Enquanto o Primeiro-Ministro faz passar na comunicação social a ideia de que a «cimeira do Porto» vai resolver algum problema a curto prazo, a DGS criou um «site oficial» sobre o processo de vacinação anti-coronavírus de forma a convencer-nos que está tudo a correr muito bem… Acontece, que ao consultar o «site», este começa mal: está uma semana atrasado! Felizmente, o «Observador» compensa o atraso apresentando dados até 8 do corrente. Mas infelizmente, não indica as vacinações por estratos etários… Ou seja, a dificuldade em saber o que se passa exactamente neste país é tanto mais exasperante quanto as autoridades estatais nos trocam as voltas a fim de camuflar a realidade.

Cruzando os dados atrasados da DGS com os da imprensa, lá se consegue conhecer, com uma semana de atraso, como é que as vacinas estão distribuídas pelas faixas etárias da população. Apesar de os dados da DGS sobre os óbitos por Covid-19 serem imprecisos e sem as necessárias percentagens, lá se consegue saber que a letalidade do vírus está praticamente toda concentrada nas faixas etárias mais idosas, a saber, 65% dos óbitos ocorreram a partir dos 80 anos, 20% dos 70 aos 79 e o resto dos 60 aos 69.

Ora, segundo os dados de Maio, verifica-se que as vacinações completas ultrapassam um milhão, sendo 60% delas dedicadas à faixa dos mais velhos (80+ anos), mas apenas 13% às pessoas dos 65 aos 79 anos. Este conjunto populacional coincide de perto, como era previsível, com o universo dos reformados e pensionistas, os quais constituem, enquanto tal, os destinatários da maior percentagem de recursos públicos. Este último facto é da mais alta significação, como veremos adiante.

Entretanto, o resto das vacinações completas (27%) foi atribuído à população dos 25 aos 64 anos. Relidos os números, verifica-se que 80% da faixa mais velha está definitivamente vacinada, mas só 7% entre as pessoas dos 65 aos 79 anos, sendo o número total de seniores superior a 2,2 milhões de pessoas! Além de mais de um milhão completamente vacinados, há 1,7 milhões de pessoas com uma dose da vacina. Faltam, portanto, um pouco mais de 10 milhões de vacinações para atingir o mínimo de 70% da população exigido, a fim de garantir a imunidade de grupo, e, mesmo assim, sem garantia de 100% de protecção.

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Com efeito, o aumento constante do envelhecimento e a crescente complexidade do estado de saúde de faixas etárias cada vez mais longevas implicam custos cada vez maiores, os quais têm de ser cobertos por uma população activa limitada a 5 milhões de pessoas. Quanto às camadas jovens, serão cada vez mais reduzidas e iniciarão a vida profissional cada vez mais tarde, confirmando o aumento constante do «índice de envelhecimento» nacional, que é dos mais altos do mundo. Numa frase, metade do país trabalha para si e para a outra metade composta de idosos que já não trabalham e de jovens que ainda não trabalham…

Em suma, isto significa que o défice causado pela pandemia e o aumento da dívida para 135% do PIB serão cada vez mais difíceis de recuperar, ao mesmo tempo que contribuirão para esse empobrecimento comparativo da população portuguesa que já se verificava desde o início do século XXI. A menos de uma viragem radical das actuais políticas económicas e sociais, não será a «bazuca» que substituirá a urgência dessa viragem. A presente composição demográfica da população portuguesa é incompatível com as políticas pretensamente populares do PS e dos seus aliados. A mais recente prova disso é o episódio a todos os títulos lamentável da imigração clandestina para a agricultura sazonal da costa alentejana!

Remete-nos isto para o recente encontro dos governantes da UE, concretamente para o falacioso anúncio acerca de uma «Europa social», que aliás já existe no papel, mas é muito diferente de país para país. Em vez de iniciar uma profunda mudança económica, tanto privada como pública, o Governo insiste nos conhecidos «rendimentos mínimos» e nos «subsídios ad-hoc» sujeitos a provas humilhantes ou, pior ainda, sujeitos a nenhuma prova … Algo equivalente se passa com o próprio «salário mínimo», que a «geringonça» transformou numa espécie de «salário médio» isento de imposto de rendimento, em suma, institucionalizando a pobreza a fim de a agitar eleitoralmente contra o «capitalismo»!

Em suma, a vacinação levou tempo a arrancar mas atingiu um ritmo próximo da UE. Resta saber se chegará ao objectivo dos 70% de vacinados antes de a epidemia se reacender. Esperemos que sim. Daqui até lá, pouco ou nada virá da «bazuca». Entretanto, abrirá a caça às «autarquias», mas seria ingénuo pensar que daí virão mudanças. O Governo, infelizmente, não possui um currículo promissor; antes pelo contrário. Se há quem tenha receio de uma «crise política», a verdade é que sem isso não haverá mudanças!