já sua longa história. Se é um génio, e levanto a possibilidade porque ele tem atitudes que ninguém tem, a sua genialidade ainda está por se manifestar. Por isso, inclino-me mais para a segunda hipótese: Rui Rio é politicamente muito fraco.

No momento em que, com o fim da geringonça, o PCP e o Bloco fecharam as portas ao PS de Costa (o PS de Pedro Nuno Santos é outra coisa), Rio abriu ao primeiro-ministro uma outra porta para continuar em São Bento. Em vez de atacar Costa sem descanso, em vez de o confrontar todos os dias, Rio lembrou-se da ideia peregrina de recuperar o bloco central. Está disponível para durante dois anos apoiar um governo minoritário socialista. Como é óbvio, as ideias do bloco central ou de cooperação entre os dois maiores partidos favorecem quem está na frente, o PS. Quem está em segundo, o PSD, tem que confrontar e que combater para passar para primeiro. Se mostrar disponibilidade para ajudar o PS, Rio provoca os seguintes efeitos: o eleitorado flutuante do centro não tem qualquer razão para mudar o seu voto. Uns continuarão a votar no PS e os outros, os mais zangados com o PS, não se deslocam às urnas. Além disso, um Rio aliado do PS empurra muito eleitorado de direita para o Chega. António Costa e André Ventura têm um ponto em comum: ambos desejam fortemente que Rio continue na liderança do PSD.

Na verdade, se for reeleito líder, Rio não será candidato a PM, mas sim, na melhor das hipóteses, a vice-PM. Será a primeira vez que o PSD não terá um candidato a primeiro-ministro (bom, a segunda vez, a primeira foi em 2019). No caso de continuar a liderar o PSD, a estratégia de Rio é bem clara: passar dois anos como vice-primeiro-ministro para manter a liderança do PSD até 2024. Depois logo se vê…

Tudo isto significa que, para satisfazer as suas ambições, Rio está disposto a acabar com o PSD como um grande partido de governo. Com o PSD reduzido a uma muleta dos socialistas, o grande beneficiado será o Chega. Na política o espaço vazio será sempre ocupado, e em democracia haverá sempre uma alternativa. Se o PSD deixar de ser a alternativa ao PS, aparecerá outra, o Chega. Sei que muitos no PSD dão a grandeza do seu partido como um dado adquirido e consideram impossível um cenário onde o Chega se torne no maior partido de direita.

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Esses militantes deveriam ser mais cautelosos e olhar com atenção para o que se passou nos últimos anos em Itália e em França. Em Itália, já aconteceram duas grandes mudanças na direita desde o fim da Guerra Fria. No início dos anos de 1990, os democratas cristãos foram substituídos pelo partido de Berlusconi. Durante a segunda década deste século, a Forza Itália de Berlusconi ficou reduzida a menos de 10%, e a Liga de Salvini passou a ser o maior partido de direita. Em França, nos últimos cinco anos, os republicanos, herdeiros do movimento Gaullista, foram substituídos pelo partido de Marine Le Pen na liderança da direita francesa. E até Eric Zemmour, sem partido, está à frente dos candidatos republicanos.

Os militantes do PSD não podem ter qualquer dúvida. Os partidos grandes deixam de o ser, e os partidos pequenos crescem. E por vezes isso acontece rapidamente. O que está em causa nas eleições no PSD, no dia 27 de Novembro, é a condição de maior partido do centro para a direita em Portugal. Com a sua política colaboracionista em relação ao socialismo, a renovação da liderança de Rio acabará com o PSD como um grande partido. Pelo contrário, se Rangel ganhar a sua prioridade será confrontar o poder socialista. Nesse caso, o PSD continuará a ser um grande partido; e o Chega um pequeno partido. Compete aos militantes do PSD decidirem.

PS: A decisão de Rui Rio de não fazer campanha nas eleições no PSD mostra, antes de mais, falta de respeito pelos militantes do seu partido. Como pode alguém liderar um partido sem respeitar os seus militantes?

Ainda pior, é mais um exemplo das dificuldades de Rio de lidar com os processos democráticos. Desde a sua concordância para acabar com os debates quinzenais no Parlamento até aos pedidos de adiamento de eleições, Rio mostra que os seus instintos não são os de um grande líder democrático. A natureza autoritária de Rio é muito perturbante para quem lidera um grande partido.