Há cerca de um mês atrás escrevi um artigo intitulado “A missa do sétimo dia” e não poderia estar mais certo sobre o estado moribundo do PAN. Este partido é a prova factual de que os zumbis existem. Estas criaturas estão normalmente associadas a obras de género terror e fantasia, e o PAN é tudo isso. O país clama celeremente por um cartaz de João Cotrim de Figueiredo a afirmar “O PAN não funciona nem faz falta a Portugal”.

Depois de um artigo em que deixei totalmente a descoberto a ignorância ousada deste partido, estava crente de que não precisaria de escrever mais sobre tanta trapalhada, mas ao contrário da minha previsão sobre o número de deputados que o partido elegeria em 2022, errei. O PAN presenteou-nos, neste que é talvez o ano mais triste da história moderna, com mais um exemplo de ignorância ousada, e sobretudo perigosa, dramaticamente perigosa.

Centremo-nos então no “tesourinho” de apedeutismo com que nos brindou a porta-voz do PAN a respeito da posição tomada pela Direção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) relativamente ao cumprimento do Reg. (UE) 576/2013 que tem, como requisitos para o movimento de cães no espaço da União Europeia, a identificação eletrónica (vulgo microchip), a vacinação antirrábica válida e a titulação de anticorpos. Estes procedimentos em conjunto atingem um custo variável de país para país, mas em Portugal o custo situa-se entre os 150 e os 200 euros. A DGAV, INIAV (Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária) e SIAC (Sistema de Informação de Animais de Companhia) uniram esforços e todos estes serviços são disponibilizados aos animais oriundos da Ucrânia, sem qualquer custo, através do Médico Veterinário Municipal (primeira linha de atuação da autoridade competente).

Perante este esforço exemplar das instituições competentes, a porta-voz do PAN apelida-o de “posição incompreensível”, “desumana” e “edifício sanitário” e ameaça com uma manifestação junto às instalações da DGAV. Relativamente aos dois primeiros adjetivos, vamos apenas admitir que estão dentro do nível de moralismo azêmola a que já nos habituou. Quanto ao terceiro, digamos que atribuir à DGAV um adjetivo de edifício sanitário não é nem depreciativo nem elogio, mas é tão simplesmente a constatação de uma verdade estatal. A DGAV é de facto um edifício sanitário, e é imperativo para nós que o seja. Aliás é essa uma das razões pelas quais os vegetarianos, incluindo-se a porta-voz do PAN, podem comer dos vegetais mais seguros do mundo, em Portugal, bem como todos os outros alimentos. Imagino que o PAN tenha a brilhante ideia de passar a responsabilidade da sanidade animal para o Ministério dos Negócios Estrangeiros.

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Passemos então para a linguagem infantil que o PAN tanto aprecia, utilizando a história dos três porquinhos. Um deles até poderia chamar-se Tomás, o tal porco vietnamita que chegaram a classificar de javali, como se alguma parecença existisse. Nem mesmo o número de cromossomas. Perante o movimento de animais da Ucrânia para Portugal, o país poderia adotar uma postura da casa de Cícero, o porquinho que construiu a cabana de bambu e pilhas de lama, ao que parece seria a vontade da porta-voz do PAN. Pelo contrário, poderia adotar uma postura do porquinho Prático que optou por uma casa de cimento e tijolo. Decidiu-se, e bem, pela segunda, mas com uma postura de janelas e portas abertas ao povo Ucraniano, incluindo aos seus animais. E perante isto, resta-nos louvar.

Ora, tal como na história dos três porquinhos, a cabana de bambu seria catastrófica para o nosso país e para o espaço da União Europeia. Portugal é indemne do vírus da Raiva desde 1961 (isto é, não existe circulação de vírus da raiva em Portugal), um vírus responsável por 59 mil mortos anualmente no Mundo, e com uma letalidade perto dos 100 por cento. Este estatuto não pode ser posto em causa por populismos de pechincha de um partido que tem como porta-voz alguém envolvida na importação de abelhões exóticos que ameaçam a viabilidade das nossas espécies autóctones.

O cão poderá ser portador do vírus da Raiva e a Ucrânia é um país de risco neste assunto sanitário de elevada importância. A introdução da Raiva no país seria desastrosa e, perante este cenário, as autoridades competentes deram a resposta necessária, célere e mais adequada. Deixo mais uma vez uma proposta ao PAN: entretenha-se a desenhar pombinhas e tourinhos para os seus cartazes e deixe a sanidade animal para quem consegue, no mínimo, identificar as espécies, coisa que todos sabemos que o PAN não é capaz.