As doenças cérebro-cardiovasculares (DCCV) constituem um dos maiores desafios de saúde a nível mundial apresentando níveis alarmantes de morbilidade e mortalidade. Em Portugal, são a principal causa de morte prematura. Os enfermeiros, pela sua posição privilegiada no sistema de saúde e interação direta com os doentes, desempenham um papel fulcral na prevenção, gestão e tratamento destas doenças.

Como profissionais de saúde na linha da frente, os enfermeiros têm a capacidade única de monitorizar continuamente os doentes, permitindo uma deteção precoce de sinais e sintomas. Esta vigilância constante possibilita identificar rapidamente quaisquer alterações no estado de saúde dos doentes, viabilizando intervenções que podem prevenir complicações graves.

Os enfermeiros são frequentemente responsáveis pela implementação de protocolos que asseguram um tratamento consistente e eficaz. A sua atuação assegura que os doentes recebem uma abordagem de tratamento integrada e personalizada. Além disso, desempenham um papel fundamental no apoio emocional aos doentes e às suas famílias, oferecendo conforto nos momentos difíceis. Este suporte emocional é uma componente fundamental do cuidado holístico, relevando a importância da saúde mental e emocional no processo de recuperação e gestão de doenças crónicas.

Uma das prioridades na prevenção das DCCV é a educação para a promoção de hábitos de vida saudáveis. Os enfermeiros são essenciais na sensibilização da população sobre fatores de risco modificáveis, como a hipertensão, a diabetes, o tabagismo, o sedentarismo e a alimentação inadequada. Programas educativos comunitários liderados por enfermeiros podem aumentar a consciência sobre a importância de estilos de vida saudáveis e do controlo regular dos fatores de risco. Nas escolas e locais de trabalho, os enfermeiros poderiam promover consistentemente a saúde cardiovascular desde cedo, incentivando hábitos alimentares saudáveis, atividades físicas regulares e a cessação do tabagismo.

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A deteção precoce das DCCV é fundamental para evitar complicações graves. Os enfermeiros podem liderar a implementação de protocolos de rastreio nos cuidados de saúde primários e na comunidade, realizando avaliações regulares da pressão arterial, níveis de glicemia e colesterol, além da medição do índice de massa corporal. Podem, ainda, utilizar ferramentas de triagem para identificar indivíduos de alto risco e encaminhá-los para exames mais detalhados e respetivo acompanhamento. Os rastreios eficazes permitem intervenções antecipadas e salvam vidas.

A gestão eficaz das DCCV requer uma abordagem integrada e multidisciplinar. Neste cenário, os enfermeiros atuam como gestores de casos, assegurando cuidados contínuos e coordenados para os doentes. Esta gestão inclui a organização de consultas, monitorização do cumprimento do plano de tratamento e facilitação da comunicação entre os diferentes profissionais de saúde. Tal abordagem holística e centrada na pessoa melhora os resultados clínicos e a qualidade de vida dos doentes.

No tratamento das DCCV, a resposta rápida e eficiente às emergências é fundamental. A atuação dos enfermeiros em situações de emergência, como enfartes agudos do miocárdio e acidentes vasculares cerebrais, faz a diferença. A implementação de protocolos de atendimento de emergência, como a Via Verde AVC e a Via Verde Coronária, iniciadas por enfermeiros, garante uma resposta coordenada e eficiente, minimizando o tempo de intervenção e melhorando as hipóteses de recuperação dos doentes.

Porém, para que estas medidas sejam eficazes, é fundamental que o Governo contrate mais enfermeiros e melhore as suas condições de trabalho, garantindo assim uma resposta de saúde pública mais robusta e eficiente.

Apesar da importância inquestionável dos enfermeiros em qualquer abordagem às DCCV, o Serviço Nacional de Saúde enfrenta uma carência de 14 mil profissionais. Aqueles que não emigraram estão sobrecarregados, muitos em burnout e desmotivados devido a salários, carreiras e condições de trabalho que não refletem as suas competências altamente diferenciadas. É fundamental que esta realidade seja corrigida e os enfermeiros sejam valorizados de forma justa.

Acresce que as competências que os enfermeiros poderiam colocar ao serviço do país também não estão a ser devidamente aproveitadas, por exemplo, na gestão da doença crónica, onde poderiam atuar com autonomia e maior eficiência. Os enfermeiros fazem a diferença com a sua atuação em diversos contextos, mas, infelizmente, ainda não fazem milagres…

Luís Filipe Barreira é bastonário da Ordem dos Enfermeiros desde janeiro de 2024 e doutorando em Enfermagem. Exerceu no Hospital de Braga onde acumulou com funções no Hospital da Santa Casa da Misericórdia de Vila Verde. Foi docente convidado na Universidade Fernando Pessoa e no Instituto Politécnico de Saúde do Norte. Quando foi eleito bastonário, desempenhava funções como vice-presidente da Ordem dos Enfermeiros.

Arterial é uma secção do Observador dedicada exclusivamente a temas relacionados com doenças cérebro-cardiovasculares. Resulta de uma parceria com a Novartis e tem a colaboração da Associação de Apoio aos Doentes com Insuficiência Cardíaca, da Fundação Portuguesa de Cardiologia, da Portugal AVC, da Sociedade Portuguesa do Acidente Vascular Cerebral, da Sociedade Portuguesa de Aterosclerose e da Sociedade Portuguesa de Cardiologia. É um conteúdo editorial completamente independente.

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