Cá por casa, as imagens da Guerra da Ucrânia bateram fundo em nossos corações, pois a visão de senhoras (ainda meninas) com duas e três crianças, algumas ainda com bebés de colo, foram demasiado fortes para nos manter indiferentes ao que se passava, tão longe mas ainda assim tão perto. Para a nossa família foi como que o rebobinar de um filme, de há quase 50 anos. Por decisão familiar havia que dar alojamento a uma ou duas famílias Ucranianas.

Nós os agora avós sabemos bem o desgosto que tivemos quando fomos “obrigados” a abandonar a terra que nos viu nascer e crescer, a grande mágoa e desespero com que os nossos pais viram perdidos em poucos meses as poupanças de toda uma vida ( 50 anos e mais) de árduos trabalhos em terras que amavam e que já tinham no coração  como suas e de onde não queriam sequer pensar em sair, pois as amavam e também se  sentiam estimados. A “sorte” dos meus pais foi terem sido desde sempre funcionários públicos, no topo das suas carreiras de licenciados, tendo trabalhado em diversos locais nos mesmos serviços e já com idade mais do que suficiente para pedirem as suas justas reformas — embora houvesse rumores que assim não seria, eles confiavam que as reformas estavam asseguradas. Muitos pais dos nossos amigos, não tiveram a mesma “sorte”, a de serem funcionários públicos, mas tinham o conhecimento, a experiência de muitos anos de trabalho em suas empresas, fábricas em diversos ramos, em explorações agrícolas e silvícolas embora com dimensões, muito maiores, empregando técnicas e saberes dos mais modernos.

À sua e nossa chegada éramos bombardeados por frases muito pouco amigáveis e injustas, os nossos pais vinham roubar as reformas dos aqui residentes (na Metrópole) e nós, com formação média ou superior, vínhamos roubar os empregos dos Indígenas cá do burgo. Felizmente e para bem de todos e de Portugal no geral, nada disso se passou, bem antes pelo contrário.

Portugal ganhou em pouco tempo côr e alegria e os negócios prosperaram quase todos, os botecos passaram a ser restaurantes, as “vendas” tornaram-se frutarias, os mercados de bairro evoluíram para supermercados, as oficinas de mecânico único passaram a oficinas gerais e especializadas com mecânicos especializados em diversas áreas.

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Em 40 anos Portugal tornou-se completamente diferente, transformando-se num país agradável de viver, muito por obra da vinda dos mal designados retornados, pois alguns eram filhos de portugueses de segunda e terceira geração, nascidos em África e que nunca tinham vindo à Europa, mesmo nas férias, muitos destes, iam gozá-las para outras paragens que não as da Europa. Quando da sua saída precipitada, e na maioria dos casos sem absolutamente nada nas malas, eles só levavam a saudade e nos olhos as lágrimas que ainda caiam. Foi uma bênção dos céus terem na maioria dos casos escolhido Portugal, pois foi uma lufada de ar fresco,que se espalhou de Norte a Sul do País. Também rumaram para o Brasil, África do Sul, Austrália e Macau (a comunidade chinesa de Moçambique) onde a sua atividade foi muito apreciada e bem recebida.

Muitos ficaram pelas grandes cidades, outros e não poucos pelo seu interior de onde eram naturais ou ainda por lá teriam Família. Vieram com uma vontade indómita de vencer na vida, o mais depressa possível, por um lado pela premência de se tornarem independentes no sustento, no calçar e vestir, mas principalmente na habitação. Mas também em muitos casos, com o orgulho ferido tinham necessidade de provarem a si mesmo e aos que tão mal os tinham recebido (até no seio familiar), que eram capazes e muito bem preparados, para o fazerem. Assim foi e ainda bem para todos. Hoje os então “retornados “estão muito bem integrados na sociedade, graças ao apoio divino e ao seu esforço hercúleo.

Agora sem ninguém esperar e como se não bastasse de desgraças, durante a pandemia do Covid aparecem os refugiados da Guerra, os Ucranianos. Fugidos do seu próprio Pais por ter sido invadido pelos exércitos da confederação Russa. Calcula-se em 30 ou 40 mil de Ucranianos, que poderão vir a ter que se instalar em Portugal. Numa primeira vaga vieram mulheres e crianças, as primeiras em idade de trabalho, acompanhadas de algumas Senhoras já na idade de reforma. As crianças algumas bem pequenas, que terão que ser acolhidas em infantários, outras nas escolas básicas, e ainda outras nas secundárias. A grande maioria são pessoas da classe média e média alta com estudos académicos médios e superiores, tendo algumas graduações de carreiras académicas universitárias para o ensino superior.

Assim sendo, de um dia para o outro Portugal ficou com um grande número de profissionais de elevada classificação académica que pretendem rapidamente começar a trabalhar, libertando-se rapidamente, de subsídios e outras benesses, pois sentem-se muito capazes e pretendem demonstra-lo na prática. De anteriores vindas de refugiados Ucranianos as autoridades portuguesas sabem bem  da facilidade na aprendizagem do português e da sua fácil adaptação a todo o tipo de trabalho. Não são por princípio abusadores e reivindicativos aceitando as condições de trabalho que se lhes apresenta, pois assim foram habituados, e agora a necessidade assim os obriga. São portanto uma mais-valia no mundo do trabalho.

Que sejam bem-vindos e que o povo português dê mais uma vez provas de saber acarinhar quem vier por bem. Portugal só terá a ganhar com esta nova lufada de ar fresco e de novas ideias, desta vez não de portugueses mas de Europeus de Leste.

Em resumo: estes refugiados acrescentam mais-valias aos Países onde se venham a instalar, pois para além de uma visão nova da vida possuem formação académica média e superior e muita experiência e veem com vontade férrea de lutar por um lugar ao sol. O número previsto nestas condições ultrapassa em largo o número de licenciados em dois anos das saídas das nossas universidades. Vamos ficar com mão-de-obra qualificada, com muita experiência e sem custos.

Para além disso este grupo vem da sua terra, com vacina bastante e bem reforçada, para rejeitar de forma contundente, todas as manobras camufladas ou não e as manhas de certa esquerda que o PC português ainda abraça e acarinha.