Há uma série de coisas que, dizem, fazem com que um homem seja considerado fantástico. Ser muito bem sucedido, ser muito bem educado, ser alto, ter um corpo atlético, ser extremamente cordial, ser muito corajoso ou brilhante de tão inteligente. Nenhuma dessas coisas é uma missão muito fácil – e elas pesam, sim, nos ombros de muitos homens mundo afora.
Mas um dia desses, eu estava assistindo Queer Eye (para quem não sabe, Queer Eye é uma deliciosa série protagonizada por cinco homens gays, especialistas em áreas diferentes – um designer, um psicólogo, um chef, um estilista e um barbeiro/cabeleireiro – que vão ajudar pessoas – geralmente homens heterossexuais – a saírem de situações de vida ruins, deprimentes, tóxicas) e percebi uma coisa na qual nunca tinha pensado.
Percebi, assistindo a esse programa, que poucas coisas me emocionam mais do que homens expondo as suas vulnerabilidades. Homens que choram por causa da sua obesidade, homens que dizem que estão apavorados porque suas filhas vão casar e estão com medo de perdê-las, homens que se emocionam com um implante dentário e voltam a sorrir, homens que admitem ter medo da solidão, homens que dizem que sonham em encontrar um amor.
Essa série é linda sobretudo por isso. Porque mostra que não são só os gays (e todas as mulheres do mundo) que sofrem com uma sociedade machista. Todo mundo sofre com uma sociedade machista. E mostra que a gente pode mudar algumas pequenas coisas. Mostra que homens choram, se sentem inseguros e têm medo – e isso é bom.
Lembrem disso, amigos homens. A parte mais fantástica de vocês não é ser bem sucedido, ou musculoso, ou valentão. A parte mais fantástica de vocês é aquela que admite o medo de barata, de rato ou de altura, que fica com olhos marejados com vídeos do The Voice, que fica com a voz embargada para falar da filha que tanto ama, que fala sobre as suas inseguranças físicas, que fala sobre os seus sonhos, sobre mágoas e corações partidos.
Como bem disse Xico Sá, os machões dançaram. Já não há espaço para eles. Estamos em 2020, já é hora de entender que esse padrão tóxico de masculinidade não faz bem aos homens, nem agrada à imensa maioria das mulheres. Homens que riem de si mesmos são mais divertidos. Homens que acolhem seus sentimentos são pessoas melhores de se conviver. Homens que choram são homens reais.
A parte mais fantástica dos homens é, frequentemente, aquela que eles mais tendem a oprimir – ou o que o mundo costuma dizer que eles têm a obrigação de oprimir. Não caiam nessa cilada. Sejam quem são. Ser vulnerável não é ser fraco, ser vulnerável é ser de verdade. E não há coisa melhor do que gente de verdade.