Vivemos numa era onde cada um, desde que queira, dispõe de palco (virtual) para expressar suas opiniões, escrever os seus pensamentos e opinar sobre diversos assuntos. Contudo, essa aparente liberdade de expressão muitas vezes é acompanhada por uma escassez de disponibilidade do público para ouvir, refletir e interpretar as opiniões alheias. Talvez estejamos, sem perceber, a negligenciar um dos mais valiosos direitos conquistados em outras épocas, o direito à liberdade de expressão.

Mas não é só indisponibilidade de empatia na forma como a mensagem é recebida que falha. Falta educação cívica. Falta investir na capacitação da população em geral para sermos cidadãos informados, ativos e responsáveis, que compreendemos o funcionamento da democracia e estamos comprometidos em contribuir para o bem-estar da nossa comunidade e país. Isto inclui o desenvolvimento de competências como o pensamento crítico, a análise de informações, a tomada de decisão e a resolução de problemas relacionados com questões sociais e políticas, a par de outras competências interrelacionais.

Quantas vezes nos deparamos com artigos ou posts simples, fruto de uma opinião legítima, que se tornam um alvo fácil para aqueles que, profissionalmente ou não, buscam desferir ofensas sem qualquer compromisso para construir ou contribuir para acrescentar valor? Basta ler os comentários deixados em resposta a essas manifestações escritas. Muitas vezes, os comentários distorcem tanto o conteúdo original que podemos ser levados a acreditar que o autor disse algo completamente diferente do que queria dizer.

É preocupante também a vertiginosa tendência de polarização que se estabeleceu na sociedade, onde todas as questões são reduzidas a uma dicotomia simplista. Defendemos uma posição e somos automaticamente rotulados como sendo “contra” uma outra, seja ela qual for. Esta tendência é um retrocesso na evolução social, pois reduz questões complexas e multifacetadas a um simples jogo de “nós contra eles”.

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A vida nunca foi somente a preto ou branco como muitas vezes nos querem fazer acreditar. Embora em algumas situações seja necessário tomar partido, na maioria das vezes o mundo é muito mais do que duas gavetas polarizadas. Existe uma vastidão de cores entre o preto e o branco, uma miríade de nuances que só podem ser apreciadas se estivermos dispostos a desconstruí-las.

O medo está a regressar. O medo de ser verdadeiro e de ser mal interpretado, o medo de ser honesto e de ser julgado pelos que procuram o conflito gratuito. É necessário cautela e empatia quando interpretamos as mensagens que nos chegam, ainda mais quando são diferentes das nossas.

Para aqueles que reconhecem alguma verdade no que digo, sugiro que se resguardem. Pensar duas vezes antes de opinar sobre assuntos que não dominamos completamente é sensato. Embora tenhamos o direito à voz, também temos o direito ao silêncio quando necessário. Não vale a pena expormo-nos ao ódio gratuito e ao cancelamento se não nos reconhecermos como experts na matéria em questão, na minha opinião.

Além disso, é essencial fortalecer a educação cívica, para que as atuais e futuras gerações estejam mais preparadas para lidar com a diversidade de opiniões e promover um diálogo construtivo e respeitoso. A liberdade de expressão só é verdadeiramente valiosa quando acompanhada pela capacidade de ouvir e compreender perspetivas divergentes. Aí não haverá máscaras que lhe valham.