Depois de anos a vermos serem catalogados como desequilibrados mentais nos jornais, rádios e televisões, os autores de atentados que matam e mutilam por essa Europa fora, temos agora em Portugal o caso de um jovem desequilibrado que logo passou a ser tratado como terrorista. Sim, os mesmíssimos meios de comunicação que se desdobram em alegados, possíveis, aspas e quiçás perante atentados executados por gente adulta, ligada em redes e fundamentando em ideologias e crenças a sua decisão de matar o próximo, não duvidam estarmos perante um terrorista no caso de João, o aluno da Faculdade de Ciências de Lisboa detido na passada semana após as autoridades terem detectado a sua intenção de atentar contra a vida de colegas.

Não ponho em causa o acerto e a fundamentação da decisão das autoridades policiais mas daí para a frente tudo me parece desproporcionado e insólito. Há uma pergunta que não consigo deixar de fazer: o que levou a todo este alarde em torno de um atentado que não aconteceu?

Chamo a atenção para que a publicidade dada à detenção do estudante da Faculdade de Ciências é não só de uma desproporção absoluta como vai contra a prática habitual nestes casos, mesmo quando se esteve perante terroristas de facto, como aconteceu por exemplo em 2004. Recordo que em 2004 a PJ e o SIS tinham recebido informações sobre um grupo ligado ao terrorismo islâmico que estaria em Portugal a preparar um atentado para a cerimónia de abertura do Euro 2004. O jogo inaugural no estádio do Dragão ou o jantar na Alfândega do Porto seriam os momentos escolhidos para o atentado.

Quatro horas antes do Euro 2004 começar, a PJ avançou e deteve quatro pessoas. Três delas foram expulsas de Portugal. Um dos expulsos era nada mais nada menos que Mohammed Bouyeri, um muçulmano com nacionalidade holandesa e marroquina, que meses depois de ser expulso de Portugal assassinou na Holanda o cineasta Theo van Gogh.

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Não pode ser maior o contraste entre a reserva da operação levada a cabo em 2004 perante terroristas de facto e o estardalhaço presente face a um miúdo com problemas de natureza emocional. Escusado será dizer que o termo terrorista foi sempre usado com parcimónia em relação a Mohammed Bouyeri! Pelo contrário João de imediato foi o terrorista. O terrorista para português ver.

Porquê? Não sei. Tal como não sei porque há uma semana o comando da GNR de Santarém achou por bem cortar a A1 para fazer uma simples operação Stop. Mandar encostar algumas viaturas é coisa do antigamente. Agora corta-se a auto-estrada.

O que mais iremos ver?

Um banco é um estabelecimento que nos empresta um guarda-chuva quando faz sol e o pede de volta mal começa a chover. E em Portugal os bancos (por recomendação do Banco de Portugal) já estão a pedir o chapéus de chuva. A quem? Aos futuros pensionistas.

Por outras palavras o Banco de Portugal já está a tomar medidas para evitar os problemas que os enormes cortes nas pensões de reforma dos actuais contribuintes da Segurança Social vão trazer aos bancos. Como? Diminuindo os prazos nos empréstimos do crédito à habitação. Os empréstimos a 40 anos passaram à história, ou melhor dizendo fizeram parte da história das gerações de eleitores cujo voto foi para quem lhes garantiu que as suas pensões nunca seriam mexidas, ou seja os socialistas. Já os empréstimos a 30 anos, logo com prestações mais altas, é o que a partir de Abril deste ano aguarda aqueles que agora vão comprar casa.

Os bancos procuram deste modo garantir que no momento em que estes burlados da pax socialista se reformarem com pensões comparativamente muito mais baixas do que aquelas que as suas contribuições agoram pagam, já terão os empréstimos liquidados. Aliás, se assim não fosse, com os cortes que as suas pensões vão sofrer, muitos destes futuros pensionistas seriam incapazes de suportar esse encargo. Mário Centeno, governador do Banco de Portugal, que já mandou pedir os chapéus de chuva aos futuros pensionistas, desmente portanto Mário Centeno que foi ministro das Finanças entre 2015 e 2020 e ajudou a camuflar a burla subjacente à “reversão das medidas da troika”.