O tempo que vai durar o conflito, a sua dimensão, abrangência e intensidade são os factores determinantes para o impacto que vai ter nas nossas vidas. Mas a violência do conflito desencadeado pelo Hamas contra Israel tem já a dimensão de uma tragédia que se vai agravar.
Pelas mensagens das duas partes, o que está para acontecer pode ser ainda mais terrível. Benjamin Netanyahu afirmou que “Israel vai mudar o Médio Oriente”. Do lado do Hamas promete-se executar um refém por dia de cada vez que Israel atingir alvos civis em Gaza.
Temos de nos preparar para o pior do que podemos imaginar numa guerra. E podemos ter de nos preparar mesmo para o pior dos impactos, nas nossas vidas que pareciam tão integradas num mundo global em paz há pouco mais de três anos.
Desde a pandemia que os acontecimentos se precipitam em catadupa, alterando o mundo aberto e pacífico, como o sentíamos no Ocidente desde o fim da segunda guerra e especialmente desde o colapso da URSS. Estamos a viver o redesenho do mundo, a criação de uma nova ordem com novos equilíbrios, Até lá, até ao novo equilíbrio, tudo promete ser difícil.
A guerra aberta entre Israel e o Hamas vai fragilizar ainda mais as economias ocidentais. Foi o conflito de 1973, a guerra de Yom Kippur que agora completa 50 anos, que conduziu àquilo que ficou conhecido como o primeiro choque petrolífero, na sequência do embargo de fornecimento de petróleo por parte dos países árabes ao Ocidente. Assim se interrompeu o longo período de prosperidade ocidental que durava desde o fim da segunda Guerra Mundial. Viveremos mais um choque em 1979, na sequência da revolução iraniana e depois da guerra entre o Iraque e o Irão.
Pode este conflito ter os mesmos impactos? Não sabemos. A interrogação está fundamentalmente no Irão, se será ou não envolvido no conflito, depois das informações que o têm dado como estando por trás da organização do ataque do Hamas a Israel.
De uma coisa podemos estar certos: vai ter efeitos no sentido de abrandar ainda mais a economia, no mínimo pela degradação da confiança e respetivo aumento da incerteza. Há certamente decisões de investimento que vão ser adiadas, reforçando uma tendência que já está instalada na Europa. A subida do preço do ouro em 1% pode ser um reflexo desse refúgio em ativos mais seguros, como sempre acontece em momentos de turbulência.
Um efeito mais significativo vai depender do que acontecer aos preços do petróleo e do gás. Na primeira reacção, o petróleo subiu 4% para 88 dólares o barril e o gás natural europeu aumentou 14% para 43 euros por megawatt hora.
Num quadro de abrandamento económico, sem que a inflação tenha ainda dado sinais de estar completamente controlada, um novo choque energético significará novas subidas nos preços da energia com uma nova onda inflacionista. Um desafio para os bancos centrais que, face ao seu mandato, terão inevitavelmente de continuar a subir as taxas de juro.
As perspetivas de abrandamento da economia europeia podem transformar-se numa recessão com subida de preços, numa crise muito semelhantes à que vivemos na segunda metade da década de 70 do século XX. A guerra no Médio Oriente acrescentou nevoeiro aos tempos conturbados que estamos a viver.
Numa altura em que os países, incluindo Portugal, preparam os seus orçamentos do Estado, todas a prudência é pouca. A tal folga, por via dos impostos gerada pela inflação, pode desaparecer num ápice se de repente as empresas e no nosso caso, por causa do turismo, as famílias começarem a ter medo do futuro.