Neste quase meio século de democracia em Portugal, havia pela primeira vez numas eleições legislativas, algo pior do que o voto em branco. Seria colocar uma cruz no quadrado do PESSOAS-ANIMAIS-NATUREZA.

Não faz hoje falta asseverar a profunda ignorância ou o preocupante desconhecimento deste partido, como já foi demonstrado em tantos artigos, como este, este, este, este outro, ainda outro, ou mesmo este, e tantos mais. Aliás, o povo lusitano, povo de tradições, costumes e saber, não quer, na sua tremenda esmagadora maioria, um PAN, como demonstrou o resultado nas eleições legislativas de 2022, onde o partido, mesmo que inscrito no boletim de votos em maiúsculas, como que a implorar desesperadamente pelo voto, apenas conseguiu convencer 3 pessoas em cada 200 a fazê-lo. Pessoalmente, até acho muito.

O PAN envereda pelo populismo fácil, pelo fanatismo ideológico e pela estratégia política ardilosa de apresentar as soluções incorretas, algo “embelezadas”, para alguns problemas certos, às pessoas certas. Por pessoas certas, entende-se os 1.53% da população portuguesa menos informada relativamente aos assuntos tratados pelo partido. Aquilo que observámos de bastante positivo nestas eleições foi uma perda drástica de 47% do eleitorado do PAN. Isto significa, que 1 em cada 2 pessoas, se apercebeu do vazio ideológico do partido em apenas 2 anos e se distanciou.

Devo ainda atentar na frase que escrevi num artigo anterior onde referi “Até ajudo o PAN numa previsão, a partir daí, cada dezena de animais que virmos na sua zona escolhida corresponderá ao número de deputados eleitos em janeiro. Com sorte um, bem contadinho.” De facto, esta previsão foi acertada ipsis verbis.

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Perante a curiosidade sobre esta perda graúda de votos, questionei alguns anteriores votantes do PAN em 2019 e percebi que muitos destes se tinham visto obrigados a abster-se. No Montijo tiveram receio dos abelhões exóticos, em Lisboa não quiseram deixar os cães e gatos sozinhos em casa. Quem salvou a única deputada eleita do PAN foi mesmo a freguesia de Odivelas, que perante tamanha concentração de gente, conseguiram revezar-se para tomar conta dos companheiros.

Os deputados do PAN da legislatura que findou teriam sido total e facilmente ignorados no parlamento, e pela sociedade, não fosse o anterior xadrez político. O PAN é o parceiro político ideal, tal como o burro é um animal de trabalho excecional. Venda-se os olhos, acena-se com uma cenoura e deixa-se andar em frente. Nas pausas, come erva.

E este facto é que é preocupante, quando um irrisório número de deputados que representam apenas 1 ou 2% da população do país, ironicamente citadinos, num partido que tem no nome Natureza, consegue impor as suas desastrosas propostas. Felizmente, a partir de agora, o Partido Socialista poderá, e deverá desatender às ideias do partido.

Na mesma linha, encontramos no programa do PAN a proposta “Suspender a compra e venda de animais de companhia enquanto existirem animais para adoção”. Eu não procurei, mas imagino que no mesmo programa possamos encontrar algo como “Proibir o casamento jovem enquanto existirem quarentonas por casar”.

O partido tem até uma prioridade: “Eliminar os apoios financeiros para exploração de animais de pecuária, redirecionando esses apoios para a agricultura ambientalmente responsável”. A questão que fica no ar é se poderão as empresas da porta-voz do partido (sejam da sua líder, do sogro ou do marido), sobejamente conhecidas pelos atentados contra a natureza, nomeadamente pelo incentivo ao uso de pesticidas, introdução de espécies de abelhão não autóctones em Portugal ou manipulação de animais selvagens para sessão fotográfica, ser incluídas no conceito de “ambientalmente responsável”. Talvez os critérios para esse reconhecimento sejam feitos à medida, um pouco como os incentivos financeiros para empresas agrícolas do Montijo.

O PAN é tão mesquinho que foi capaz de colocar cartazes sobre o evento decorrido na Torre Bela, onde se abateram algumas centenas de animais cujo valor genético não permitia outro fim, tentando, no entanto, esconder em absoluto que o objetivo final desse abate foi a instalação de um grande parque fotovoltaico, não fosse isso esverdear um pouco aquele evento.

Os membros do PAN parecem acreditar que é possível uma transição energética verde sem qualquer impacto ambiental ou ecológico. Ainda veremos o PAN a apresentar uma proposta no parlamento para construção de turbinas eólicas transparentes e que não girem, de barragens que não retenham água ou de parques fotovoltaicos na sombra de um armazém. Honestamente, eu acredito mesmo que o PAN será capaz de propor isto.

A julgar pelo que foi recentemente tornado público acerca da importação de abelhões de subespécies não existentes em Portugal, talvez o PAN quisesse que se soltassem os espécimes de genética duvidosa existentes na Torre Bela no ambiente selvagem de Portugal, algo perfeitamente legítimo para um partido que confunde uma rola-turca com uma rola-comum. Ou melhor, talvez quisessem que se distribuíssem os animais pelas ruas das cidades, atendendo à sua visão romântica e irreal do comportamento animal.

Assistimos ainda recentemente, mais uma vez nas redes sociais do próprio partido, a utilização de dados de forma enviesada de forma a denegrir a imagem do sector agropecuário português. Deixo mais uma vez um ensinamento ao partido, não se utiliza o termo “drogas” para se referir a “fármacos” utilizados em sanidade animal. Mais grave que isto é o partido fazer referência a “hormonas” de forma leviana, correndo o risco de transmitir a sensação de que as mesmas são utilizadas como estimulantes do crescimento animal, sendo de facto proibidas há décadas na Europa.

Inês Sousa Real está totalmente agarrada ao parco poder que resta ao PAN. É a própria antiga deputada do Partido, Cristina Rodrigues que refere que o “PAN […] é incapaz de marcar a agenda política […] com seriedade” e que “gira em volta da líder […] focada nos seus interesses pessoais […] a atirar todo o trabalho […] para a lama”.

Eu iria mais longe, o partido está a ser atirado para a lama, ou já lá está, preso entre estufas e plásticos, entre empresas agrícolas e imobiliárias, intoxicado com pesticidas e, no fim, quando tentar sair de maca, correrá o risco de reação anafilática por abelhões exóticos. Seguindo a minha linha de generosidade social que já ofereci ao partido noutros momentos, recomendo ao PAN que retire a confiança política à deputada eleita, o mais rapidamente possível. Se não o fizerem, daqui a quatro anos serão apenas história. E má.