Com o final das férias, a aproximação do Natal e com a repetida esperança de uma vida nova e melhor no ano seguinte, é natural que os casais se encham de uma motivação e esperança tais que, embrulhadas neste ambiente de produção do neurotransmissor serotonina e hormonas sexuais, desenvolvam uma especial vontade de trazer ao mundo uma criança. Se, à primeira análise, olhando para a pirâmide demográfica em Portugal esta vontade fosse por nós aplaudida, vamos ao longo deste artigo tentar esfriar um pouco estes sentimentos. Em primeiro lugar dizer-vos que em Portugal já não faz sentido falarmos de uma pirâmide demográfica por termos na verdade um verdadeiro hexágono demográfico, com redução até das faces superiores, fruto da mortalidade registada nos últimos anos, apenas justificada em parte pela COVID-19.

Falemos então do propósito deste artigo: terminar com os partos no Verão. Não faz sentido carregar uma barriga pesada pelos meses mais quentes e secos do ano. Já basta não se conseguir dormir pelo calor nas habitações, impedidas de se verem refrescadas pelos aumentos constantes (ora verdade, ora mentira) dos custos energéticos, ainda ter que aliar a isto o posicionamento da barriga durante o sono. Sabemos que uma grávida deve aumentar o consumo de água em cerca de 1 a 1,5 litros por dia (em relação ao normal), principalmente no verão, o que também não é conveniente num país que se vai ver embrulhado nas maiores secas dos últimos 500 anos, sem ter uma verdadeira política de gestão de água. Também não faz sentido que uma grávida, em plena crise energética, se veja obrigada a viajar 150 km até às Caldas da Rainha (nem que fosse por artesanal superstição de ter um filho dotado).

Por todas estas razões e mais algumas de que certamente todos se lembrarão há que impor, pelos famosos despachos de última hora ou por outro mecanismo, que as relações sexuais desprotegidas só possam ocorrer em determinados períodos do ano, evitando os partos durante o verão, as férias do Natal, os festejos do Carnaval e da Páscoa e todos os demais eventos que possam servir de justificação para 1 ou 2 pessoas a menos nos serviços de saúde, que sabemos ser essa a margem ou o fio por que se prendem aqueles e tantos outros serviços do estado. Se nos investimentos falamos em margem de segurança, nos serviços de saúde esta não existe.

Proponho então ao Ministério da Saúde que crie uma das famosas Comissões, ou até que contrate um qualquer Figueiredo desta vida para desenhar escalas de reprodução para as pessoas, eventualmente ajustadas à realidade demográfica regional, com distribuição de lençóis verdes, amarelos e vermelhos por crescente necessidade de crianças, de forma a garantir por modelos matemáticos simples que os partos venham a ocorrer nos momentos favoráveis. Quem sabe talvez faça até sentido criar uma única maternidade do país e, através de uma parceria com os investidores imobiliários, ou reabilitando o parque imobiliário defunto do estado, garantir o último mês de gestação junto a essa mesma maternidade. Ou talvez este artigo seja até só um conjunto de ideias parvas, mas digamos que se no momento em que o país está em profunda crise em vários setores, a televisão portuguesa acha que deve acompanhar ao minuto as eleições de Angola, acho que tenho direito a isto e muito mais.

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