Os ataques a Cavaco após as cerimónias do 10 de Junho são muito baixos e deviam envergonhar quem os fez (se ainda lhes sobra alguma vergonha). Um dos grandes mistérios da vida pública portuguesa é a continuidade como líder sindical de uma figura sinistra, sem qualquer pingo de educação e de decência, como o “professor” Nogueira.

Devo dizer que nunca fui um grande entusiasta de Cavaco Silva. As leituras do bom velho “Independente” deixaram marcas. Discordo nalguns pontos importantes da sua combinação ideológica entre social democracia e social conservadorismo. Considero que cometeu erros e não aproveitou oportunidades como Primeiro Ministro. E, talvez o pior de tudo, o “seu” PSD promoveu figuras nada recomendáveis. No entanto, votei muitas vezes em Cavaco e voltaria a votar. Sempre soube distinguir o meu voto das pessoas com quem gostaria de passar um serão agradável e interessante, para recuperar uma velha expressão (além de não dar como adquirido, longe disso, que Cavaco tivesse algum interesse em conversar comigo). A verdade é que aparentemente muitos em Portugal acreditam, sem qualquer pingo de dúvida, que seria um grande privilégio ter a sua companhia para jantar (nalguns casos, um mistério quase tão grande como o do “professor” Nogueira).

Olhando para o percurso político de Cavaco, considero que no essencial esteve correcto. Tem sido um político empenhado no progresso económico e social do nosso país, entende claramente o significado das escolhas fundamentais que foram feitas na década definidora da nossa democracia, entre 1975 e 1985 (e que hoje muitos dos seus inimigos questionam). Além disso, é um político sério e um homem honesto.

Mas há uma razão ainda mais importante por que o devemos defender dos ataques dos seus inimigos mais radicais, pelo menos todos aqueles que são de centro direita e da área não socialista. Há uma estratégia em curso para retirar legitimidade política a futuros presidentes não socialistas. Uma estratégia em que participam activamente, e sem olhar a meios, as extremas esquerdas e os sectores mais radicais do PS, liderados por Mário Soares e José Sócrates. A velha convicção socialista e revolucionária, herdada da I República, de que os socialistas gozam de um direito natural à Presidência da República, junta-se ao ódio pessoal como forma de fazer política.

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E, sobretudo, no caso de Mário Soares, o ódio é evidente. O “pai da democracia portuguesa” não consegue esquecer que os seus dois mandatos como Presidente foram durante o “cavaquismo”. Ou seja, o seu maior sucesso político durante um período que ficará para a história com o nome do seu maior adversário político. Além disso, ele que nunca ganhou uma maioria absoluta como líder do PS e que nunca terminou uma legislatura como primeiro-ministro, viu Cavaco ganhar duas maiorias absolutas e concluir dois mandatos. Para se vingar, regressou numa candidatura presidencial que constituiu a maior violação do ‘espírito’ da nossa Constituição, e foi humilhado. Soares nunca perdoará Cavaco e hoje o seu rancor e ódio são proporcionais ao seu ego e à sua vaidade.

Quem acredita no pluralismo político deve defender Cavaco daqueles que hoje atacam o Presidente para destruir a legitimidade das direitas de elegerem no futuro um dos seus para Belém.